31 outubro 2010

A emoção da vitória

Na Praça de Casa Forte, à tarde, e no Marco Zero, à noite, muita emoção. O abraço afetuoso, a lágrima incontida, a renovada confiança na força do povo.

Como a internet se apropria da política e a política se apropria da internet

Ciência Hoje Online:
Tem ciber nessa política
. Como a internet se apropria da política e a política se apropria da internet? Seminário na Anpocs destaca a importância do tema em um Brasil no qual a participação da sociedade civil e do governo na rede está apenas começando.
. Leia a matéria na íntegra http://twixar.com/J4L5U

Já não dá para tapar o sol com a peneira

. Folha de S. Paulo cai na real e anuncia em manchete de primeira página: “Dilma deve ser 1ª mulher eleita presidente, indica o Datafolha”.
. Bom, agora não dá mais para escamotear a realidade.

Empenho atroz

. Merval Pereira, em O Globo e outros articulistas na grande mídia ainda aproveitam esse domingo para acusar Lula.
. Malhando em ferro frio.

Festa democrática

. São mais de 135 milhões de eleitores voltam às urnas, hoje, para escolher quem deve ocupar a presidência da República.
. Uma experiência coletiva de grande envergadura que, a despeito dos defeitos – e são muitos! – da legislação eleitoral brasileira, marca um passo adiante na formação de uma consciência social avançada.

29 outubro 2010

Garra, chuva e entusiasmo

. Mesmo debaixo de chuva, a caminhada com Lula no centro Recife foi uma explosão de entusiasmo popular. Clima de vitória com Dilma presidente.
. Confesso que conduzir a bandeira do PCdoB durante toda a caminhada me encheu de entusiasmo e orgulho militante. Luta e poesia ao mesmo tempo.

Bom dia, Vinícius de Moraes

O corpo não espera

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.

Até tu, Bento XVI!

A interferência do ultradireitista Papa Bento XVI – um abuso! - é a última cartada dos tucanos. Fadada ao fracasso.

De Clarisse sobre a saudade

´Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.´

28 outubro 2010

Minha coluna semanal no portal Vermelho

Último round, domingo

Luciano Siqueira


Em nada surpreende, nesses dias derradeiros, o teor dos comentários que se multiplicam na grande mídia, da lavra de articulistas quase todos militantes da candidatura Serra. Varia o mote, mas todos especulam sobre o que poderia ainda ameaçar a vitória da ex-ministra Dilma: uma nova denúncia, o debate da Globo ou, quem sabe, uma surpresa na última rodada de pesquisas. Ou ainda a abstenção por causa do feriadão que se estende até a terça de Finados.

(É bom que se anote que o povão (onde Dilma é mais forte) é legalista e não gosta de pagar multas, por isso deve comparecer às seções eleitorais; enquanto a chamada classe média sulista (em que se apoia parte substancial dos índices pró-Serra) deixa de votar numa boa e depois se acerta com a Justiça eleitoral.)

Ora, ninguém desconhece que três dias têm lá seu significado em eleições brasileiras sempre bafejadas por alguma imponderabilidade. Mas, pés no chão, melhor é considerar a pequeníssima probabilidade de uma inversão na tendência do eleitorado, de última hora. Isto porque – como já se observou nas diversas fases da campanha, desde o primeiro turno – os fatores determinantes da preferência majoritária do eleitorado se assentam em bases objetivas, dizem respeito sobretudo ao impacto sobre a vida da maioria, em termos imediatos e em perspectiva, de um conjunto de políticas adotadas pelo atual governo. Daí a opção pela continuidade, ao invés da aventura de uma mudança de rumo.

Estima-se que 48% do eleitorado se encontra nos segmentos denominados C e D, justamente o mais beneficiado pelas mudanças encetadas pelo governo Lula e, por conseguinte, mais apegado à ideia da continuidade – e que tem grande influência sobre o conjunto dos eleitores.

O que talvez obscureça um pouco essa verdade é a avalanche de expedientes artificiosos que têm conturbado a disputa sucessória e até impedido, em grande medida, o esclarecedor debate de ideias. Ora se focou a diferenciação entre os dois candidatos finalistas em supostos atributos pessoais, ora no grau de experiência eleitoral de cada um; ora em torno de questões que, embora de alguma relevância, estão muito longe de se porem como crivo diante do eleitorado, como a legislação relativa ao aborto ou o nível de adesão à fé cristã. As coisas se embaralharam a ponto de se polemizar sobre o alcance danoso de um bola de papel (ou rolo de adesivo) atirado irresponsavelmente contra a careca do candidato do PSDB!

A prova dos nove acontecerá domingo, após o debate da Globo e em pleno feriadão ensolarado. Findo o último round, aos analistas sempre dispostos a distorcer a realidade só restará afiar os punhais para o inevitável terceiro turno a se iniciar antes mesmo da posse da presidenta Dilma. Veremos.

27 outubro 2010

China se torna segunda maior fornecedora de máquinas ao Brasil

. Noticia o Valor Econômico que a China superou a Alemanha e já é a segunda principal origem das importações de máquinas e equipamentos no Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos.
. A participação chinesa nas importações brasileiras – que era de apenas 2,1% do total em 2004 – alcançou 12,3% de janeiro a setembro deste ano, acima dos 11,9% da Alemanha.
. Em primeiro lugar, os Estados Unidos responderam por 24,2% de todas as máquinas estrangeiras que entraram no país, mas a participação americana também já foi superior, chegando a marcar 32,4% há seis anos. Os dados foram divulgados hoje pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
. Diante da maior penetração dos produtos de fora no mercado brasileiro, a indústria tem pressionado o governo por medidas de compensação à valorização do real, como um aumento da alíquota da importação de produtos importados com similares nacionais para 35%.
. Em setembro, as importações de bens de capital no Brasil atingiram a marca recorde de US$ 2,667 bilhões, acima dos US$ 2,627 bilhões de agosto, que era o pico histórico anterior.
. Nos nove primeiros meses do ano, o setor acumulou déficit comercial de US$ 11,723 bilhões e a expectativa da Abimaq é que esse montante suba para US$ 15,631 bilhões até o fim do ano – superando o saldo negativo de 2009 (US$ 11,146 bilhões).
. Além da China, um dos destaques na balança comercial de bens de capital é a entrada de produtos da Coreia do Sul. As máquinas e equipamentos sul-coreanas corresponderam a 3,8% de todas as importações neste ano. Em 2009, a fatia do país asiático nas compras brasileiras era de 1,9%.

Meu artigo semanal no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

O debate necessário, porém impossível

Luciano Siqueira


Impossível, sim, nas circunstâncias de hoje. Refiro-me a um esclarecedor debate entre os candidatos finalistas à presidência da República, em cadeia única de TV e rádio (e transmissão direta pela Internet). Com tempo suficiente para que os litigantes pudessem expor claramente suas opiniões e propostas programáticas.

Uma coisa assim: no primeiro bloco, Dilma e Serra teriam dez minutos para apresentarem as linhas essenciais dos seus programas de governo. Num segundo bloco, ambos teriam igual tempo para tecerem considerações críticas sobre as propostas do adversário, cotejando-as com suas próprias propostas, de modo a distinguir e aprofundar divergências. Num terceiro bloco, a possibilidade de ambos responderem, à luz de suas linhas programáticas, perguntas feitas pelo público ou mesmo por jornalistas credenciados acerca de questões específicas ou setoriais – tipo enfrentamento da violência criminal urbana, política de juros, transporte, política agrícola e quejandos.

Antes das clássicas “considerações finais”, os candidatos ainda teriam um tempo para uma síntese de suas opiniões e para sublinharem o que considerassem mais importante em suas propostas de governo.

Por esse modelo, é claro que a polêmica seria estabelecida sem o constrangimento de perguntas de um minuto, respostas de dois e réplica ou tréplica de um minuto e meio. Não; haveria tempo para que o raciocínio de cada um viesse à luz em sua inteireza. E, ao final da peleja, o eleitor guardasse elementos suficientes para fazer o seu próprio juízo de valor.

Isso seria o inverso do que ocorre hoje, onde quem ganha ou quem perde um debate é aquele ou aquela que dê a impressão de ter vencido. O gesto momentâneo, a frase bem sucedida ou o argumento bem ou mal formulado, por um brevíssimo instante, e mesmo o semblante de cada um é que formam, no conjunto, a impressão que fica aos olhos do telespectador.

Mas o modelo que sugiro parece impraticável. Primeiro que tudo porque esse certamente não seria o formato mais adequado à espetacularização da cena, ao estilo de rinha de galos, supostamente capaz de manter o telespectador interessado, enquanto nos sucessivos intervalos são divulgados os caríssimos e altamente rentáveis anúncios comerciais. Também provavelmente as diversas redes de TV e rádio não se dispusessem a se constituir em cadeia para a mesma transmissão, como já chegou a acontecer, por exemplo, em coberturas da Copa do Mundo. Seria alterar a rotina da concorrência – e, como meios de comunicação são empresas, visam ao lucro acima de tudo.

