16 janeiro 2014

Um construtor da nacionalidade

Antonio Parreiras
Homenagem a Frei Caneca
Dia 13 de janeiro de 2014


Betania Correa de Araujo
Diretora do Museu da Cidade do Recife


Qual o sentido de interromper nossas atividades numa tarde de segunda feira, dia de branco, em um mês de balanço e planejamento, para homenagear um homem que morreu há 189 anos?

Qual o sentido de manter instituições que se ocupam de guardar, conservar e pesquisar, objetos excluídos da rede de circulação e consumo de uma cidade refém de um tempo que não para?

Qual o sentido de preservar e restaurar monumentos que perderam sua função original, que na maioria das vezes atrapalham nossos percursos e não atendem as exigências dos imperativos urbanísticos do nosso tempo?

Responderia Alexis de Tocqueville: para iluminar o futuro, para que o espírito não vagueie na escuridão.

Experiências heróicas, documentos históricos, e monumentos arquitetônicos
funcionam como faróis, norteiam nossas ações, orientam nossas metas, iluminam o nosso futuro.

Experiências como a de Joaquim da Silva Rabelo, o nosso Frei Caneca, executado neste sítio, em 1825 nos inspiram, nos animam, nos iluminam.


Caneca viveu em um território de tensões, em um tempo de grandes transformações, políticas, sociais e econômicas. Nasceu numa vila, a Vila de Santo Antônio do Recife de Pernambuco, uma das mais importantes do império português até o século XIX.
Morreu aos quarenta e cinco anos numa cidade que além de triplicar a sua população se tornaria capital dois anos depois da sua morte.

Ao longo da curta existência, Caneca presenciou revoluções, abertura de portos,
independência do Brasil, transformações de hábitos e costumes que exigiam a criação de novos pactos sociais.

Lutou para construção de um Estado livre, republicano. Utilizou sua inteligência e sua capacidade de liderança para participar ativamente de um projeto revolucionário.
Escreveu e editou um jornal, o Typhis, ferramenta para difusão das ideias dos confederados e redigiu as bases de uma constituição. Homem de mente aberta, de apetite enciclopédico, Caneca possuía uma visão larga, universal.

No momento em que o estado de Pernambuco vive grandes transformações políticas, sociais e econômicas e a cidade do Recife vive um processo de re urbanização e re significação de seus espaços, valorizar e divulgar o legado de Caneca é apropriar-se do nosso maior capital, o simbólico.

Exatamente há um ano atrás, partindo da ideia de que é da natureza humana acreditar que tudo que é possível deve ser tentado, iniciamos uma parceria com o arquiteto e urbanista Jose Luiz da Mota Meneses para refletir sobre as possibilidades urbanísticas do Largo das Cinco Pontas face as grandes intervenções em estudo para o Cais José Estelita e o bairro de São José.

Essas conversas renderam um estudo que inclui a construção de um parque com uma rede de equipamentos para abrigar e difundir a memória da cidade. O parque das Cinco Pontas, não é um sonho, é um desafio para uma gestão ousada e com uma visão larga do Recife e do Largo.

Para concluir, cito um homem brilhante, que morreu recentemente, e que faz parte de nossas vidas, nos nossos tablets, whats App e instagrams Steve Jobs dizia: Você não consegue ligar os pontos olhando para frente, você só consegue ligá-los olhando pra trás.

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