29 junho 2015

Manipulação ridicula

Só um idiota acredita no 'escândalo' da UTC

Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

Somos todos idiotas.
É, pelo menos, o que a grande mídia pensa.
O ridículo estardalhaço em torno das alardeadas revelações do dono da UTC ultrapassa todos os limites do descaro, da hipocrisia e da desonestidade.
Colunistas – os suspeitos de sempre –parecem fingir que acreditam nos disparates que escrevem.
Mais uma, o coro é pelo impeachment de Dilma. Dia sim, dia não, aparecem supostas novidades que levam os colunistas das empresas de mídia a gritar, histéricos, pelo fim de um governo eleito há pouco tempo com 54 milhões de votos.
O caso particular do UTC é icônico.
Todos os holofotes vão, condenatórios, para Dilma e para o PT, pelo dinheiro dado para a campanha petista.
Foram, segundo cálculos de um site ligado à Transparência Brasil, 7,5 milhões de reais.
Não é doação: é achacamento, propina, roubo.
Ninguém diz que a campanha de Aécio levou ainda mais da UTC: 8,7 milhões.
Neste caso, não é propina, não é achaque, não é roubo. É demonstração de afeto e reconhecimento pelos dentes brancos do candidato Aécio.
E eles querem que a sociedade acredite nesse tipo de embuste.
A mídia presta mais um enorme desserviço ao Brasil com essa manipulação grosseira e farisaica.
Você foge do real problema: o financiamento privado de campanhas, a forma como a plutocracia tomou de assalto a democracia.
É um problema mundial, e não apenas brasileiro. Dezenas de países já trataram de evitar que doações de grandes empresas desvirtuem a voz rouca das ruas e das urnas.
No Brasil, a mídia não trata desse assunto, em conluio com políticos atrasados e guiados pelo dinheiro, porque se beneficia da situação.
Nem o mais rematado crédulo compra a história de que as doações empresariais são desinteressadas.
A conta vem depois do resultado, na forma de obras ou leis que beneficiam os doadores.
Veja os projetos de Eduardo Cunha, para ficar num caso clássico, e depois observe as companhias que o têm patrocinado.
Em alguma publicação, li até uma lição de moral na forma como o PT teria abordado o dono da UTC para pedir dinheiro para a campanha de Dilma.
A abordagem não teria sido “elegante”.
Imagina-se que quando o PSDB solicita dinheiro seja coisa de lorde inglês, pelo que pude entender: ninguém fala em dinheiro, ninguém toca em dinheiro. É como uma reunião social, entre amigos, em que o dinheiro é a última coisa que importa.
Como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.
Outro crime jornalístico que é cometido é dar como verdadeiras quaisquer coisas ditas nas delações, como se elas estivessem acima de suspeita.
Quer dizer, esse tratamento só vale contra o PT. Quando se trata dos amigos da mídia, aí sim entram as ressalvas. Há que investigar, provar etc – coisas que absolutamente não valem para o PT.
Que a imprensa, movida pelo interesse de seus donos, aja assim, até que você pode entender.
O que não dá para aceitar é que a justiça faça a mesma coisa, e com ela a Polícia Federal.
Porque aí você subverte, por completo, o conceito de justiça, e retrocede aos tempos de João VI no Brasil.
Sua mulher, a rainha Carlota Joaquina, mandou matar uma rival no amor.
Dom João pediu investigação rigorosa.
Quando chegaram a ele os resultados do trabalho, com Carlota Joaquina comprovadamente culpada da morte, ele refletiu, refletiu – e queimou os documentos que a incriminavam.
Aquela era a justiça, e esta nossa não é muito diferente quando se trata da plutocracia.

Interação necessária

Aprender com o mundo

Aldo Rebelo*, no portal Vermelho

O Brasil está estruturando um programa de cooperação internacional nas áreas integradas de Ciência, Tecnologia e Inovação. Em viagens recentes aos Estados Unidos e Rússia, e contatos com autoridades da Argentina, China, Coreia do Sul, México e União Europeia, iniciamos novas ou reiteramos antigas tratativas com vistas à solução de problemas nacionais, como o baixo índice de inovação que ainda trava a indústria e o setor de serviços.

País em desenvolvimento, o Brasil participa das agendas científicas da comunidade internacional ao mesmo tempo em que tem de forjar soluções para dificuldades que não afetam as nações mais desenvolvidas. É o caso de doenças tropicais para as quais precisamos criar vacinas, a exemplo da malária, mal de Chagas e leishmaniose.

O progresso científico e tecnológico que almejamos apoia-se no intercâmbio internacional como uma via de mão dupla, sem nenhum viés colonialista, mas, do nosso ponto de vista, sempre atento à soberania e interesse nacionais. A História ensina que não existe ajuda neutra e que por trás dos idealistas dos laboratórios move-se o general comércio. Daí porque as palavras de ordem devem ser transferência conjunta de recursos e conhecimento, e recusa a qualquer tipo de caixa-preta, sem esquecer, obviamente, experimentos duvidosos de que jamais seremos cobaias.

Com os Estados Unidos, maior potência científica do planeta, o Brasil tem uma longa tradição de parcerias que passam ao largo de contradições geopolíticas. Se fomos, por muito tempo, um parceiro consumidor, agora, na globalização, impõe-se uma relação de cooperação e disputa – sobretudo na competição por mercados em que ganhamos terreno, como o de produtos agropecuários.
Mas ainda temos o desafio de compartilhar o planejamento estratégico, e por isso a inovação tecnológica terá destaque na agenda que a delegação brasileira, liderada pela presidente Dilma Rousseff, cumpre na próxima semana em centros de pesquisa americanos.

* Ministro da Ciência e Tecnologia

Palco para o fascismo

Jurista denuncia ataques ao Estado de Direito

Brasil 247

Um dos maiores juristas do País, Bandeira de Mello, crítico da operação Lava jato, diz que a imprensa "monta palco" para o juiz Sergio Moro, que usa delação de forma equívoca, para coagir; "com o apoio da imprensa, o país está caminhando, a passos largos, para o fascismo. Se a imprensa não montasse um palco para esse juiz, isso não aconteceria. Tanto é assim que na hora que aparecer algum assunto novo, como a Olimpíada, esse assunto todo vai morrer", diz; neste domingo, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a ser vítima de uma agressão fascista, num restaurante de alto padrão, em São Paulo

Para o jurista Bandeira de Mello, crítico da operação Lava jato, a imprensa "monta palco" para o juiz Sergio Moro, que usa delação de forma equívoca: “É evidente que há abuso e excesso. A delação premiada não é um instituto que existe para coagir. Você prende uma pessoa e a mantém presa até que faça uma delação? Isso é coação. Delação deveria ser espontânea”, diz.
“Com o apoio da imprensa, o país está caminhando, a passos largos, para o fascismo. Se a imprensa não montasse um palco para esse juiz, isso não aconteceria. Tanto é assim que na hora que aparecer algum assunto novo, como a Olimpíada, esse assunto todo vai morrer”.
Neste domingo, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a ser vítima de uma agressão fascista, num restaurante de alto padrão, em São Paulo.
Em entrevista à ‘Folha de S. Paulo’, ele também contesta os argumentos do juiz para justificar mandatos: “Com argumentos desse tipo [como pedir prisões para impedir destruição de provas], você pode torturar e matar. Se esse argumento do interesse maior da sociedade prevalecer, pode torturar e matar”.
Bandeira de Mello ressalta que a corrupção sempre existiu, mas a novidade é a imprensa tratar disso como um verdadeiro escândalo.