Lamentável. Pois enquanto não mudar o formato atual, estamos todos condenados a assistir debates enfadonhos e nada produtivos.

26 outubro 2010

Bom dia, Janice Japiassu

Lula e Dilma


O sol está claro
E a sombra nítida
Agora é possível escalar a Vida

As palavras estão limpas
E a verdade clara
Agora é possível encontrar a Alma

(Mas há os que reclamam da lua
Porque se acostumaram à noite escura
E há os que odeiam a folia
Com medo da alegria)

O dia nasceu
O sol é nosso

(Mas há os que se habituaram às suas ausências
Com medo do Poder da Presença)

A felicidade chegou
A paz é possível
E porque tudo caminha
E o sonho vive

(Eles não podem mais recitar
seus poemas tristes)

E porque a hora é esta
Todo mundo vai pra Festa!...

Recife, 24-10-2010

Rogério Cerqueira Leite: Genéricos e outros mistérios

Como consequência da Guerra das Malvinas, quando a Argentina, por ter abdicado da produção própria de fármacos, ficou desabastecida de medicamentos, o governo militar brasileiro aprovou um programa, por mim proposto, de desenvolvimento dos princípios ativos (fármacos) dos 350 remédios constituintes da farmácia básica nacional.


Por Rogério Cezar de Cerqueira Leite*

Estimava-se que, em dez anos, seria possível desenvolver, por engenharia reversa, pelo menos 90% desses produtos. De fato, em pouco mais de três anos, cerca de 80 processos já haviam sido desenvolvidos e 20 produtos já estavam sendo produzidos e comercializados por empresas brasileiras.

O sucesso inicial desse projeto permitiu que fosse iniciada por mim, nesta Folha, uma campanha de esclarecimento sobre medicamentos genéricos, o que não teria sentido sem a produção própria de fármacos.

Precipitadamente, o governo Itamar Franco tentou lançar a produção de genéricos. O poderoso cartel de multinacionais de medicamentos se insurgiu. Ameaçou-nos de desabastecimento, de verdadeira guerra. Derrotou e humilhou o Ministério da Saúde.

Poucos anos depois, esse cartel não somente cedeu prazerosamente ao ministro José Serra, então na pasta da Saúde, como até fez dele seu "homem do ano".

Seria o costumeiro charme do ministro? Seu sorriso cândido? Senão, qual o mistério?

Como consequência da isenção de impostos de importação para o setor de química fina, da infame lei de patentes e de outras obscenidades perpetradas pela administração FHC, mais de mil unidades de produção no setor de química fina, dentre as quais cerca de 250 relativas a fármacos, foram extintas. Além do mais, cerca de 400 novos projetos foram interrompidos.

Os dados foram extraídos de boletim da Associação Brasileira de Indústria da Química Fina. Em poucos anos, o deficit da balança de pagamentos para o setor saltou de US$ 400 milhões para US$ 7 bilhões. Quem acha que, com isso, Serra não merece o título de homem do ano das multinacionais de medicamentos?

Também os "empresários" brasileiros do setor de genéricos têm muito a agradecer ao ex-ministro da Saúde, pelas suas margens de lucro leoninas. Basta ver os imensos descontos oferecidos por quase todas as farmácias, que com frequência chegam a 50%. Os genéricos do Serra nada têm a ver com os genéricos que planejamos.

E o tão aclamado programa de Aids do Serra? É compreensível que todos os seres humanos, e talvez também o ministro Serra, tenham se comovido profundamente com a súbita e aterrorizante explosão da Aids. Que oportunidade sem par para políticos demagógicos!

A ONU homenageou o então ministro Serra pelo mais completo e dispendioso programa de apoio aos doentes de Aids de todo o planeta. Países ricos, com PIB per capita dez vezes maiores que o nosso, ficavam muito aquém do Brasil. Como foi possível? E por que será que, nesse mesmo período, os recursos orçamentários destinados ao saneamento básico não foram usados?

O então dispendioso tratamento de um único doente de Aids correspondia à supressão de recursos para saneamento básico que salvariam centenas de crianças de doenças endêmicas, com base em uma avaliação preliminar. Será que Serra desviou recursos do saneamento básico? Mistério!

Mas persiste o fato de que, durante a administração Serra na Saúde, os recursos destinados ao saneamento, à época atribuídos a esse ministério, não foram aplicados.

Mesmo sem contar mistérios como aqueles dos "sanguessugas" e da supressão do combate à dengue no Rio, entre outros, considero pífia, eminentemente pífia, a atuação de Serra no Ministério da Saúde.

* Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 79, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.
Fonte: Folha de S.Paulo

25 outubro 2010

Meu artigo semanal no site da Revista Algomais

Muito glacê e pouco bolo no debate eleitoral

Luciano Siqueira

Todos, ou quase todos, têm responsabilidade nisso – e a reclamação é geral como se alguma força oculta fosse culpada. Refiro-me à pobreza (para usar uma expressão educada) do debate de ideias na peleja eleitoral prestes a se encerrar.

Pois parece evidente que, sobretudo na sucessão presidencial, mais do que nunca seria necessário se discutir os dois projetos de nação díspares, empalmados pelas coligações reunidas em torno dos candidatos finalistas, Dilma e Serra. Mas ambos priorizaram a explicitação de proposições pontuais ou setoriais, em detrimento do programa, além de recorrerem a traços de glamour que a linguagem do vídeo possibilita. É como uma desproporção entre o glacê e o bolo – adocicado demais e pouco consistente.

“Mas fomos constrangidos a isso – poderia arguir alguém do comando da campanha de Dilma -, desde que o adversário rebaixou o debate a questões religiosas e à tentativa de associar supostos casos de corrupção à nossa candidata”. E é verdade. Mas é verdade também que só agora, no fim do segundo turno, o programa da candidata da coligação Para o Brasil seguir mudando é anunciado – a despeito de seu conteúdo haver sido debatido com os partidos aliados há tempo. (Em minha campanha para deputado estadual empenhei-me na explicitação de pontos substanciais desse programa, a exemplo das reformas estruturais, vinculando-os aos problemas locais).

Serra, por seu lado, talvez tivesse maior dificuldade em apresentar propostas programáticas, tanto porque sua candidatura se mostrou anêmica, nessa matéria, desde o início, como porque viveu o permanente dilema de ser ou não ser oposição – no sentido da tática eleitoral -, levando-o a assumir boa parte das proposições da oponente, muitas das quais já em curso no governo Lula. Ou seja, a crise de identidade da campanha do tucano praticamente o impediu de se oferecer para o debate programático. Mais ainda quando focou o seu discurso em questões como o aborto e procurou reverberar o denuncismo da mídia que o apoia.

O somatório disso tudo, acrescente-se, não autoriza a cobrança que agora se lê e se escuta de comentaristas e titulares em colunas nos jornais. Eles próprios, jornalistas encarregados da cobertura da campanha, poderiam procurar minuciosamente em seus registros quantas vezes algum deles perguntou aos candidatos sobre questões cruciais (de natureza programática) para o futuro mediato do País, como as reformas estruturais e o papel da integração latino-americana no modo de inserção do Brasil na comunidade internacional. Mesmo quando Dilma resolveu centrar a tentativa de demarcação de campos com Serra na questão das privatizações de empresas estatais estratégicas, nenhum repórter ou analistas puxou o fio da meada que o tema representa para sabatinar os candidatos sobre o papel do Estado como indutor, ou não, do desenvolvimento econômico.

Quem sabe os últimos debates na TV ensejem em algum grau a explicitação de propostas programáticas. Para que as campanhas presidenciais brasileiras não resvalem para o modelo (superficial e artificioso) norte-americano.

24 outubro 2010

As duas faces da vida

A sugestão de domingo é da amiga Fábia: “Nos sinuosos caminhos da vida, encare o mel e o fel como faces de uma mesma moeda.”

23 outubro 2010

Cena de campanha: a UJS marca posição

Bandeirão da UJS na fachada do Edf Trianon, colocado durante a caminhada pró-Dilma da última sexta-feira, no Recife.

