Delta é mais
transmissível, mas estudos não apontam elo com casos mais severos, dizem
especialistas
Variante tem provocado aumento
de casos pelo mundo. Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que maior
transmissibilidade não significa, necessariamente, que quadro de Covid será
mais grave.
Por Bruna de Alencar e Mariana Garcia, G1
A variante delta do coronavírus já foi detectada em pelo menos 111 países,
segundo o mais recente boletim epidemiológico da Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim como as outras variantes de preocupação (alpha, beta
e gamma), ela é mais transmissível. Entretanto, ainda não é possível afirmar se
as variantes provocam casos mais graves ou se são mais letais.
“Por enquanto, o que sabemos é que a variante delta
é mais transmissível, mas ainda não conseguimos definir exatamente quão mais
grave é. Isso vem desde a alpha”, diz a imunologista Ester Sabino.
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Como a variante delta avança pelo mundo
e quais as perspectivas para o Brasil
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O infectologista da Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, também destaca que, até aqui,
só está comprovada a alta transmissibilidade das variantes.
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“Ainda
não há comprovação que as variantes, inclusive a delta, tenham uma taxa de
virulência maior entre os infectados. O que acontece é que, como elas são mais
transmissíveis, há chances da população, caso infectada, desenvolva a doença,
seja casos leves, moderados ou graves”, explica Kfouri.
Potencial de contágio
Em um
artigo publicado na revista científica Eurosurveillance, pesquisadores ligados
à OMS e ao Imperial College London apontam que a variante delta foi a que teve
o maior aumento na taxa de reprodução em relação ao coronavírus original.
Enquanto a
alfa (B.1.1.7, responsável pelo primeiro surto no Reino Unido) teve aumento de
29% na transmissibilidade, os pesquisadores apontam que a delta chegou a 97% de
incremento em relação ao vírus original.
A pesquisadora Melissa Markoski, professora da
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e pós-doutora em
imunologia, explica que uma das formas de visualizar a transmissibilidade é
através do seu R0 (lê-se 'R' -zero), que mede a taxa de reprodução do agente.
Em outras palavras, o R0 é o número
médio de pessoas que cada indivíduo infectado com um vírus consegue contaminar,
considerando que as pessoas não estão vacinadas e nem utilizaram métodos de se
proteger do contágio.
"Quando a R0 é menor que 1, significa que o agente
está controlado, explica Markoski. Entre as variantes da Covid-19, a variante
delta é a mais contagiosa, apresentando R0 entre 5 a 8.
Uma taxa maior de contágio, contudo,
não significa maior taxa de mortalidade. Markoski explica que embora sejam
conceitos diferentes, muitas vezes maior taxa de contágio é relacionado à maior
gravidade de uma determinada doença. Isso acontece porque, se uma doença for
mais contagiosa, haverá mais casos na população, o que pode ocasionar em um
aumento no número bruto de hospitalizações e mortes.
Mutação
do vírus é comum
Uma
variante é resultado de modificações genéticas que o vírus sofre durante seu
processo de replicação. Isso ocorre de maneira aleatória. “Variantes aparecem
todos os dias, centenas ou milhares, eu diria. A cada vez que o vírus se copia,
ele sofre mutações”, explica Kfouri.
Um único vírus pode ter inúmeras
variantes. Quanto mais o vírus circula – é transmitido de uma pessoa para outra –, mais ele faz
replicações, e maior é a probabilidade de modificações no seu material genético
que vão dar origem a novas variantes.
“Existem milhares de variantes, todos os dias surgem
novas. E no meio de milhares de novas variantes aparece uma com capacidade
maior de transmissão, que toma conta da epidemia. Quanto mais damos chances,
mais variantes piores aparecem”, diz Sabino.
Por isso, Raquel Muarrek,
infectologista do Hospital São Luiz e do Emilio Ribas, ressalta que é
importante avançarmos na vacinação da população para evitar que o vírus
continue tenso sucesso em suas mutações.
“Existem milhares de variantes, todos os dias surgem
novas. E no meio de milhares de novas variantes aparece uma com capacidade
maior de transmissão, que toma conta da epidemia. Quanto mais damos chances,
mais variantes piores aparecem”, diz Sabino.
Por isso, Raquel Muarrek,
infectologista do Hospital São Luiz e do Emilio Ribas, ressalta que é
importante avançarmos na vacinação da população para evitar que o vírus
continue tenso sucesso em suas mutações.
"Qual é o
problema: temos combinações dessas mutações. Pessoas vacinadas apenas com uma
dose ou não vacinadas fazem uma combinação ou uma mutação do vírus",
afirma Muarrek.
O impacto da vacinação
O especialista André Bom, do Hostital Sírio-Libanês, aponta
que a circulação de variantes com maior transmissibilidade vai exigir que mais
pessoas sejam vacinadas para a obtenção da chamada "imunidade
coletiva".
“Pode interferir muito em alguns
sentidos. Com a variante original, uma pessoa infectava duas a três pessoas.
Isso faz com que a gente precisasse de uma cobertura vacinal entre 60% e 70%.
Com a variante delta, uma pessoa infecta 5 a 8 pessoas diferentes, então, você
precisa de uma proporção muito maior de vacinados para reduzir a circulação do
vírus de forma sustentável”.
Tema político: A CPI continua botando mais caroço para o indigesto
angu de Bolsonaro https://bit.ly/3dkvSvC
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