28 junho 2015

Pronunciamento do PCdoB

Defender o Estado democrático de Direito e a retomada do desenvolvimento


A qualquer sinal de retomada da iniciativa política do governo,a oposição de direita neoliberal desencadeia novos ataques para agravar a crise política e econômica do país e, assim, dar sequência à escalada para desestabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff. Todavia, para manter esse ataque cerrado, a oposição se expõe, revela sua essência antidemocrática e inconsequente com interesses da Nação brasileira, pois cada vez mais afronta o Estado Democrático de Direito e atua para enfraquecer a economia nacional e dilapidar, a Petrobrás, maior empresa do Brasil. Na última semana, a Operação Lava Jato prendeu altos executivos das maiores empresas de engenharia nacional.
Na aparência, um espetacular e inédito fato do necessário combate à corrupção, que deve resultar em julgamento e punição, na forma da lei, de corruptos e corruptores. Mas, foi a senha para a grande mídia – integrante do consórcio oposicionista neoliberal –fazer soar os tambores e os rumores de que com esse lance a dita Operação teria chegado às cercanias de seu cobiçado alvo: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem meias palavras, o monopólio midiático espalha aos quatros ventos a boataria de que Lula poderia ser preso ou vítima de qualquer outro ato arbitrário, mesmo que não haja nenhuma investigação na Lava Jato contra o ex-presidente, conforme foi constrangidoa admitir em nota o juiz do Paraná. Lula é o fiador do ciclo progressista iniciado em 2003, maior líder de massas do país e símbolo de esperança de amplas camadas do povo.Por isso mesmo, é considerado um alvo preferencial do complô golpista da direita.
Essa boataria ignominiosa é reveladora do grau de açodamento a que chegou a investida golpista da direita neoliberal, em marcha desde que ela sofreu a quarta derrota seguida nas eleições presidenciais. O objetivo é claro: reaver o poder para ceifar as conquistas do ciclo progressista iniciado em 2003. A ofensiva para aprovar a terceirização, a precarização do trabalho, a redução damaioridade penal, a constitucionalização do financiamento empresarial das campanhas,a contrarreforma política com restrição ao pluralismo político e partidárioe, ainda, a campanha de cunho obscurantista que dissemina ódio e divisões no seio do povo, manipulando a religiosidade, insuflando a homofobia… tudo isso faz parte da pauta regressiva e reacionária que a direita quer impor ao país. Dada a proximidade da votação, se destaca a importante batalha contra a redução da maioridade penal, no sentido de o Partido reforçar ao máximo a mobilização para que não aconteça tal retrocesso.
Lava Jato cada vez mais usada politicamente
Com a sentença que determinou a prisão mais recente de empresários, o juiz de primeira instância do Paraná tenta, também, impor, na prática, sua concepção de que as empresas investigadas não devem manter contratos ou participar do programa de concessões do governo federal. Essa declaração faz coro com vozes da direita contrárias aos acordos de leniência através dos quais corruptos e corruptores seriam julgados e punidos, os prejuízos aos cofres públicos ressarcidos e, em contrapartida, as empresas continuariam em funcionamento para honrar os contratos, realizar as obras e preservar os empregos. Sumariamente proibir as empresas de engenharia nacional investigadas de atuarem no país teria como consequência direta dificultar ainda mais a retomada do crescimento e entregar o mercado das grandes obras a empresas estrangeiras. Essa “recomendação”, que não tem amparo legal, foi correta e prontamente contestada pelo governo.
Conforme tem assinalado o PCdoB e outras forças progressistas, a Operação Lava Jato desvirtuou-se. Está claro que as sucessivas ações seletivas, afrontosas ao Estado Democrático de Direito,estão direcionadas para golpear a presidenta Dilma Rousseff, criminalizar o PT, desmoralizar a esquerda como um todo e atingir outros partidos da base do governo e, agora, tentando materializar a antiga ameaça de alvejar o ex-presidente Lula. Crescentemente fica nítido o estratagema da Lava Jato. Prende-se, se estende a prisão por tempo indeterminado, não a bem das investigações, mas para se coagir o preso aderir ao expediente da delação premiada, que a seguir passa a ter uso político-partidário. Em sua mais recente investida, adireita busca envolver membros do Tribunal de Contas da União (TCU) para a trama golpista, visando que essa corte venha a recomendar ao Congresso Nacional a reprovação das contas de 2014 do governo Dilma. É mais uma busca desesperada da direita de forjar um fato que alimente a pregação do impeachment.
Embora na ofensiva, a oposição enfrenta contradições e revela ser inconsequente
Apesar de se manter na ofensiva, a oposição neoliberal é incapaz de apresentar uma alternativa viável de projeto de desenvolvimento ao país e enfrenta ameaça de divisões. A candidatura de Aécio em 2018 é contestada pela pretensão do governador Geraldo Alckmin e há ainda especulações sobre uma possível dissidência de José Serra. A tão ridícula quanto reacionária expedição golpista de senadores de direita à Venezuela,liderada por Aécio Neves, Ronaldo Caiado et caterva, mostra a face tresloucada de uma oposição reacionária que, para atacar o governo Dilma,se aventura inclusivea interferir em assuntos internos de outros países, sob o risco de provocar um incidente diplomático entre duas nações vizinhas e amigas. Em contraponto positivo, a essa aventura provocativa, uma outra Comissão do Senado da qual fez parte a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) cumpriu importante missão diplomática sem colidir com a soberania do país vizinho.
O PSDB e seus aliados, também, se desmascaram ao atacar diretamente a Petrobrás, com os projetos de lei dos senadores José Serra e Aloisio Nunes Ferreira e outros que visam acabar o regime de partilha, tirar da estatal a exclusividade da operação do pré-sal com a participação da empresa com participação mínima em 30% dos blocos e, ainda, o fim do regime diferenciado de contratação. Nitidamente, fazem o jogo das multinacionais que pretendem enfraquecer a Petrobrás para se apoderar da imensa riqueza do pré-sal. Importantes inciativas econômicas do governo A superação da presente crise política e a continuidade do ciclo progressista dependem muito da retomada do crescimento, pois, a um só tempo, descortina a repactuação do governo Dilma, tanto com os trabalhadores quanto com setores do capital produtivo.
Neste sentido, destaca-se positivamente, por parte do governo, um conjunto de grandes iniciativas: lançamento do Programa Minha Casa, Minha Vida 3, que pretende somar 3 milhões de casas populares construídas até 2018; o Plano Safra com aumento de 20% para custeio da agropecuária; o aporte de 28, 9 bilhões para o Novo Plano da Agricultura Familiar, maior volume de crédito da história para este setor; o Plano de Exportações para estimular o setor produtivo e abrir espaço no mercado mundial; e o Plano de Concessões do governo federal que visa nos próximos anos a atrair mais de 190 bilhões de reais em investimentos privados, sobretudo nos setores de infraestrutura e logística. Obviamente, a grande mídia esconde ou minimiza aos olhos da opinião pública alcance destas iniciativas.
Aumento de juros está na contramão da retomada do crescimento
Contudo, apesar desses esforços, os efeitos dessas medidas carecem de tempo para terem consequência na economia real que se encontra estagnada e já corrói a oferta de empregos e a renda dos trabalhadores. O PCdoB, embora crítico ao ajuste fiscal, tem reiterado o apoio político à presidenta Dilma, votando favoravelmente ao ajuste, mas sempre procurando preservar os direitos trabalhistas e previdenciários.
Todavia, o Partido reitera sua posição contrária ao crescente aumento da taxa básica de juros,pois essa linha ascendente da Selic, está na contramão da grande meta do governo da presidenta Dilma de fazer o Brasil voltar a crescer, pois eleva a dívida pública, anula o esforço fiscal, e desloca o capital para as aplicações financeiras, inibindo o investimento privado. E mais uma vez o Partido ressalta a necessidade de governo tomar a iniciativa para que sejam taxadas as grandes fortunas e grandes heranças, como passo à realização de uma reforma tributária progressiva.
Unidade de amplas forças democráticas em torno de bandeiras aglutinadoras
Quando está em andamento uma contraofensiva do imperialismo e das forças reacionárias na América Latina e no Brasil, quando estamos diante de uma ameaça real de retrocesso, avulta como tarefa emergencial rechaçar e derrotar essa onda conservadora, como condição primeira para que venhamos a realizar as reformas estruturais democráticas necessárias ao desenvolvimento nacional.
Neste sentido, se agiganta a responsabilidade da esquerda e das demais forças políticas e sociais progressistas, bem como de suas principais lideranças, em relação a se efetivar a formação de uma frente ampla, a ser constituída com base na unidade de ação em torno de bandeiras concretas, exigindo para tal protagonismo do PCdoB e demais forças avançadas. No âmbito da esquerda, há que se destacar as conclusões positivas do 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, como parte de seus esforços para se situar adequadamentena arena política, se refazer dos danos provenientes do cerrado ataque de que é alvo e, também, para colocar em prática reflexões autocríticas que emergem em seu seio. Destaca-se, ainda, positivamente, o desmanche do calendário da fusão do PSB com o PPS, o que frustrou as expectativas do campo político conservador.
Nesta hora, o PCdoB destaca que é imperativo reforçar a unidade, sobretudo das principais forças políticas progressistas e das personalidades que lideram o campo democrático e popular. O oposto disto seria um erro crasso, de graves consequências. É natural, quando se procura alternativas e novos caminhos, que se se aflore um aceso debate – sem o que não se avança. Contudo, devemos sempre ter como base a relação de confiança mútua entre as forças progressistas que nos permita reunir forças e convicções em torno de bandeiras agregadoras de amplos segmentos, tais como: a defesa do mandato constitucional da presidenta Dilma,a retomada do crescimento econômico com a garantia dos direitos trabalhistas, o combate à corrupção com um conjunto de medidas, com destaque, para o fim do financiamento empresarial das campanhas.
Do exposto, de um conjunto de tarefas igualmente importantes, no momento, o PCdoB, destaca, em síntese, duas grandes questões. Primeira. Defesa do Estado Democrático de Direito crescentemente pisoteado por uma escalada autoritária, o que exige uma ampla mobilização de juristas, intelectuais, lideranças sociais e políticas, o engajamento dos movimentos sociais,enfim, de todos os partidários da democracia e contra o retrocesso institucional. Segunda. Retomada do crescimento da economia com distribuição de renda e geração de empregos, defesa da Petrobrás e da engenharia nacional.
São Paulo, 26 de junho de 2015
A Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil – PCdoB