Boa tarde, Gerusa Leal

de(mente)

a mente
(de)mente
mera(mente)
ser

a rosa seca
(no jarro)
a água
(sem açúcar)
beija-flor

poema
(encruado)
que despenca
dizendo o que não quero
(não desisto nem te espero)

Medidas simples podem evitar contaminação por superbactérias

. O surto de contaminação pela superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) poderia ser evitado por medidas simples adotadas pelos hospitais, como obrigar as pessoas a lavarem as mãos ao visitar os pacientes. Conforme noticia a Agência Brasil, a sugestão é da bióloga Ana Paula Carvalho Assef, do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), unidade credenciada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para confirmar os casos de KPC no país.
. “São as medidas básicas de controle de infecção, como lavar as mãos antes e depois de entrar em contato com o paciente. A comissão do hospital deve estar alerta para esse tipo de coisa e orientar os visitantes e toda a equipe clínica que esteja tratando esses pacientes”, afirmou.
. A bióloga ressaltou que esses cuidados básicos evitam contaminações perigosas e que geram altos custos para serem tratadas. “Você fica sem opção de tratamento e as alternativas para combater essas bactérias são antibióticos tóxicos e muito mais caros.”
. Segundo ela, a KPC foi identificada em 2001, nos Estados Unidos, a partir de uma amostra de 1996. Nos anos de 2003 e 2005, ela provocou surtos em Nova York e depois se espalhou pelo mundo, com casos registrados na Argentina, Colômbia, em Israel e outros países.
. Apesar da grande expansão da KPC, a bióloga da Fiocruz afirmou que não há riscos de haver uma contaminação generalizada da população, pois a bactéria é inerente ao ambiente hospitalar, onde há um grande número de pacientes debilitados, com procedimentos invasivos e recebendo altas cargas de antibióticos. “Uma pessoa saudável não vai se infectar por essa bactéria, nem vai haver um surto de KPC na comunidade. É um problema dos hospitais que deve ser controlado. É preciso cuidado para a comunidade não servir de veículo para levar a bactéria a pacientes debilitados.”
. Ana Paula Carvalho Assef explicou que a KPC é uma bactéria comum, presente no sistema digestivo de quase todas as pessoas, mas que nos últimos anos adicionou uma informação nova ao seu DNA, passando a produzir uma enzima, a carbapenemase, que destrói a maior parte dos antibióticos, garantindo resistência.
. A bióloga considerou positivo o controle que o Ministério da Saúde quer implantar sobre a venda de antibióticos no país, a fim de evitar que as pessoas comprem os medicamentos sem receita médica e sem conhecimento da correta administração. Um dos motivos da resistência de bactérias é justamente o fato de o tratamento não ser seguido até o fim, abandonado quando se nota as primeiras melhoras.
. Outro problema, segundo Ana Paula Carvalho Assef, é o excesso de antibióticos utilizados na criação de animais de corte, que acabam sendo ingeridos pelos seres humanos no consumo de carnes, ovos e leite. Além disso, há o problema dos antibióticos jogados no esgoto pelos hospitais e nos lixões, que contaminam o meio ambiente. “Tudo isso junto faz com que as bactérias resistentes sejam selecionadas e vai aumentando cada vez mais a multirresistência”, alertou.

Um sonho prestes a se realizar

Ciência Hoje Online:
. Há décadas os cientistas buscam materiais que apresentem o chamado efeito magnetoelétrico gigante, que tornaria possível produzir memórias mais eficazes. Carlos Alberto dos Santos apresenta uma descoberta que torna essa perspectiva mais palpável.
. Leia a matéria na íntegra http://twixar.com/H1h1

O tempo e a razão

A dica de sábado é do amigo Duarte: “O tempo se encarrega de tudo: de perdas definitivas e da renovação do que parece findo.”

Renato Rabelo: batalha política na reta final do segundo turno

Abaixo as ilusões
Renato Rabelo*

Ganhamos as eleições presidenciais no primeiro turno. Dilma Rousseff alcançou o primeiro lugar amplamente e sua coligação conquistou em torno de 70% do Congresso Nacional.

Conquista inédita. O erro maior cometido antes de 3 de outubro foi a ilusão de que a “eleição já estava decidida” . Auto-suficiência e ilusão nos afastaram do curso concreto da disputa eleitoral. O comando da Campanha mostrou uma atitude burocrática. Nada nos iria atingir e impedir o caminho célere da vitória. Distante da realidade não soube responder aos ataques de várias formas que estavam minando a figura da nossa candidata, desviando o debate das questões programáticas e das conquistas do governo Lula tão amplamente respaldada pela população. Contribuímos para isso, porque nem mesmo o programa de governo - como sempre se fez - acabou sendo divulgado.

O segundo turno iniciou-se sob a ofensiva da oposição. Caiu-se na real abruptamente. E bastaram 15 dias de campanha, quando surge pesquisa momentânea que indica crescimento da nossa candidata, para ressurgir a ilusão de “eleição decidida”. Parece que estamos sob a influência de uma concepção idealista, auto-suficiente, faltando simplicidade para compreender a realidade que nos cerca. A eleição decisiva do segundo turno não está ganha!

Essa campanha presidencial vem demonstrando que essa gente – a oposição demo-tucana, a grande mídia, a elite conservadora e cassandras de ocasião– não estão aí para fazer campanha de alto nível, comparar programas, para que o povo soberanamente possa escolher. Eles estão decididos a barrar a qualquer custo a continuação do projeto democrático e popular iniciado por Lula e a voltar ao centro do poder nacional. Agem pelos meios oficiais e através de movimentos subterrâneos. Além de ampla estrutura na internet com o intuito de difamar a figura da candidata, uma massa enorme de panfletos que estão sendo produzidos para atingir a imagem de Dilma, montaram gigantesco esquema de telemarketing para essa fase final da campanha. Está em curso um movimento orquestrado por eles, com ressonância em poderosos meios de comunicação, para propagar a desconfiança, o medo e o terror em várias camadas da população contra a candidatura de Dilma Rousseff.

Para alcançar seus intentos esta vasta campanha oficial e subterrânea da oposição visa desacreditar e satanizar a imagem da candidata apresentada por Lula, e afastar do centro do debate os destinos da nossa grande nação, a comparação de governos, os caminhos percorridos e a percorrer, e que programa pode continuar e avançar as mudanças abertas pelo governo Lula.

Não é o resultado circunstancial de uma pesquisa que define probabilidades relativas, que deve nos induzir ao que fazer. Como atua e o que faz nosso adversário, sua atividade aberta e camuflada, sua mensagem enganosa é que deve ser enfrentada. A mentira e o medo não podem prevalecer. Temos uma responsabilidade histórica perante a nação. Temos melhores condições do que eles para vencer: um governo apoiado por extensa maioria do povo, um programa consistente e vitorioso e um amplo apoio político e social. A luta deve ser decidida no terreno político, com explicação nítida e comparativa de projetos e denúncias perante o povo do jogo sujo perpetrado pela oposição e a elite conservadora desesperada. Portanto, é na luta política. Temos que ir para as ruas, falar com o povo de várias formas. Buscar aliados e ampliar nossa frente. Novas investidas da parte deles podem surgir. Vamos ganhar essa importante guerra política na luta até terminar a apuração no dia 31 de outubro. Abaixo as ilusões!
* Renato Rabelo é presidente nacional do PCdoB

22 outubro 2010

Uma vitória histórica

. Por onde se leia os mapas eleitorais deste ano em Pernambuco, a constaçtação é uma só: Eduardo impôs a Jarbas uma derrota histórica, acachapante.
. Inaldo Sampaio, em sua coluna na Folha de Pernambuco, detalha: “Em 130 das 17.990 urnas, o senador Jarbas Vasconcelos não obteve nenhum voto.”

Jogando a toalha

Programa de Serra na TV: “Ela não vai dar conta”. Quer dizer: tucanos já reconhecem a derrota. Você tem dúvidas disso?

21 outubro 2010

Juntos na caminhada pró-Dilma

. Na concentração da caminhada de amanhã, vamos sair juntos. Procure os bandeirões “PCdoB com Dilma” na Praça Oswaldo Cruz.
. Os estudantes se concentrarão na Rua de Lazer, na Universidade Católica, onde fazem assembleia. Depois se incorporam à caminhada.

Campanha de desarmamento será política de Estado e terá dia nacional de mobilização

. A notícia é da Agência Brasil. A exemplo do que já é feito nas campanhas de vacinação, o governo definiu uma data nacional para incentivar o desarmamento voluntário da população. Será todo ano, no primeiro sábado de julho. A fim de trocar experiências com representantes de outros países que já fizeram campanhas similares à brasileira – como Angola, Moçambique, Argentina e Colômbia –, as organizações não governamentais Viva Rio e Rede Desarma Brasil promovem hoje (21) e amanhã um seminário para discutir o tema.
. "A Colômbia já foi um inferno, com os piores índices de violência do mundo. Hoje, com a ajuda da participação popular nas campanhas, Bogotá é um exemplo [de como fazer uma campanha de desarmamento]. Queremos aproveitar exemplos como esse”, disse o coordenador de Controle de Armas do Viva Rio, Antônio Rangel.
. Segundo o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, a criação do Dia Nacional do Desarmamento Voluntário ajudará o país a desfazer alguns mitos. “Precisamos acabar com algumas falácias de que países desenvolvidos com cultura de armas apresentam índices menores de violência, se comparados aos índices brasileiros. Isso é uma falácia, até porque não dá para comparar essas realidades.”
. Em nota distribuída durante o seminário, o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, reafirma que o governo pretende transformar a campanha de desarmamento em política de estado. Segundo ele, essa será uma das principais ferramentas de estímulo para que as pessoas se envolvam com a causa. A campanha, afirma o ministro, será como a campanha de vacinação: uma política pública realizada todos os anos em benefício social.
. As campanhas feitas no Brasil recolheram mais de meio milhão de armas. É a segunda maior já feita em todo o mundo, em número de armas recebidas. Na comparação com outros países, o Brasil ocupa posição de destaque por ter inovado ao instalar em igrejas e ONGs postos de recolhimento que danificam as armas a marretadas, no momento da entrega.
. Dessa forma, avaliam as autoridades, as campanhas deram maior confiança ao cidadão de que suas armas seriam, de fato, destruídas, diminuindo o risco de pararem nas mãos de bandidos.
. Segundo o Ministério da Justiça, os homicídios por arma de fogo caíram 11% entre 2003, quando o Estatuto do Desarmamento foi aprovado, e 2009. Dados da Viva Rio indicam que muitas das armas usadas para a prática criminosa são roubadas de residências. Dados da Polícia Federal afirmam que, só em 2003, mais de 27 mil armas foram furtadas ou roubadas dessa forma.

Boa tarde, Vinícius de Moraes


Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Campanha de qualquer jeito

.Ótimo comício relâmpago ontem à tarde, em Camaragibe. Militância aguerrida nas ruas.
. Hoje pela manhã, mais uma panfletagem no cruzamento da Rua da Aurora/Av. Norte Miguel Arraes. Ninguém quer panfleto, quer adesivo – para reforçar o clima de campanha.
. Adesivo de carro Dilma 13 é produto de largo consumo e pouco estoque. O jeito é apostar na conversa – mesmo no breve encontro enquanto o semáforo não abre.

Minha coluna semanal no portal Vermelho

O fator Nordeste na sucessão presidencial
Luciano Siqueira

Segundo turno, reta final da peleja pela presidência da República, cotejam-se índices de preferência do eleitorado sob múltiplos ângulos – dentre eles, as diferenças regionais. O Nordeste desponta, tal como no primeiro turno, como fator importante, talvez decisivo, na quebra de braço entre Dilma e Serra.

Os tucanos, numa linha de coerência oportunista a toda prova, tratam de desqualificar o voto do nordestino, atribuindo-o tão somente à cobertura dos programas sociais. “É o voto dos beneficiários do Bolsa Família”, argumentam.

Nada mais falso. Se assim pensa o tucanato, das duas uma: ou é a mentalidade distorcida de quem vê o Brasil pela ótica da Avenida Paulista, ou mesmo a tentativa de obscurecer um relevante dado da realidade. Certamente as duas coisas.

Daí a oportunidade do artigo “O voto do Nordeste: para além do preconceito”, da professora Tânia Bacelar, que circula repercute amplamente.

Tânia ocupou a Secretaria Nacional de Desenvolvimento Regional no primeiro governo Lula, onde deu contribuição marcante na formulação da política nacional de desenvolvimento regional – ou seja, na abordagem das desigualdades a partir de uma visão global de Nação.

No artigo em que se contrapõe ao torpe e preconceituoso argumento dos tucanos a propósito da vantagem de Dilma no Nordeste, Tânia demonstra com raciocínio claro e dados precisos o quanto o conjunto de políticas públicas encetadas pelo governo Lula tem resultado em alterações importantes na economia regional, com expressivas repercussões sociais. Diz ela que apenas os programas sociais “não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).” E que uma “marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.”

Observa Tânia que “ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização - que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste.” Não é sem razão, por isso, que o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.

Ora, se muda a vida imediata dos norestinos e se abrem-se expectativas de um ciclo de creescimento duradouro, economicamente sustentável, por que os eleitores desta parte do País haveriam de optar por Serra e pelo retrocesso à era FHC?

Desconforto suspeito

Em cima do muro, Marina se mostra desconfortável diante do apoio de 20 diretórios estaduais do PV a Dilma. Quem te viu, quem te vê.

Interferência estranha

Absurdo que uma ONG estrangeira, Greenpeace, faça manifestação pró-Serra em ato da campanha de Dilma, e a mídia noticie como natural!

ONU: Dois terços dos 774 milhões de analfabetos no mundo são mulheres

. Desigualdade de gênero. A Agência Brasil informa que dois terços dos 774 milhões de analfabetos no mundo (cerca de 516 milhões) são representados por mulheres. Já do total de 72 milhões de crianças em idade escolar fora das salas de aula, 39 milhões (54%) são meninas.
. No ensino superior, as mulheres são pouco representadas em áreas como ciência e engenharia, mas permanecem predominantes em áreas como educação, saúde e bem-estar, ciências sociais e artes.
. Apesar da maior representação entre os analfabetos e os estudantes fora da escola, as mulheres, quando em sala de aula, são menos reprovadas do que os homens.

19 outubro 2010

Meu artigo semanal no site da Revista Algomais

A velha surda e o debate presidencial
Luciano Siqueira

Escutei muitas vezes, na infância, uma historinha que minha mãe contava – e por mais que a repetisse, todos riam – da velha surda que, por ser surda, nunca respondia ao que lhe era perguntado. A cada versão, mudava as situações, as perguntas e as respostas fora do esquadro. A moral da história é que tem muita gente que se faz de surdo e escapa a assuntos que lhe são inconvenientes.

É o que ocorre no atual debate presidencial. E com uma consequência nefasta: o que mais interessa – a diferenciação entre dois projetos de Nação diametralmente opostos – reduz-se a um segundo plano, pondo-se em relevo questões outras que, embora guardem sua importância específica, não têm o status programático.

Qual a melhor solução para a saúde pública: as UPAs que o governo Lula vem instalando e que Dilma pretende ampliar ou as clínicas de especialidades que Serra implantou em São Paulo? Sinceramente, nem cabe discutir. Diferentemente, cabe, sim, a polêmica em torno da privatização de empresas estatais de natureza estratégica tendo em vista um projeto de desenvolvimento do País.

Mas nesse tema, a Dilma insiste – talvez sem a habilidade necessária em alguns momentos -, e Serra faz de contas que a oponente fala de outra coisa. Dilma quer saber a opinião de Serra porque este é um elemento fundamental no que diz respeito ao papel do Estado como indutor do desenvolvimento. Serra escapa para o que chama de “privatização” das estatais arguindo com suposto apadrinhamento politico no preenchimento de seus cargos de direção – e assim o faz porque a tese do Estado mínimo é da essência do ideário tucano, e isso não é conveniente que ele assuma claramente.

Bom, diria o leitor (com razão), essa é a percepção do autor destas linhas. E é mesmo. Alguém do lado oposto pode justificar o ressurgimento da velha surda no debate presidencial com outros argumentos, diferenciados do meu. E seria bom que o fizesse, pois do que mais a Nação necessita, para proveito do eleitor, a quem cabe decidir os rumos do Brasil no próximo dia 31, é justamente de polêmica. A boa polêmica: democrática, mutuamente respeitosa, esclarecedora.

Ontem ocorreu o debate promovido pela Rede TV, entre os dois candidatos finalistas. Um debate choco, alheio a uma gama de questões que, a exemplo das privatizações de estatais estratégicas, dizem respeito ao futuro mediato do País. Em alguns momentos parecia debate entre candidatos a prefeito, ou a governador de estado pequeno. Cadê os desafios do desenvolvimento? Onde o crescimento econômico com valorização do trabalho? Como os candidatos encaram a compatibilização do desenvolvimento com a sustentabilidade ambiental?

O olhar do eleitor esclarecido se frustra. Frustra-se mais ainda o olhar do militante que carrega no corpo e na alma as marcas vitoriosas, porém dolorosas, da luta pela democratização do País. Para que a democracia se não para trazer à luz diferentes projetos de sociedade?

Oxalá os dias que restam – e os debates públicos entre os dois candidatos – proporcionem a elevação do nível da discussão. Veremos.