Conjuração impatriótica

Como travar um país
José Bertotti* 
Na disputa em curso pelos rumos do Brasil, pudemos vivenciar nos últimos 12 anos uma real mudança de paradigma do nosso padrão de desenvolvimento, agora baseado na valorização do trabalho como principal meio de distribuição de renda em nosso país. Mas, finalmente,  a oposição, encontrou seu mote para ferir de morte essa política a partir da paralização da economia nacional, perpetrada pela operação “lava jato”.  
Nos últimos anos o principal impulso à nossa economia se deu exatamente ao resgatar milhões de brasileiros da mais profunda miséria, movimentando uma economia que incorporou milhões de pessoas ao mercado de trabalho. Uma política articulada de investimentos públicos e privados em infraestrutura, moradia, educação e saúde, que contou com valorização real dos salários e consequente elevação do padrão de consumo de nossa população. Somente no quesito emprego, segundo o Relatório Anual de Informações Sociais no período 1985-2002, foram gerados novos 8.191.282. Em dez anos, apenas, 2002-2012, o Brasil chegou a 47.458.712 empregos, ou seja, 18.774.799 novos empregos formais. 
Nesses dez anos tivemos quatro eleições presidenciais, liderados por Lula e depois por Dilma, à frente de uma ampla e heterogênea coligação de forças políticas que vem conduzindo o Brasil até os dias de hoje. No entanto, a oposição, formada por aqueles que ainda não apresentaram um caminho alternativo de desenvolvimento e por hora pregam que as profundas mudanças ocorridas no Brasil nesse último período foram produzidas em agências de publicidade, encontrou um caminho para provar que está certa: paralisar a economia brasileira. 
A dita operação “lava jato”, fruto de investigações da Polícia Federal, conduzidas pelo Ministério Público Federal e assistida pelo Juiz Sérgio Moro, nada mais é do que a exposição das entranhas do modelo capitalista de fazer negócios, praticado no Brasil e no mundo. Afinal, esses escândalos não são exclusividade do Brasil. Lembremo-nos da quantidade de prisões realizadas nos Estados Unidos após a quebradeira dos Bancos, que iniciaram a crise financeira internacional de 2008, e do escândalo internacional do HSBC com suas 100.000 contas secretas para lavagem de mais de 100 bilhões de dólares. 
No entanto, o uso político dessa operação, com seus vazamentos seletivos ilegais, quase colocaram em risco a eleição da Presidenta Dilma Roussef em 2014 (e isso por si só, já deveria ter colocado todos aqueles que sabem o valor da democracia com as barbas de molho). Agora, o furo é mais embaixo, fica claro que a operação “lava jato” tornou-se peça chave para derrotar o projeto em curso que mudou os rumos do Brasil. Dessa vez não se trata apenas de prisões seletivas, efetivadas para “arrancar” delações premiadas a todo custo, muitas das quais poderão, ou não, ser justificadas depois do devido processo legal, que deve ser conduzido até o final. Trata-se de paralisar o Brasil destruindo milhares de empregos. Muitos dos meus alunos no curso de Engenharia Mecânica foram demitidos do estaleiro no qual trabalhavam, por descontinuidade de contratos, assim como milhares de outros brasileiros estão sendo penalizados quando se quebra a espinha dorsal de setores importantes de nossa economia, inviabilizando qualquer possibilidade de novos investimentos para retomada de nosso desenvolvimento. 
O trabalhador brasileiro, que precisa trabalhar 44 horas semanais nos seu posto de trabalho para garantir o salário no final do mês, sabe que a imensa concentração de riqueza ainda existente no Brasil é fruto de centenas de anos de expoliação e apropriação indébita da riqueza gerada por nosso povo. Por isso, apoia a investigação e a prisão de quem enriquece desviando dinheiro alheio. Mas sabemos que esse apoio para por aí. Não podemos permitir que esse mote seja usado como arma política, principalmente quando os principais prejudicados são os próprios trabalhadores, à custa de seus empregos. Prendam-se os culpados, mas não quebrem as empresas. 
A disputa de hoje é política, unir uma ampla frente democrática que defenda o desenvolvimento nacional, defenda a engenharia nacional e a democracia é fundamental para que se trave o debate em nível elevado e desmascare aqueles que não conseguiram vencer nas urnas e querem quebrar o Brasil para provar seus argumentos. 

*Químico Industrial, membro da Direção Estadual do PCdoB/PE 

27 junho 2015

Onda devastadora

É a globalização
Eduardo Bomfim, no portal Vermelho

Tornou-se um clichê redundante, a fórmula mágica para explicar os múltiplos fenômenos que estão ocorrendo na sociedade de maneira cada vez mais avassaladora, rápidos e intensos: “ora, é a globalização, tudo o que se passa no mundo nos diz respeito, e nos afeta porque estamos conectados em uma sociedade digital”.
Criam-se então padrões globais para tudo ou qualquer coisa, invariavelmente assimilados, dados como certos, incontestáveis, já que são divulgados através de poderosos instrumentos midiáticos.
Uma grande mídia cuja função deixou de ser, há um bom tempo, informar aos leitores (mesmo como uma informação parcial, de classe), passou a determinar a linha de conduta da sociedade, a direção do que é verdadeiro, mesmo que falso, e o que é tido como politicamente incorreto.
O papel crescente da grande mídia oligárquica pode ser medido na dimensão com que ela passou a substituir, inclusive, organizações partidárias, aquelas de caráter retrógrado do liberalismo, recauchutado como neoliberalismo.
A face da ortodoxia econômica é a mais sentida visto que ela produz efeitos catastróficos entre as nações. A crise estrutural capitalista de 2008 tem se revelado um terremoto econômico, social comparável à bancarrota de 1929.
O processo de globalização é irreversível em várias direções como a velocidade das transações comerciais, financeiras, comunicações, cibernética, advindas de revolução tecnológica.
Mas a verdade é que movida por tecnologias inovadoras tem sido usada em beneficio de uma ínfima minoria de biliardários que enriquecem à velocidade da fibra ótica em detrimento da miséria crescente das maiorias sociais.
Como se disse, “espalham-se novos costumes, novas tecnologias com novos mimetismos, alimentam um, antes impensável, estoque de agressividade”. Destroem-se raízes, identidades culturais, as liberdades individuais e coletivas dos povos vão sendo destroçadas.
Portanto impõem em detrimento das grandes causas e valores universais a divinização da mercadoria. A tentativa de fazer valer uma espécie de anorexia ideológica ou mesmo mental.
Assim, tanto é verdade a globalização, como ela não é neutra. Encontra-se sob o jugo do capital financeiro mundial, o imperialismo, a grande mídia mundial. Contra esses adversários os indivíduos, as nações lutam com justeza.

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Acúmulo de forças

Os lutadores existem, cabe a nós conquistá-los!
Nilson Vellazquez, em seu blog

Se é verdade que a tarefa de construir a revolução brasileira - e assim seria em qualquer lugar - não é tarefa de poucos, de alguns iluminados, é verdade também que construir o caminho, a que nós do PCdoB chamamos de Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, exige a participação ativa de um amplo espectro de forças, com centralidade nos trabalhadores, juventude, intelectualidade e mulheres.

Esse amplo espectro de forças, nucleado pelos setores de esquerda, num primeiro momento está longe de ser hegemonizado pelos comunistas; precisa, sobretudo, reunir os progressistas, os nacionalistas e os interessados em desenvolvimento com participação e distribuição social.

Digo isso, pois, mesmo com 93 anos de história e com longa trajetória de contribuições benéficas à história do Brasil, os comunistas sempre foram duramente perseguidos, e com o fim da URSS e queda do muro de Berlim, a posição de defensiva estratégica coloca os comunistas, no Brasil e no mundo, apesar de relativas conquistas através da democracia burguesa, em situação difícil para acumular forças.

Sendo assim, é errada a visão dogmática e estreita de que só os comunistas 'puro-sangue' são aptos a transformar a realidade brasileira. 

No Brasil, país cujo desenvolvimento desigual, tardio, cujas rupturas sempre foram incompletas e onde o capitalismo se desenvolveu ao lado de uma estrutura atrasada (latifúndio, escravidão, ausência de reforma agrária, ausência de educação publica de qualidade, períodos longos de ausência de democracia), sempre existiram lutadores do povo; desde Zumbi aos mais atuais lutadores por cidades mais humanas, passando por José Bonifácio, Getúlio Vargas, Osvaldão, Helenira Rezende e tantos outros anônimos.

Dessa forma, o centro da questão hoje é como acumular forças suficientes para ocupar os espaços de poder político rumo a uma transição a um novo ciclo civilizacional, sem perder de vista que no ambiente hodierno cujas tendências fascistas, anticomunistas e conservadoras são tão presentes, é preciso redobrar os esforços para conquistar corações e mentes para a luta revolucionária.

Enquanto o nível de consciência revolucionária não é o 'desejado', é preciso ter ao nosso lado, nas nossas hostes todos aqueles lutadores do povo: os que lutam por moradias dignas; aqueles que lutam por terra; os que lutam por cidades mais humanas; aqueles que em suas comunidades atendem às demandas populares; os que ajudam comunidades inteiras com serviços de saúde; enfim, todos aqueles que - mesmo sem perspectiva revolucionária - buscam fazer o bem aos seus pares.


O "x" da questão, nesse caso, é como conquistá-los. Como aliar a luta pelo específico, pelo imediato pelo qual todos esses lutam, com o geral, com a luta por emancipação da classe trabalhadora, pela mudança do sistema. Remédio eficaz para essa necessidade começa pelo fim da estreiteza e soberba. Não somos - embora busquemos - os donos da verdade. Lutadores existem, cabe a nós conquistá-los! 

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25 junho 2015

A saída é política

Por onde evitar o fundo do poço?
Luciano Siqueira, no portal Vermelho

Seria praticamente impossível um desempenho positivo do governo e da figura da presidenta Dilma nas pesquisas de opinião em meio à múltipla crise em que o País está enredado.

Como o cidadão pesquisado pode responder positivamente em relação ao desempenho do governo se acorda todos os dias angustiado com os preços dos produtos de consumo imediato e com a ameaça de desemprego e chega ao final da noite vendo na TV o anúncio de mais um indicador "do pior momento da economia" nos últimos não sei tantos anos!?

Na última rodada divulgada pelo Datafolha no fim de semana que passou, a impopularidade do governo despencou mais uma vez: 65% dos entrevistados consideram que a gestão é ruim ou péssima; apenas 10% dizem que o atual mandato da presidenta é ótimo ou bom.