Vox Populi: Dilma tem 51%, Serra tem 39% e indecisos somam 4%

Portal Ig:
Em novo levantamento, petista sobe 3 pontos, tucano cai 1 ponto e indecisos recuam 2 pontos
. Pesquisa Vox Populi/iG divulgada nesta terça-feira mostra que a vantagem da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, em relação ao tucano José Serra aumentou para 12 pontos percentuais. Segundo o Vox Populi, Dilma tem 51% contra 39% de Serra. Na última pesquisa, realizada nos dias 10 e 11 de outubro, a vantagem era de 8 pontos (Dilma tinha 48% e Serra 40%). Os votos brancos e nulos permaneceram em 6% e os indecisos passaram de 6% para 4%.
. Se forem considerados apenas os votos válidos (sem os brancos, nulos e indecisos) a vantagem subiu de 8 para 14 pontos. Dilma tinha 54% e passou para 57%. Serra caiu de 46% para 43%. A margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos.
. A candidata do PT tem o melhor desempenho na região Nordeste, onde ganha por 65% a 28%. Já Serra leva a melhor no Sul, onde tem 50% contra 41% da petista. No Sudeste, que concentra a maior parte dos eleitores, Dilma tem 47% contra 40% do tucano.

17 outubro 2010

Grande reunião para organizar a campanha pró-Dilma no Recife

Nesta segunda-feira, no auditório do Sintepe – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (rua Gal Semeão, transversal da Rua do Príncipe), a partir das 18h, grande reunião de amigos e militantes para organizar a campanha pró-Dilma no Recife. Venha e traga mais gente.

Emir Sader: campanha mais ofensiva levará Dilma à vitória

A campanha presidencial entrou numa nova etapa, a quarta e, provavelmente, a última e definitiva.
. A primeira correspondeu ao longo período de liderança do Serra nas pesquisas, basicamente pelo fenômeno do recall, que aparentemente se chocava com a enorme popularidade do governo Lula, refletida na grande proporção de pesquisados que revelavam preferência pelo Serra, mas afirmavam querer votar pelo candidato do Lula.

. A segunda correspondeu à lenta, mas segura ascensão da Dilma à liderança das pesquisas, pela transferência de votos, correspondente ao mecanismo apontado acima.
. A terceira foi a da contraofensiva da direita, que conseguiu um atalho – conforme a feliz expressão de Maria Ines Nassif – com o tema do aborto, para chegar ao lado conservador de um eleitorado favorável ao governo Lula, beneficiário das políticas sociais. Pesou também – em proporções ainda a definir – a denúncia do caso Erenice, afetando a imagem da Dilma. A resultante foi uma inflação dos votos da Marina de setores evangélicos por um lado, de setores descontentes com o PT e o governo Lula, que afetou a votação da Dilma, levou indecisos para a Marina e levou a eleição para o segundo turno.
. Este mesmo período se estendeu ao inicio do segundo turno, com a transferência majoritária dos votos da Marina (+ de 50%, segundo as pesquisas) para o Serra, encurtando as distâncias em relação a Dilma. Tudo isto sob o forte impacto da campanha de denuncias e difamação dos setores mais obscurantistas da sociedade, acompanhado dos seus ecos na imprensa, no seu papel de dirigente político da oposição.
. Esta etapa passou a esgotar – mesmo se seus efeitos ainda se fazem sentir -, segundo as pesquisas, levando a uma espécie de congelamento relativo das votações da Dilma e do Serra, com vantagem para ela, embora com oscilações possíveis de votos, devido ao nível de rejeição que a orquestração das distintas campanha conseguiu contra a Dilma.
. A retomada de iniciativa da pauta política pela candidatura da Dilma se deu pela retomada do tema das comparações entre os governos FHC-Serra e Lula-Dilma, em que o epicentro da privatizações ganhou destaque. Ao mesmo tempo, a campanha da Dilma desatou, em resposta à brutal ofensiva de acusações – assumidas formalmente algumas, sorrateiras as outras – acusações a Serra, que devem voltar a elevar seu nível de rejeição. A candidatura da oposição teve que retomar a defensiva, para responder seja às acusações que foi recebendo, seja no tema das privatizações e outros do governo FHC.
. Na reta final, a disputa se dará, pelo lado do Serra, de votos da Dilma – dado que a quantidade de indecisos não seria suficiente para superar a distância em relação a ela -, pela intensificação do lado obscurantista da campanha do Serra – que chegou a imprimir santinhos sobre Jesus e a verdade, como frase do candidato da direita, que trata de insistir no tema do aborto. A ferocidade e as calúnias tendem a aumentar, porque foi aí que o Serra encontrou sua forma de diminuir as distâncias, com a imprensa jogando papel de ainda maior protagonismo.
. Do lado da candidatura da Dilma, o retorno com intensidade do Lula à campanha favorece deslocar a polarização em torno das figuras da Dilma e do Serra, para a questão real: da continuação do governo Lula ou da retomada do governo FHC. Com os mais de 80% de popularidade, Lula tem a maior audiência, mais propensa a escutá-lo para enfrentar o dilema real do dia 31: prolongação e aprofundamento do caminho iniciado pelo seu governo ou restauração conservadora.
. A atitude mais agressiva da Dilma nos debates, a mobilização da militância política, os atos de apoio de distintas categorias e o trabalho dos governadores nos estados onde o governo saiu vencedor e da campanha nacional onde perdeu – são os fatores que podem levar à vitoria da Dilma no dia 31.
Fonte: Carta Maior

Vencendo com leveza

A sugestão de domingo é de Cora Coralina: “Minha vida.../Quebrando pedras/e plantando flores.”

Boa noite, Geórgia Alves

Obtuário

Amei demais
Rezei em teu santuário
E agora que eu faço?
Sem os pés... e os sapatos!
Presos no armário.

As pesquisas eleitorais e os modelos científicos

Ciência Hoje Online:
A discrepância entre as previsões das pesquisas eleitorais e os resultados das urnas servem como pretexto para o físico Adilson de Oliveira discutir como os cientistas se baseiam em modelos da natureza para fazer previsões.
. Os resultados das pesquisas de intenção de voto estão entre os assuntos mais comentados nesse período eleitoral. Praticamente toda semana e, ultimamente, quase todos os dias, surge uma nova pesquisa sobre a preferência da população em relação aos candidatos à presidência da República e ao governo dos estados que terão segundo turno.
. Os resultados dessas pesquisas não somente influenciam diretamente a forma como os candidatos conduzem as campanhas, mas também acabam influenciando o próprio eleitorado.
. Leia a matéria na íntegra http://twixar.com/mtqNA

16 outubro 2010

O tempo e o sentimento

A dica de sábado é de Carlos Drummond de Andrade: “O tempo passa ? Não passa/no abismo do coração.”

Dilma e Lula em SP: "O amor vai derrotar o ódio"

No Vermelho:
. O presidente Lula fez na noite desta sexta-feira (15) um contundente discurso em repúdio aos ataques promovidos pelo PSDB de José Serra contra a candidatura de Dilma Rousseff. No comício em São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, Lula chamou de "vergonhosa" a campanha de José Serra. Segundo o presidente, os adversários repetem o preconceito usado nas outras eleições para tentar “abusar da boa fé do povo”.
. “É uma vergonha o que eles estão fazendo na campanha. Mentindo e difamando. Que nós precisamos dizer a eles é que nós já conhecemos essa história. Não é a primeira vez que somos candidatos. Não é a primeira vez que nós vemos o preconceito contra a mulher. Isso é histórico e crônico aqui em São Paulo”, disse Lula.
. Dilma, por sua vez, afirmou que o medo e o ódio propagados nestas eleições serão derrotados com amor. Em 2002, na primeira eleição do presidente Lula, a esperança venceu o medo. Agora é a vez do amor derrotar o ódio. "Eles querem usar o ódio, que é um sentimento irmão do medo. Casaram o ódio com o medo e querem que a gente não enxergue o que está em questão. Vamos derrotá-los com amor e esperança pelo Brasil", disse, diante de um público de milhares de pessoas.
. “A opção entre um país da esperança e do amor, e o país do ódio e do medo é o que está em questão no dia 31 de outubro. Por isso, quero dizer que, com a força de vocês, se Deus quiser, eu serei a primeira presidenta da República”, completou Dilma, pedindo o voto dos eleitores da Zona Leste.
. O presidente Lula e sua candidata alertaram para as promessas feitas apenas em época de eleição, lembrando que seu governo, em oito anos, fez mais pelos pobres que a elite em todos os períodos em que governou o Brasil.
. “Eleição é época de promessas fartas. Estão prometendo até aumentar o salário mínimo. Mas governaram esse país a vida inteira e não aumentaram. Estão falando em dar até décimo terceiro para o Bolsa Família. Eu e Dilma, que passamos oito anos para fazer o Brasil subir ladeira acima, não podemos permitir que o Brasil desça serra abaixo”, advertiu Lula.
Pré-sal - Lula citou ainda os pedágios cobrados nas estradas paulistas, que chamou de “assalto ao bolso do povo de São Paulo”. Dilma chamou atenção para a possibilidade de privatização do petróleo do pré-sal por seu adversário.
. “Nós apostamos nos trabalhadores da Petrobras e descobrimos o pré-sal, aquela riqueza que está lá no fundo do mar. Aí vem o principal assessor do meu adversário e diz que o governo Lula está errado, que nós temos de privatizar o pré-sal. Querem privatizar o pré-sal para entregar para as empresas internacionais e levarem essa riqueza para o exterior. Isso nós não vamos deixar”, disse a candidata.