Índices semelhantes ao pior momento do governo Collor.

Perto do fim do poço, dizem alguns analistas. A causa está na economia, arrematam outros - assinalando que o desemprego rivaliza hoje com as deficiências da assistência à saúde e a corrupção no pódio do pessimismo dos brasileiros.

No Congresso Nacional, convertido em epicentro das decisões, a onda conservadora atropela tudo.

A agenda do Congresso não é a agenda da nação nem do povo.

A agenda do Congresso é a agenda do desgaste do governo a qualquer preço, inclusive com o agravamento da crise econômica e de suas consequências para a vida da maioria da população.

O ajuste fiscal, por exemplo, reconhecido quase à unanimidade como necessário, é torpedeado pela maioria parlamentar conservadora hostil ao governo, em que pese concebido em bases ortodoxas.

A correlação de forças é adversa - no parlamento e nas ruas. 
Tarefa ingente é reverter essa situação - pela política. O que requer do governo capacidade de combinar decisões anticrise com a negociação, tendo como tempero uma comunicação precisa, hábil e compreensível. 
A comunicação por si mesma não faz milagres. Ela reflete a agenda do governo, que precisa urgentemente se fazer proativa e positiva.

E tem como fazê-lo, no veio dos pretendidos investimentos em infraestrutura compartilhados com a iniciativa privada, o Plano Safra, o Minha Casa, Minha Vida fase 3, o Plano Safra para Agricultura Familiar e o Plano de Exportações, anunciados recentemente.

Falta completar esses propósitos com a reversão da política de juros altos, fator de inibição de novos investimentos. E com uma mudança de postura do governo, de acuada para a afirmativa.

Concomitantemente, cabe ocupar o relativo vazio no campo governista (resultante da falta de coesão, da indecisão e da ausência de iniciativa) com a articulação de um bloco de resistência que aglutine forças organizadas partidárias e dos movimentos sociais e personalidades progressistas. Projetando novas lideranças, inclusive.

Para tanto, debater e difundir uma plataforma que contemple a defesa da democracia e da engenharia nacional e da Petrobras, a preservarão dos interesses fundamentais dos trabalhadores e a retomada do crescimento.

Ou seja, escapar ao fundo do poço é possível com uma reversão de perspectiva a partir da política. O ambiente econômico muda como consequência de decisões políticas. 


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Bom dia, Thiago de Mello

Agora sim que é sagrado:
cada qual tenha sua arma
para quando a vez chegar
de defender, mais que a vida,
a canção dentro da vida,
para defender a chama
de liberdade acendida
no fundo do coração.


Arte: Juan Miró

24 junho 2015

Festa e luta contra a fome

Mesas nas tão fartas neste São João

Luciano Siqueira

É da nossa tradição, nesta parte do Brasil – o Nordeste: o ciclo junino – a noite de São João, dia 23, sobretudo – é comemorado pelo nosso povo com mais amplitude e paixão do que mesmo o Carnaval.
Não apenas no interior, mas também nas capitais, especialmente nos bairros periféricos, a noite é engalanada por fogueiras, quadrilhas e “palhoções” armados para o bom forró.
No Recife, a Prefeitura dá suporte a extensa programação, envolvendo artistas da Região.
Segunda-feira última, 22, ocorreu a 9ª Exposição da Culinária Afro-Brasileira, no Pátio de São Pedro, promovida pelo Núcleo da Cultura Afro-Brasileira em parceria com Mãe Elza de Iemanjá. Uma celebração da culinária africana, com cantos e rezas alusivos ao orixá Xangô e ao santo católico São João. Expressão da miscigenação, uma das marcas da formação do nosso povo.  
São João é sinal de mesa farta. Este ano, tem tanto.
A crise econômica e a escassez de chuvas concorrem para o aperto também à mesa. Nem tudo o que se quer é possível. Infelizmente.
O que chama a atenção para o combate à fome em sua dimensão, digamos, universal.
Mundo afora, a fome sempre existiu. Fatores diversos como causas – de calamidades naturais e climáticas à exploração e à iniquidade sociais.
O paradoxo é que, nas condições de hoje, tamanha a evolução da ciência e da tecnologia e da capacidade do homem explorar a natureza com eficiência e bom senso, é possível produzir alimentos em dobro do necessário para alimentar toda a população do Planeta, conforme assinala José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Daí ser significativo que, recentemente, fruto de políticas públicas articuladas, a ONU proclamou o Brasil fora do Mapa da Fome.
Uma conquista extraordinária, verificada no transcorrer das transformações em curso desde 2003, nos governos Lula e Dilma, em que mais de quarenta milhões de brasileiros e brasileiras superaram as condições de existência abaixo da linha da pobreza ou de extrema pobreza.
Conquista em certa medida ameaçada pelas graves incidências da crise econômica global sobre o nosso País e pelo atual ajuste fiscal rigoroso. Inflação e desemprego são irmãos gêmeos da subalimentação.
Em termos globais, a fome atinge 870 milhões de seres humanos.
O que reclama, segundo Graziano, a correta compreensão de que “a economia é capaz de lançar a pedra do futuro o mais longe possível. Cumpre à ética cuidar de sua trajetória”.
Que os festejos juninos reforcem em todos nós o melhor de nossa tradição cultural e também reavivem a consciência de que é preciso seguir na luta pela erradicação da fome no mundo. 

Arte: Militão dos Santos
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22 junho 2015

PCdoB no governo do Maranhão

Governo Flávio Dino é aprovado por 74,4% dos maranhenses

De acordo com levantamento divulgado neste fim de semana, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aumentou o nível de confiança do eleitorado. Ele foi aprovado por 74,4% da população maranhense na primeira pesquisa do Instituto DataM, após cinco meses de administração do Estado.
Flávio Dino foi o primeiro governador comunista eleito no Brasil. Ele obteve, em 5 de outubro de 2014, mais de um milhão e oitocentos mil votos, e foi eleito com 63,52% dos votos válidos dos maranhenses. Comparando com a pesquisa, uma boa parte dos que não votou no Dino, agora aprova o seu governo.
Comparações - O levantamento confirmou a pesquisa realizada pelo Instituto Exato, em abril deste ano, que apontava que a aprovação do governo Flávio Dino havia aumentado de 72% para 74%. Os índices de não aprovação praticamente se mantiveram nos mesmos patamares de 23%. O saldo da diferença entre os que acham ótimo/bom e ruim/péssimo manteve-se praticamente inalterado, variando de 27 para 26 pontos. “Considerando que o governo ainda não realizou nenhuma campanha publicitária e sofre forte oposição de um aparato midiático poderoso, o índice de aprovação, passados cinco meses, mostra que a população tem muita confiança na figura do governador Flávio Dino”, salienta o relatório.
O relatório da pesquisa destaca que a aprovação se dá em todas as regiões pesquisadas, sendo mais elevada no sul do estado, em que chega a 82%. Os patamares de aprovação do governo Flávio Dino são em média 10% superiores aos votos obtidos em outubro do ano passado e os índices de reprovação bem inferiores ao somatório do que foi alcançado pelos demais candidatos.
A pesquisa DataM ouviu 3 mil pessoas em 33 municípios de todas as regiões do Estado, entre os dias 8 e 15 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Do Portal Vermelho, com informações Jornal Pequeno
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Plano Safra

O maior volume de crédito da história para a agricultura familiar

Blog do Planalto
O Novo Plano Safra da Agricultura Familiar 2015-2016 é o maior já lançado pelo governo federal, com um valor recorde R$ 28,9 bilhões, ou seja, 20% a mais que na safra anterior. Esse valor, disse a presidenta Dilma Rousseff ao lançar o programa nesta segunda-feira (22), revela o compromisso do governo com o setor, que é uma das prioridades para a economia brasileira. Foi esse compromisso que tirou o Brasil do mapa da fome no mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), lembrou.
Do total anunciado pela presidenta, R$ 26 bilhões serão destinados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que completa 20 anos de criação. “O esteio da nossa política é reconhecer que temos que fazer um imenso esforço para criar, dentro da nossa agricultura, um fator de fortalecimento da agricultura familiar. O Pronaf chega ao seu vigésimo ano mais justo”, declarou.
Além do valor recorde de financiamento, a presidenta Dilma anunciou ainda que, mesmo em ano de ajuste da economia, as taxas de juros reais para a tomada de crédito continuarão sendo negativas, isto é, abaixo da inflação, variando de 0,5% a 5,5% ao ano, sendo que as taxas mais baixas serão pagas pelos agricultores e agricultoras de baixa renda. Outros R$ 2,9 bilhões anunciados hoje serão destinados a outras fontes de crédito e terão taxas de 7,75% para custeio e de 7,5% para investimento.
Dados comprovam apoio ao setor - Falando sobre a prioridade de seu governo ao setor da agricultura familiar, Dilma Rousseff apontou os gráficos que mostram a evolução dos recursos para os planos, ao longo das últimas duas décadas. Em 2002, foram investidos R$ 2,3 bilhões. No Plano Safra 2009-2010, o valor subiu para R$ 12, 6 bilhões. E agora, o governo dobrou esse valor, atingindo a marca de R$ 28,9 bilhões.
E isso mostra efetivamente que esses recursos vêm crescendo. Em todos os anos do meu primeiro mandato, no mandato do presidente Lula, ampliamos a oferta de crédito do Pronaf. Porque isso era essencial para que a agricultura familiar do nosso País se fortalecesse e tivesse asseguradas todas as condições para que possa contribuir para alimentar a nossa população. Para colocar a comida na mesa da nossa população”, afirmou.
Semiárido - Dilma Rousseff também reafirmou o apoio diferenciado que o governo dará aos produtores dessa região, que enfrenta uma das piores secas da história. Ela anunciou a manutenção de taxas menores para os produtores do semiárido, que variarão de 0,5% a 4,5% ao ano.
É algo que nós começamos a fazer no meu primeiro mandato, com taxas de juros que, de fato, reconhecem as dificuldades dos agricultores do semiárido de conviver com a seca no Brasil”, disse ela.
Essas taxas representam um esforço para facilitar assa convivência com condições adversas e também o reconhecimento da diversidade existente entre os agricultores do País quanto à renda. “Portanto, os patamares de juros são diferenciados e também o valor do financiamento, garantindo que o subsídio para os pequenos e mais pobres seja maior. “Isso não significa nenhum processo de privilégio, é o reconhecimento que a gente tem de tratar os desiguais de forma desigual, ou de forma diferente, melhor dizendo”, pontuou a presidenta.
Apoio à comercialização - Para impulsionar a produção das cooperativas e associações de produtores da agricultura familiar, a presidenta Dilma Rousseff determinou, também nesta segunda-feira, que pelo menos 30% da aquisição de alimentos pelos órgãos da administração pública federal sejam feitos de produtos oriundos da agricultura familiar e de suas organizações, ampliando as possibilidades de mercado para o setor. “Temos crédito e temos compras. E [isso] é muito importante para a venda dos produtos da agricultura familiar”.
Dilma destacou ainda que tanto o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) quanto o Programa Nacional de Alimentação escolar (Pnae) estão dentro dessa nova política de compras, que visa garantir que a agricultura familiar possa vender pelo menos para 30% da demanda de todas as áreas da Defesa: Exército, Marinha Aeronáutica; e penitenciárias. “Enfim, de todas as áreas que o governo fornece alimentação ou que demanda alimentação”. Ela lembrou que os dois programas, o Pnae e PAA, contam com R$ 1,6 bilhão.
Nesse sentido, adicionou o ministro Patrus Ananias, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) passará a adquirir, a partir de agora, o café orgânico da agricultura familiar, a exemplo do que já estava sendo feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). “Utilizando esse novo marco legal de amparo à agricultura familiar, o ministro Jaques Wagner também determinou que o Ministério da Defesa adquira 2.500 toneladas de alimentos para as Forças Armadas”, relatou Patrus.
Suasa - A presidenta assinou, durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2015-2016, o decreto que regulamenta o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), a nova sistemática de inspeção de produtos de origem animal e de bebidas produzidas por estabelecimentos de pequeno porte. O sistema é organizado de forma unificada, descentralizada e integrada entre a União, os estados e Distrito Federal, e os municípios, por meio de adesão voluntária.
É mais um importante marco para a consolidação e o fortalecimento da agroindústria familiar, pois simplifica procedimentos e adapta regras, inclusive de infraestrutura e transporte. Desta forma, amplia as possibilidades de comercialização dos produtos, garantido a segurança, tanto para os produtores quanto para os consumidores.
Em seu discurso, Dilma assegurou que o sistema será implantado em todo o País, “porque todas as condições estão dadas para que ele seja realizado” e que possa garantir que um agricultor do Sul exporte para o Norte; do Centro-Oeste para o Sudeste. “Enfim, que todas as cinco regiões do nosso País, do Nordeste, do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste e do Norte tenham acesso ao mercado de 200 milhões de brasileiros”.
Disse ter certeza disso pelo empenho da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Kátia Abreu, e do ministro Patrus Ananias. Sobre o Suasa, Patrus agregou que o sistema anterior era injusto, porque os agricultores familiares tinham de seguir o padrão da agroindústria. “Agora, não mais. Todos poderão produzir com qualidade e respeito às existências sanitárias, sem medo, pois a legislação está adaptada à realidade da agricultura familiar, vai ampará-los e protegê-los”, disse ele.
Seguro Garantia Safra - A presidenta falou ainda sobre o Seguro da Agricultura Familiar, que completa dez anos, informando sobre importantes alterações nessa área, com a criação do Novo Seguro da Agricultura Familiar. Agora, será possível cobrir o valor financiado para a produção em até 80% da receita esperada. Anteriormente, essa receita tinha o limite de cobertura de R$ 7 mil por produtor e agora passará a R$ 20 mil, praticamente triplicando o limite de indenização por família, o que dá mais segurança a quem trabalha e produz.
“Quando a gente fala em segurança, fala do seguro. E a implementação do Novo Seguro da Agricultura Familiar, que é o Seguro Garantia Safra, que terá recursos agora para atender 1,35 milhão de produtores no semiárido. Sabemos que os agricultores precisam ter esse seguro para se proteger contra as variações da safra ou contra qualquer outra tragédia até climática”, afirmou.
Qualidade de vida - Todas essas medidas, disse a presidenta, visam garantir a qualidade de vida para quem vive da agricultura, homens, mulheres e jovens. “Daí porque três eixos formam as políticas que garantem a sustentabilidade da agricultura e a mudança do seu patamar”.
Em primeiro lugar, o financiamento do Pronaf e as contas públicas. Em segundo, o incentivo à agroindústria, com assistência técnica, crédito e a agroecologia, “que é um verdadeiro nicho de mercado”. E, por fim, com estímulo à expansão do cooperativismo, organizando a produção, ajudando cooperativamente ao desenvolvimento da produção da agricultura familiar.
“Esses três eixos formam a sustentação da nossa política de transformar a agricultura familiar numa agricultura moderna e desenvolvida. Na qual a população que vive de garantir para nós a alimentação, possa ter um padrão de vida adequado a todas aspirações de seus integrantes”, disse.
Anater - A presidenta Dilma também citou, entre essas conquistas, a indicação da diretoria da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), por meio de um processo integrado também com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDA).
“E eu vou hoje indicar, para a presidência da Anater, o engenheiro agrônomo Paulo Guilherme Francisco Cabral”, anunciou. “Com a indicação do nome do Paulo vamos acelerar a oferta de assistência técnica aos pequenos e aos médios e, quando for necessário, aos grandes agricultores do Brasil”.
A Anater, explicou Dilma, é uma cooperação entre duas áreas fundamentais da agricultura do nosso País: de um lado agricultura comercial, e de outro a agricultura familiar.
CAR - A Anater terá uma ação também voltada para o Cadastro Ambiental Rural (CAR), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, contribuindo para o processo de regularização ambiental de propriedades de posse rurais, com planejamento do imóvel rural e com a recuperação de áreas degradadas.
“Nós garantimos, para essa safra, recursos para atender mais de 230 mil famílias, com foco na produção agroecológica e apoio a elaboração do CAR. O CAR foi uma conquista, porque mostra que é possível sim, produzir respeitando o meio ambiente. Além disso, produzir de forma eficiente”.
Futuro - Para a presidenta, por todos os fatores anunciados nesta segunda-feira, “é muito difícil, daqui para a frente, em qualquer momento no futuro, ter esse plano sem os desafios e o tamanho que ele conquistou na última década”.
“Então, podem ter certeza que, [da mesma forma que] soubemos tirar o nosso País do mapa da fome da FAO, iniciamos um processo de modernização da agricultura familiar e  vamos avançar. Eu tenho plena confiança na capacidade dos agricultores, na capacidade de produção, na inventividade, na criatividade e no trabalho. E o governo dará seu suporte e apoio. Estendendo sua mão, faz com que nós, juntos, sejamos capazes de, neste plano safra, darmos vários passos à frente”.
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21 junho 2015