Ator José de Abreu causa polêmica no Twitter com duras críticas a Serra

Da Redação Yahoo! Brasil

O ator José de Abreu causou furor no Twitter, nesta sexta-feira à noite, com uma participação explosiva na Twitcam. Ele defendeu publicamente seu voto em Dilma Rousseff (PT) e fez diversas críticas à candidatura do tucano José Serra, a quem chamou de “fascista”. A transmissão durou mais de duas horas (terminou às 23h29) e chegou a reunir mais de dez mil pessoas.

Em seu perfil no Twitter, José de Abreu se diz “por um governo voltado aos menos favorecidos, Dilma é Lula, Lula é Dilma.”

Logo no início da transmissão, José de Abreu se justificou dizendo que, pelo contrato que tem com a Globo, não pode aparecer na TV fazendo campanha política. “Mas eu não estou na TV, estou no Twitter.”

O ator ironizou a escolha do PSDB de apontar Serra, e não Aécio Neves, como o candidato à Presidência. “Se fosse o Aécio, teríamos um problema”, disse, dando a entender que a vitória de Dilma seria mais difícil. “Valeu a pena o Serra chorar no colo do Aécio e ficar com essa. Mas, realmente, historicamente seria mais interessante uma disputa entre Dilma e Aécio, Lula e Aécio... já o Serra... bom, como disse o Ciro Gomes, Serra na campanha é certeza de baixaria.”

José de Abreu, que tomava uma cerveja durante a transmissão, concentrou suas críticas no vice da chapa de Serra, o deputado federal Indio da Costa (DEM-RJ). O ator disse que “Serra tem problema no pâncreas e, por isso, não come em público e toma água o tempo inteiro. Já imaginou se ele morre? Para morrer, basta estar vivo. E aí assume o Indio.”

Pouco antes ele já havia dito: “Esse Índio da Costa é um... vocês acham que o Brasil merece um vice-presidente como o Indio? É uma sacanagem do Serra com o DEM. A gente achava que era sacanagem do Rodrigo Maia com o Serra, mas na verdade foi sacanagem do Serra com o DEM (a escolha de Indio). E depois falam que vice não serve pra nada.”

José de Abreu definiu Indio da Costa como “surfista do Rio”. E afirmou que, quando Índio foi perguntado em entrevista se já usara drogas, “ele se calou, ficou quieto.”

Serra se disse a favor do aborto. “Imagina a menina pobre que engravida por um acidente ou por machismo do namorado que não quis usar camisinha”. Falou também sobre liberação das drogas. “É claro que liberar a maconha vai acabar com o tráfico. Aconteceu isso na Holanda. Aliás, não é liberar, é legalizar, é ter controle.”

O ator se irritou com comentários de jovens que o criticaram por suas opiniões. “Tenho 64 anos, cinco filhos e quatro netos. É incrível ver jovens tão reacionários, atrasados, e deve até fumar um baseadinho, fica aqui me criticando. Hipocrisia é fogo.”

Sobrou até para Soninha Francine, coordenadora da campanha de Serra na Internet. Ao ironizar um internauta que se identificou como surfista e eleitor de Serra, José de Abreu disse: “Deve estar com a cabeça cheia de maconha, que nem a Soninha.” Na sequência, emendou: “Não que não exista maconheiro eleitor do PT.”

Vejam na íntegra o que José de Abreu defende publicamente seu voto em favor a Dilma Rousseff, leiam no link: http://br.eleicoes.yahoo.net/noticias/4125/ator-jos-de-abreu-causa-pol-mica-no-twitter-com-duras-cr-ticas-a-serra

Tânia Bacelar demonstra as razões da vantagem de Dilma no Nordeste

O voto do Nordeste: para além do preconceito

Tânia Bacelar de Araujo

A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não “soubesse” votar.

Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o “Bolsa Família” serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo “Bolsa Família”), os “grotões”- como nos tratam tais analistas – teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).

A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.

A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.

Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização - que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns “clusters” (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro...) enquanto nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.

Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou - junto com o Norte - as vendas no comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.

Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas previstas) e em patrocinar - via suas compras - a retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.

Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura – foco principal do PAC – que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil “bombou” na região.

A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais – antes fortemente concentrados no Sudeste - dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira “cidade da ciência” num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).

Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro – safra , Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga 43% da população economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.

Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.

Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão - como antes - da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados – alguns ainda incipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, “Bolsa Família”), mas uma região plena de potencialidades.

15 outubro 2010

Boa noite, Ledo Ivo

A Recompensa

Eis a dádiva da noite:
fenda, cova, gruta, porta
casto pássaro sem canto
cisterna oculta no bosque
concha perdida na praia
viva natureza-morta.
Um corredor de coral
matriz e canal de mangue
trilha, sebe, valva, furna
voluta cheia de adornos
desfiladeiro da tarde
tumba de sol e corola
sereno da madrugada.
Manga madura da infância
que cai num chão de mentira
sol de lábios e camélias
esconderijo dos sonhos
caminho do descaminho
brancura negra da carne
pousada em seu próprio ninho
abertura pura e escura
entre-fechado botão
ou entreaberta rosa
na noite misteriosa.

Eduardo Campos: "Dilma ganha. Vai ser uma eleição com emoção"

No Vermelho:
. O governador eleito que teve a vitória mais avassaladora no primeiro turno das eleições, Eduardo Campos (PSB) venceu nos 184 municípios de Pernambuco, seu Estado. Neto do ex-governador Miguel Arraes e aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Campos prevê a vitória da candidata Dilma Rousseff no segundo turno, mas não se furta a fazer reparos à campanha da coligação governista no primeiro turno.
. Campos diz que agora no segundo turno está concentrado na campanha para eleger Dilma. "Tenho falado sempre com a coordenação, com a própria candidata e as tarefas que tenho recebido, tenho procurado cumprir e passar para os vários companheiros do PSB. Acho que as coisas estão caminhando bem", relata.
. Leia a a íntegra da entrevista http://twixar.com/fFs7N

Excelente programa de Dilma na TV

. Que as atividades de rua têm o seu lugar e a sua importância nesse segundo turno, não deve haver dúvidas. E a rua é influenciada pela TV.
. Veja aqui o excelente programa de Dilma na TV, de hoje à noite. http://twixar.com/9evq. E comente.

14 outubro 2010

Minha coluna semanal no portal Vermelho

Dilma, Serra e o debate programático
Luciano Siqueira


Ao final do debate na Rede Band de Televisão, o senador Sérgio Guerra (PSDB) de Pernambuco, presidente nacional dos tucanos, saiu-se com essa belezura: o centro da campanha no segundo turno deve ser a questão do aborto, e não o tema das privatizações destacado por Dilma.

Equívoco ou artimanha tática? Fico com a segunda hipótese, por razões que me parecem óbvias.

Tem relevância, sim, o tema da descriminalização do aborto, desde que escoimado da argumentação rebaixada e suja sustentada pela tropa de choque tucana através da internet (que a própria esposa do candidato Serra, a Sra. Mônica, dela fez uso na tentativa de denegrir a imagem da ex-ministra Dilma!); porém não a ponto de ocupar o centro do debate, deslocando questões de fundo relativas aos destinos do País.

Já a questão da privatização de empresas e instituições estatais de importância estratégica, me desculpem o senador Guerra e seus acumpliciados, vem a ser um dos tantos elementos que compõem aquilo que o tucanato não deseja discutir: o programa de governo. E, como essência do programa, a opção pelo desenvolvimento econômico com distribuição de renda, valorização do trabalho e sustentabilidade ambiental como expressão de uma alternativa viável ao modelo neoliberal com o qual se sintonizam o PSDB e o candidato Serra.

Quando Serra tenta escapa do tema com evasivas tipo privatizações de empresas estatais municipais ou estaduais sob governos petistas ou a venda de ações da Petrobras na Bolsa de Nova York – argumentos ridículos para alguém que se diz experiente e preparado! -, na verdade o que ele pretende é evitar a demarcação clara de campos aos olhos do eleitorado mais atento, que forma opinião e amplia tendências de voto.

Dilma, por seu turno, ao lado de retrucar com veemência as agressões e baixarias de que tem sido vítima e passar à ofensiva na comparação entre os dois modelos, o de FHC e o de Lula, chama o adversário para o centro do ringue e o obriga a lutar às claras.

Isso dá em debate programático? Creio que sim. Pois nos programa de TV e rádio e nos debates entre os dois candidatos à presidência nem tudo é completamente explicitado, mas cabe a nós outros no contato com vastas camadas do eleitorado repercutir e ampliar a discussão. A questão das privatizações, para não recorrer a outro exemplo, põe em relevo o papel do Estado como indutor do desenvolvimento, uma das pedras fundamentais da concepção programática de Dilma; e que, ao contrário, é negado no ideário tucano.

Em outras palavras, a campanha se dá no confronto televisivo e radiofônico, se espraia pela internet e se concretiza, no plano do debate de ideias, nos salões, nos locais de trabalho e nos botecos por esse Brasil afora. E ganha força se cada de nós, militantes e ativistas cá na base, mesmo sem deixar de reagir às baixarias e calúnias contra Dilma, nos empenharmos na discussão do projeto de desenvolvimento com o qual a candidatura de Dilma Rousseff está comprometida.

13 outubro 2010

Meu artigo semanal no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

A nociva inversão de valores na campanha eleitoral

Luciano Siqueira

Os resultados justificam os meios, quaisquer que sejam? Sim, se nossa concepção se inspira no pragmatismo filosófico norte-americano, de Charles Sanders Peirce e William James, que sacrifica valores fundamentais construídos pela sociedade humana e exalta o vale-tudo – na vida e na política.

A resposta será não, se considerarmos que a justeza dos objetivos está indissociavelmente vinculada a valores supremos, tais como o bem para todos – ou, pelo menos, para a maioria que sobrevive mediante o trabalho e é constrangida a relações de exploração e de opressão.

Quando disputávamos o pleito de 2000 com João Paulo no Recife, e surpreendentemente chegamos ao segundo turno, ampliaram-se enormemente as forças que se ajuntavam na oposição ao então prefeito Roberto Magalhães, que tentava a reeleição. A expectativa de vitória assanhou todos os apetites – inclusive de vários dos que, conscientemente ou não, se movem pelo pragmatismo acima de qualquer valor humano e para quem o importante é vencer, não importa como.

Não faltou, naquelas circunstâncias, quem sugerisse ataques pessoais ao adversário, a que reagimos de modo intransigente. O candidato a prefeito, João Paulo, e esse amigo de vocês, seu vice e encarregado de responder politicamente pela condução do programa de TV, tivemos que ouvir todo tipo de argumento com paciência de Jó. Paciência, para não perder apoios nem cometer indelicadezas, porém com a firmeza necessária para não permitirmos, como não permitimos, abaixar o nível do discurso e perder a razão. Mesmo que a campanha do oponente tenha apelado para expedientes condenáveis, mediante artifícios televisivos e mesmo através do então governador Jarbas Vasconcelos, ele próprio encarregado de “descontruir” a imagem do candidato operário, insinuando incompetência, despreparo e irresponsabilidade (sic).

Não cedemos – e vencemos! Além da conquista, obtida de modo espetacular, nas circunstâncias; recolhemos a lição de que é possível suplantar o adversário sem lhe faltar com o respeito. É possível ser combativo e ético.

Na presente campanha presidencial, lastimável que aconteçam duas campanhas paralelas: a “oficial”, pela TV e pelo rádio, e a “paralela”, através de verdadeira rede de calúnias e intrigas, pela Internet. Péssimo que, iniciado o segundo turno, o candidato tucano, ex-governador Serra, tenha incorporado ao seu discurso, portanto à campanha “oficial”, conteúdos antes disseminados através do jogo sujo via Youtube, e-mails e sites de relacionamento, validando assim procedimentos que deveria condenar . Ou seja: para vencer, tudo vale, mesmo que ponha por terra a reputação de quem sempre procurou exibir uma aura de seriedade.

Aí, além de uma perversa inversão de valores, provavelmente ocorre também a subestimação da capacidade de discernimento da maioria do eleitorado.

12 outubro 2010

Pesquisa mostra que cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo

. A informação é da Agência Brasil. Um estudo do Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (Ifpri, na sigla em inglês) mostra que pelo menos 1 bilhão de pessoas sofrem de desnutrição no planeta. A situação é considerada grave na América Latina, especialmente na Bolívia, na Guatemala e no Haiti. As informações são da BBC Brasil.
. A pesquisa, intitulada Índice Global da Fome 2010, mostra que quase metade dos afetados pela desnutrição são crianças. Os níveis mais altos se encontram na África Subsaariana e no Sul da Ásia.
. O Brasil é considerado pelos pesquisadores como um caso de sucesso na questão do combate à fome. Segundo o estudo, entre 1974 e 1975, 37% das crianças brasileiras eram subnutridas. O índice caiu para 7% entre 2006 e 2007, melhora atribuída aos aumentos nos investimentos em programas de nutrição, saúde e educação ocorridos desde o fim da década de 70.
. O estudo aponta também que o número de desnutridos voltou a crescer, após cair entre 1990 e 2006. A explicação é a crise econômica e o aumento nos preços globais dos alimentos. O Ifpri considera a situação “extremamente alarmante” em três países, todos africanos (Chad, Eritreia e República Democrática do Congo). Outros 26 países vivem situação “alarmante”.
. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Segurança Alimentar (FAO), um ser humano passa fome quando consome menos de 1.800 quilocalorias por dia, o mínimo para levar uma vida saudável e produtiva.
. Com sede em Washington, o Ifpri é mantido pelo Grupo Consultivo de Pesquisas Internacionais em Agricultura (Cgiar, sigla em inglês), que é uma aliança de 64 governos, fundações privadas e organizações regionais. O objetivo do instituto é buscar soluções sustentáveis para acabar com a fome e a miséria no mundo.

Boa noite, Castro Alves

As duas flores

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Diversidade contemplada

Ciência Hoje Online:
O periódico científico de acesso aberto PLoS estende sua teia e cria portal novo que se propõe a contemplar um único – e amplo – tema: a biodiversidade.
. O mundo da edição científica recebeu no início da semana uma boa novidade vinda da família de publicações PLoS (sigla em inglês para 'biblioteca pública de ciência'), que publica artigos de acesso aberto e é uma das principais referências mundiais de publicação científica aberta e com licença flexível.
. O grupo PLoS anunciou o lançamento da sua nova empreitada: o PLoS Hubs: Biodiversidade, um portal de artigos científicos especializados nesse tema.
. Como motor para decolar, a iniciativa recorreu ao grande acervo das revistas do grupo PLoS ligados ao tema da biodiversidade. Todos os artigos reunidos no portal já faziam parte dos arquivos do periódico digital – no ar há quatro anos.
. Leia a matéria na íntegra http://twixar.com/JpPL

Renato Rabelo: bravo, Dilma!

No Vermelho:
O primeiro debate do 2º turno entre os candidatos a presidente da República na TV Bandeirantes revelou o melhor momento de Dilma Rousseff nesse tipo de disputa. Ela se portou com veemência, convicção e, aliás, com muita serenidade diante das provocações rasteiras, agressivas e insidiosas de que tem sido alvo. Enfrentou com indignação e altivez a campanha sórdida perpetrada contra ela.

Por Renato Rabelo*

José Serra, em muitos momentos do debate, desde o começo, sentiu-se desnudado, sem respostas. A fim de esconder seu desapontamento, diversiona: vocifera que Dilma está “agressiva”. A contundência de Dilma que tirou a máscara de Serra – as suas “mil caras”, como denominou precisamente nossa candidata – é repercutida pela oposição e a mídia serrista como atitude agressiva. É obvio. É o mote que encontraram, aos vexames, para esconder o impecável desempenho de Dilma e o atônito e rebarbativo desempenho de Serra.

A reação de muitas pessoas do meu convívio fora do meio político – diga-se que alguns votaram em Marina no primeiro turno – foram eloquentes: “Agora entendo por que Lula a escolheu. Ela é de fato destemida e preparada”.

Dilma, no transcorrer das duas horas de debate, procurou demonstrar que Serra não apresentou nenhum projeto para o país, esconde o desastre do passado governo tucano de FHC – e ele foi destacado defensor do que diziam os documentos dessa época: “O maior plano de privatizações da história no mundo”.

Dilma reagiu com justeza à situação em que Serra, sem projeto a apresentar, agindo com seu sistema de apoio, apelou para o nível da baixaria, da mentira e deturpação grosseira, explorando valores caros ao povo, para incitá-lo vergonhosamente contra a sua candidatura. É tudo isso que Dilma, numa nova atitude, procurou responder nesse debate de domingo.

Logo no primeiro bloco do debate, em face da pergunta lançada de qual o maior desafio para o futuro governo nacional, Serra revelou o seu limite: reduziu essa questão central para o futuro da nação a algumas medidas mal alinhavadas para educação. Dilma foi direta na questão do desafio central para o Brasil: desenvolvimento robusto com distribuição de renda e crescimento sustentado.