Venha para o PCdoB

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Um caso de borboletas

A grande travessia

Rafaele Ribeiro*

Seu Gaspar acordou naquela terça-feira, véspera de São João, com uma fome insuportável e, rapidamente, bateu suas frágeis asas até a copa do flamboyant, árvore de flores lindas e avermelhadas, considerada uma das mais lindas do mundo. 

Se observássemos com atenção, precisamente, entre 6 e 7 horas da manhã, o flamboyant que fica na área militar, às margens da BR 232, em Recife, se enche de inúmeras borboletas, tão lindas quanto seu Gaspar. 

São espécies de diferentes tamanhos, cores, asas... todas lindas, se alimentando do néctar das flores, rico em nutrientes. 

Só tinha um problema para seu Gaspar que o deixava infeliz: ele não tinha família. 

Dona Cigarra já estava distribuindo os convites do forró que aconteceria naquela noite; seguia toda animada conversando com um, conversando com outro... insistindo com aqueles amigos, os quais, sempre diziam que compareceriam, mas, na verdade, nunca iam à festa alguma. 

Seu Gaspar resolveu ir, afinal precisava de distração... Dona Sabiá, seu Sapo, dona Rã...todos no back vocal enquanto dona Cigarra, toda metida, cantava Santana ao som da sanfona do seu Grilo; entre uma música e outra, seu Gaspar confiou à dona preguiça sua tristeza por não ter família, pois morava em um único flamboyant, onde todos já tinham seus amores. 

Dona Preguiça viajou durante muitos anos pelo entorno da área militar e confidenciou ao amigo choroso que morou há alguns anos no Jardim Botânico e que, justamente, no caminho do jardim de cactos, dentro do Botânico, tinha uns quatro flamboyants, com muitas flores e borboletas. 

- Quem sabe, amigo, lá você não encontra seu grande amor e se casa de vez?!

Nessa noite seu Gaspar não dormiu. 
Pensava, pensava, pensava... já se via casando...vestido de terno ao lado da sua noiva: uma linda e encantadora borboleta, com direito a daminhas, bolo e música!

Agora surgia outro grande problema: como fazer aquela travessia? O Botânico ficava no outro lado da BR 232. Carros voavam, ferozmente, nessa via e ele não passava de uma miúda borboleta. 
O dia amanheceu e ele foi logo se perfumando, bem como fazendo as malas. Precisava tentar. Despediu-se dos amigos, dos vizinhos e partiu feliz para a BR 232. 
Era uma travessia muito arriscada para qualquer pessoa, que dirá uma borboleta? 

Ele tentava de todo jeito, mas cada vez mais que batia as asas para atravessar, um carro na maior velocidade, cruzava sua frente! Ele esperava, esperava... as motos passavam... caminhões imensos com cargas pesadas... o sol estava forte demais, seu Gaspar suava horrores, faminto, olhava para todo os lados e não via uma flor sequer... não via néctar. Nada. Estava fraco. Frustrado, pensou em desistir. 
Como ele poderia atravessar? O que deu na cabeça dele para achar possível ser mais rápido, voando, que um carro na BR?
Começou a chorar, desesperado. Pousou na grama e ficou parado, enquanto soluçava. 
De repente, ele olha para sua direita, não acredita no que vê! Será verdade? Meu Deus, ele se levanta e esfrega os olhos...e não é que é verdade?!  Sim, lá está ela! Seus olhos não estavam errados. Ele avista uma passarela. Isso mesmo: uma enorme passarela!
Ali, estará salvo!
As passarelas são como enormes pontes por cima das BRs e foram construídas para que todos cruzassem a via de forma segura, sem risco. 
Animado, mais uma vez, atravessou a BR 232, completamente seguro e esperançoso do que ia encontrar no Botânico. 
Não demorou muito, seu Gaspar realizou seu sonho: casou com uma linda borboleta azul. 
Hoje, eles têm vários filhos, são todos felizes e vivem colorindo o jardim. Quando for ao Botânico, fique atento, pois qualquer parente de seu Gaspar pode passar por você. 

Você sabe como reconhecê-los? Todos são borboletas azuis. 