Este é o caminho a ser perseguindo. Porque, sem um desenvolvimento acelerado do país, não iremos alcançar uma educação para todos de qualidade, assim também no caso da saúde e outras exigências sociais fundamentais. É certo que, no projeto nacional de desenvolvimento, a educação ocupa papel nodal. Dilma enfocou o desafio no seu verdadeiro contexto, demonstrando o caminho e um horizonte para o Brasil.

O debate sustentado por Dilma trouxe a lume que o candidato tucano não tem um projeto explícito e apenas apresenta receitas pontuais demagógicas (salário mínimo de R$ 600, sendo que antes os tucanos não conseguiram sequer elevar o salário mínimo a mais de 80 dólares), ou “pré-projetos pilotos”, sem dimensão em relação ao tamanho do problema a ser enfrentado – clínica de 90 leitos para atender população de mais de 400 mil dependentes químicos. Mostrou que ele esconde o desastre do passado governo tucano de FHC, com investimentos reduzidos e contidos pela tutela ao FMI tornando a infra-estrutura sucateada, hoje sem nenhuma autoridade para criticar as inúmeras obras dos ambiciosos PAC 1 e PAC 2 iniciadas pelo governo Lula.

Também Dilma denunciou que ela, quando assumiu a presidência do Conselho da Petrobras, no primeiro governo Lula, encontrou planos de “esquartejamento” desta empresa estatal, dividindo-a em fatias, preparando sua privatização por partes. Dilma também acentuou a posição defendida pelo esquema de Serra, e sem uma orientação nítida da parte dele, em mudar o projeto apresentado pelo governo sobre o pré-sal, dando-lhe uma natureza privatista, entregando aos grandes monopólios internacionais a exploração de tamanha riqueza, componente essencial para o alcance de uma nação moderna e próspera.

Dilma teve o protagonismo durante o transcorrer de todos os blocos, demonstrando profundo conhecimento do governo nacional e do Brasil.

Bravo, Dilma!

* Renato Rabelo é presidente nacional do PCdoB

Que o debate se aprofunde

. Grande mídia aturdida por se surpreender com a postura de Dilma. Esperava que ela aguentasse resignada tanta calúnia e parcialidade!
. E o bom é que questões programáticas vêm ao centro do debate – e nisso o DNA neoliberal de Serra se desmascara aos olhos do eleitorado.

11 outubro 2010

No 1º debate, Dilma reage e dá novo tom à campanha no 2º turno

No Vermelho:
. "Cuidado com as mil caras, Serra". Esse foi um dos motes do primeiro debate do segundo turno entre os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). A petista não ficou na defensiva. Ao contrário, acuou o tucano em vários pontos: da campanha de calúnias na internet às privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso, passando pela venda do banco Nossa Caixa para o Banco do Brasil.
. Dilma lembrou a participação de Verônica Serra em episódios de desvirtuação da campanha: "Sua esposa, disse que a Dilma é a favor da morte de criancinhas". Depois complementou: "Isso é ódio, coisa que o Brasil não tem". Serra não respondeu.
. O tucano também se calou quando, ainda no primeiro bloco, Dilma o instigou a falar sobre o assessor Paulo Vieira de Souza, que é acusado de desaparecer com R$ 4 milhões da campanha do tucano.
. Ao contrário de Serra, Dilma se mostrou firme em dois assuntos polêmicos: o caso Erenice e o aborto.
"Concordo com a regulamentação. São 3,5 milhões de mulheres que praticam aborto em condições precárias. O que vamos fazer com essas mulheres, atender ou prender?"
Privatizações - Outro tema bastante presente no debate. A petista observou que o assessor do tucano e ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylbersztain se manifestou ser a favorável à privatização do pré-sal.
. A petista também citou a tentativa de divisão da Petrobras para ser negociada em partes, ainda no governo FHC.
. Serra tentou sair do tema privatizações da era FHC defendendo a da telefonia. "O Brasil hoje tem 190 milhões de telefones ", disse o tucano, que finalizou: "A era do PT seria a era do orelhão". Dilma, em seguida rebateu: "O meu Brasil não é do orelhão, é o da banda larga".
. Outra tentativa de privatização bastante discutida foi a da Nossa Caixa, banco estadual de São Paulo. Dilma acusou o tucano de querer vender o banco e disse que o governo federal foi atrás para que a instituição não fosse vendida a empresas internacionais. Serra disse que a compra da Nossa Caixa fortaleceu o BB. Dilma rebateu que a compra do BB foi o iniciativa do governo Lula, porque Serra iria vender de qualquer jeito.
. Dilma também questionou seu adversário sobre a continuidade de programas do governo Lula, como o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, entre outros. "Vou continuar tudo o que deve ser continuado", disse Serra, sem nominar quais seriam esses programas.
. Serra também teve de responder sobre programas do governo de São Paulo, como a dos salários dos policiais, combate às drogas e educação. (Por: Ricardo Negrão, no Rede Brasil Atual).

Uma crônica minha no site da Revista Algomais

Catabil sobre o Índico
Luciano Siqueira

Faz um calor quase insuportável no Rio de Janeiro, 39,9 graus, naquela tarde de 31 de janeiro de 1951. O presidente Getúlio Vargas acabara de tomar posse. Após o juramento formal dirige-se às escadarias do Palácio do Catete e pronuncia emocionado discurso diante da multidão que o consagra.

– Não semearei ilusões nem farei prodígios, afirma.

Nossa atenção, concentrada naqueles lances iniciais de um novo momento histórico, de repente é desviada pelo sacolejo abrupto do turboélice da Air Link que nos transporta de Durban, na África do Sul, para Maputo, capital de Moçambique, em cumprimento de missão oficial. Parece catabil em estrada esburacada. Demorado. Persistente. Capaz de inquietar a quem muito viaja e jamais teve receio de avião. No assento ao lado, Roberto Trevas, coordenador de relações internacionais da Prefeitura do Recife, outro veterano de viagens aéreas, também se deixa perturbar. Pelas janelas minúsculas contemplamos a imensidão do Índico: nós e o mar, imenso mar a perder de vista – e o catabil prossegue perturbador.

Cintos ajustados, um olho na linha do horizonte e o outro nas coisas que teimam em balançar dentro do avião. À nossa frente, quase ajoelhada, imperturbável, a única aeromoça a serviço dos poucos passageiros – morena-jambo de olhos cor-de-mel e alvo sorriso, cabelos negros lisos como os de uma índia -, equilibra-se como pode e enfileira caixinhas de suco artificial, sanduíches, latas de refrigerante e outras coisinhas do precário serviço de bordo.

- Esse sorriso nos tranquiliza. E inspira uma crônica.

- Muito bonita, é verdade – concorda Roberto Trevas.

- Parece de origem indiana.

- Ou paquistanesa.

- Qual será o nome dela?

- What’s your name? – pergunta Trevas com o seu impecável inglês de sotaque paraibano. E completa: - Meu amigo aqui é um escritor brasileiro e deseja fazer uma crônica de que você será personagem. Precisa saber o seu nome.

Sempre sorrindo ela pronuncia algo que não compreendemos. Depois escreve numa folha de papel: Loganie. E, apesar do balouçar irritante da aeronave, move-se com habilidade e a todos serve com graça e presteza.

Vergonha ficar assim abalado quando nossa fada-madrinha sul-africana faz o seu trabalho como se nada de anormal houvesse. O sanduíche é sem gosto, o suco tem sabor estranho (de maçã) e o pensamento voa. Afinal, Vargas vai iniciar o governo com o apoio de apenas um terço da Câmara dos Deputados. Feito o primeiro governo Lula. Tem amplo apoio popular, como Lula, mas a direita oposicionista, comandada pela velha UDN, que nem o PSDB de hoje, o bombardeia com acusações de todos os tipos. Tenta desmoralizar o presidente, acusando-o de conivente com corruptos – embora nenhuma evidência haja de que tenha acobertado um ato ilícito sequer. Mais turbulência – novamente o catabil sobre o oceano. Mas é preciso manter a serenidade – e até sorrir, como Loganie, que se desdobra em gentilezas talvez acreditando que esse amigo de vocês seja mesmo um escritor. Que pense assim, não faz mal. Coisas da vida. E da política. Mal-entendidos e turbulências que devem ser enfrentadas com paciência e leveza.

E assim vamos até Maputo, sob a proteção daquele sorriso apaziguador, que nos dá tranquilidade para voltar à leitura de Quem matou Vargas – 1954, uma tragédia brasileira, de Carlos Heitor Cony (Editora Planeta, 2007). E já em terra firme escrever essa quase-crônica.