*Rafaele Ribeiro (Rafinha) integra a Brigada Ambiental da Prefeitura do Recife

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Um gigante da literatura brasileira

Graciliano Ramos, um escritor comunista

José Carlos Ruy, no portal Vermelho
Poucos escritores brasileiros merecem, como Graciliano Ramos - cujo centenário foi comemorado em 27 de outubro de 1992 - a qualificação de clássico. Existem muitos, com obras de alto nível artístico que iluminam aspectos parciais dos sentimentos e modo de vida de nosso povo.
Porém nem todos conseguiram criar situações, tramas e personagens capazes de sintetizar as contradições típicas do desenvolvimento histórico e social e o reflexo dessas condições objetivas na subjetividade e na vida mental dos brasileiros.
Até que se tenha uma definição melhor, é a dialética do singular, do particular e do universal que torna uma obra clássica. Clássica porque extrapola os limites estreitos dessa particularidade e singularidade e se dirige a todos os homens, distantes no espaço e no tempo. É como se o escritor, ou o artista, descrevesse tipos humanos únicos, particulares, acrescentando-os ao imenso catálogo com representantes de todas as épocas e todos os povos, enriquecendo o registro da experiência histórica concreta da espécie humana em sua multifacética e rica variedade de manifestações sociais e existenciais.
Graciliano Ramos conseguiu registrar artisticamente os profundos conflitos humanos, a desorganização e reorganização da vida provocadas pelo impacto do desenvolvimento capitalista brasileiro partir da década de 1930, época em que a modernização da sociedade se acelerou sob a hegemonia conservadora. O modo de produção capitalista consolidou seu domínio sobre o conjunto da sociedade redefinindo as relações sociais e subordinando todas elas ao capitalismo, à lógica da acumulação e reprodução do capital.
Este é o quadro de transformações aceleradas e perturbadoras em que se movem personagens como Paulo Honório, Madalena, Luís da Silva, Julião Tavares, Fabiano, Sinhá Vitória e tantos outros.
Em seu destino pessoal eles representam também o destino das classes sociais. No ensaio Graciliano Ramos (1965) Carlos Nelson Coutinho escreveu: “Nesta fusão de indivíduo e classe reside um dos pontos mais altos do realismo de Graciliano. Seus personagens são sempre tipos autênticos precisamente na medida em que expressam em suas ações o máximo de possibilidades contidas nas classes sociais a que pertencem”. Destino pessoal e destino de classe confundem-se na trajetória de seus personagens.
Luís da Silva (Angústia, 1936) e Madalena (São Bernardo, 1934) são pequeno-burgueses inconformados com sua existência opressiva e alienada, desejosos de subir na vida, apavorados com a perspectiva de proletarização. Incapazes de compreender as forças que comandam seus destinos são também incapazes de lutar contra elas. Seus destinos melancólicos e trágicos são marcados pela impotência e pelo ressentimento.
Paulo Honório, o camponês que se tornou latifundiário (São Bernardo) e Fabiano (Vidas Secas, 1947) parecem encarnar dois destinos antagônicos para personagens de origem social semelhante.
Astuto, Paulo Honório consegue dominar as possibilidades de ascensão abertas pelo capitalismo. Negocia, trapaceia, abre caminho sem medir esforços nem escrúpulos. Usa o poder do dinheiro para - como um Fausto sertanejo – se impor à decadente oligarquia rural. Dedica sua vida a se tornar ele próprio um latifundiário. Consegue colocar-se acima de sua classe, como conclui no final do romance. Conseguiu tornar-se “um explorador feroz”, brutal e egoísta, como amargamente reconheceu.
A saga de Fabiano começa no mesmo ponto de onde Paulo Honório partiu: a estreita, pobre, mesquinha vida do camponês do Nordeste, massacrado pelo latifúndio e maltratado pela natureza.
Sua insatisfação - e dos seus - compara-se à animalidade da cachorra Baleia: querem apenas se manterem vivos e, depois, se possível, obter alguns modestos luxos, como a cama de couro que Sinhá Vitória queria.
Ao contrário de Paulo Honório, Fabiano busca seus meios de vida zanzando de fazenda em fazenda até que o destino - semelhante ao de multidões nordestinas - o coloca na estrada para a cidade e os centros industrializados do litoral e, depois, do Sul.
O mais miserável e mais rústico dos personagens de Graciliano é, contraditoriamente, o portador do futuro: na cidade ficará completa e acabada sua condição de vendedor da força de trabalho no mercado capitalista. Ele será um operário; seus filhos serão operários, num mundo novo com contradições de outra natureza, que só poderão ser superadas pela luta da classe operária e dos demais trabalhadores pelo socialismo.
Assim o destino de Fabiano indica o sentido do desenvolvimento da sociedade brasileira, dos trabalhadores brasileiros, colocando-os - juntamente com a sociedade - num novo patamar onde as contradições da vida rural e camponesa são superadas e substituídas pelas contradições próprias da sociedade capitalista.
Escritor comunista, o marxismo de Graciliano Ramos jamais lhe permitiu a subordinação às imposições normativas características do zdanovismo e seu realismo “socialista” na construção de suas obras.
Artesão exigente e minucioso do idioma, escritor enxuto, da palavra exata, a forma artística se subordinava nas obras de Graciliano à resolução do conteúdo.
O estilo memorialístico de São Bernardo, o obsessivo monólogo interior de Angústia, a aparente descontinuidade e fragmentação de Vidas Secas, subordinam-se rigorosamente às necessidades da trama, da exposição da psicologia do personagem, da criação do ambiente social e cultural onde eles se movem e da forma como esse ambiente externo, objetivo, se reflete em seu espírito condicionando-o e moldando suas ações.
Nas obras de Graciliano o socialismo emerge dessas contradições, como saída para os conflitos sociais e humanos retratados. Emerge de forma implícita, necessária, inscrita no desenvolvimento das situações e contradições descritas. Graciliano não caiu na tentação do populismo fácil e pseudo democrático praticado por tantos escritores de sua época, que reproduziram de forma maniqueísta a consciência popular. Eles não hierarquizaram as formas de manifestação dessa consciência., mas as abordaram de maneira acrítica e valorizando-as todas igualmente. Ora, a consciência dos homens reflete de forma muitas vezes alienada e distorcida as contradições da época em que vivem, enfrentadas no dia a dia. Se todos os homens tivessem espontaneamente uma consciência clara e precisa das condições de dominação, as sociedades divididas em classe nunca poderiam ter existido!
Na obra daqueles escritores populistas o socialismo aparece como um objetivo artificial, que não decorre da resolução da trama mas da mera vontade do escritor de colocar essa bandeira na boca dos personagens.
Estas são algumas das características que fazem de Graciliano Ramos um clássico, no sentido universal. Um escritor que não temia imposições e enfrentou as contradições colocadas pela vida. Que não buscou soluções literárias fáceis e artificiais para essas contradições. Que não tentou, de forma também artificial, resolver essas contradições em suas obras mas que escreveu pela necessidade de registrar, de forma artística, as dificuldades, mazelas e esperanças da vida de seu povo. E que, dessa forma, contribuiu como poucos para uma consciência mais profunda dos problemas da sociedade brasileira e das possibilidades que seu desenvolvimento promete. E ajudou a ampliar aquele catálogo de tipos humanos referido acima, de personagens característicos da vida nesta parte do mundo e num período da história: o contraditório período em que o modo de produção capitalista se tornou hegemônico na formação social brasileira.

Publicado originalmente em A Classe Operária, 26/10/1992

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