31 julho 2019

Contra a inteligência


Destruição da Universidade Petrobras: mais um capítulo
André Lobão, Jornal GGN
Em mais um movimento brusco e violento da direção da Petrobrás, o desmonte do Espaço Terra e Petróleo cumpre mais uma das etapas da destruição da Universidade Petrobrás, a nossa UP.
Depois de um longo período a servir como espaço de livre visitação dos empregados para conhecer um pouco da geologia do petróleo, os seus dias de utilidade foram abruptamente encerrados nesta quarta (24). A vaga promessa de reinstalação do espaço antes da desativação fora descumprida a partir do início do desmonte. O Espaço teve seu acervo parte destruído e parte desmobilizado sem a menor intenção de preservar seu significado. A partir de tamanho disparate, começaram a correr denúncias e cobranças pelas redes sociais. A péssima repercussão pressionou a gestão, que resgatou às pressas a promessa da reinstalação, apesar de não haver garantias e nem confiança por parte da força de trabalho.

Soma-se a isto a biblioteca que já foi desmontada, com seus livros doados, segundo o Sindipetro-RJ pôde apurar. Restam dúvidas sobre o que foi triturado, bem como sobre o destino dos vários CDs e DVDs que compunham o acervo e as inúmeras monografias produzidas pelos empregados da Petrobrás, e que serviam a preservar a nossa capacidade técnica única, tão “valorizada” no PNG da Companhia.
Tudo se deu de forma atabalhoada. Petroleiros da UP informaram que os presentes na ocasião foram convidados a ver se algum dos volumes interessava para seu trabalho e desta forma recolheram alguns. Foi dito a eles que volumes únicos seriam despachados para a biblioteca do EDISE, mas ninguém tem certeza do destino. Sequer sabem se foi feito inventário antes desta desmobilização.
Segundo uma fonte, somente as bibliotecas do CENPES e do EDISE sobreviverão à Idade das Trevas que atravessamos. Essa política de perseguição ao saber faz lembrar muito o Index e outras atrocidades da Inquisição, do tempo dos Castellos.

Acha que acabou? Não!

A perversidade em destruir tudo quanto for possível terá seu próximo ato em setembro: todos os profissionais especialistas, técnicos da UP, estão sendo desovados nas áreas de negócio. O GG Juliano está cumprindo o papel de passar o pires ofertando os profissionais da educação corporativa no melhor estilo Black Friday Petrobrás.
Mas a promessa do presidente Castello Branco será cumprida. A UP não vai acabar.
Só esqueceram de contar que será um monte de salas vazias com uma plaquinha na porta!

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30 julho 2019

Nordeste unido


Consórcio do Nordeste aprova ações em defesa da região e do país

Com a presença de sete governadores e dois vice-governadores, a reunião do Consórcio dos Estados do Nordeste aprovou nesta segunda-feira (29), em Salvador, uma série de ações conjuntas com foco no desenvolvimento econômico da região e do país.

Portal Vermelho

Com a presença de sete governadores e dois vice-governadores, a reunião do Consórcio dos Estados do Nordeste aprovou nesta segunda-feira (29), em Salvador, uma série de ações conjuntas com foco no desenvolvimento econômico da região e do país. 

O encontro é o primeiro após a oficialização do bloco, que teve seu CNPJ registrado nas últimas semanas. Não estão presentes o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e o alagoano Renan Filho (MDB), que enviaram para a agenda os seus vice-governadores Izolda Cela e Luciano Barbosa, respectivamente.

Trata-se também da primeira reunião entre os governadores após a polêmica frase do presidente Jair Bolsonaro criticando os nordestinos.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), considerou um encontro vitorioso e produtivo. “Estamos reivindicando a aprovação da pauta federativa, com o respeito aos direitos dos Estados, e a liberação dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, como a lei determina”, disse.

Entre outros projetos discutidos estão uma Central de Compras para a realização de licitações conjuntas entre os Estados nordestinos, a criação de um programa de formação de médicos que supra as necessidades deixadas pelas mudanças do programa Mais Médicos pelo governo federal, a aprovação de um planejamento estratégico para os próximos 12 meses, além da organização de viagens internacionais que serão feitas pelo grupo.

“O Consórcio Nordeste vai permitir, por exemplo, a formação de um modelo de compras coletivas para baratear custos nos estados. Como primeiro governador a presidir o Consórcio Nordeste estou bastante otimista”, afirmou o governador da Bahia, Rui Costa (PT).

Segundo ele, comprar para uma escala de 55 milhões de habitantes deve trazer economia grande para cada estado e estimula a participação de fornecedores internacionais em licitações. 

De acordo com o governador da Bahia, Rui Costa, já estão definidas visitas internacionais dos governadores, em novembro, à Alemanha, Itália, Espanha e França, com o objetivo de fazer negócios com investidores em torno de obras e do turismo regional. Em seguida, ainda sem data definida também estarão na agenda viagens à Ásia, passando por China, pelas Coreias e pela Rússia.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), diz que o dever deles é trabalhar para garantir direitos, com solidariedade e senso de justiça, sem perseguições ou retaliações. “Só assim estaremos à altura da grandeza do Brasil e do nosso povo”, afirmou.

"Os governadores representam, acima de tudo, a voz desse povo que exige respeito do governo federal, que, a partir de suas demandas apresentadas, quer solução para isso. E isso nós vamos buscar. A relação republicana, independente de quem esteja sentado na cadeira de presidente, ela tem que estar acima de qualquer outro tipo de relação", defendeu o governador da Paraíba, João Azevedo (PSB).

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OAB reage

O colégio de presidentes da OAB, de Defensores Públicos Gerais (Condege), o Sindicato dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro, e a comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas da Advocacia repudiaram a fala do presidente da República Jair Bolsonaro sobre o pai do Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, que foi morto na ditadura militar. Leia mais https://bit.ly/2MpWqz3

Sem limites


Antidemocrático e odioso
Luciano Siqueira


Pode um presidente da República expressar publicamente suas opiniões políticas sobre temas polêmicos? 

Pode e deve.

O que não pode é, a título de combater opositores, esgrimir raciocínios e expressões que ferem a memória nacional e reproduzem ideias e sentimentos dos mais primários a respeito da liberdade e dos Direitos Humanos.

Ao se comportar assim, mais do que o exercício da polêmica — que é admissível —, o presidente desrespeita a Constituição e macula a trajetória democrática do povo brasileiro.

É o que vem fazendo Jair Messias Bolsonaro, a propósito de temas vários que comparecem à sua agenda cotidiana, sobre os quais se pronuncia de maneira rasteira e odiosa.

Parece ser esta uma prática destinada a manter parcela expressiva da população brasileira sob a mais precária polarização ideológica, estendendo o que se produziu na última campanha eleitoral, tendo como alvo o Partido dos Trabalhadores, em particular, e as forças democráticas em seu conjunto.

O ambiente de desgaste e de descrença que predominava em outubro em relação à prática política, aos partidos e às instituições da República funcionou como caldo de cultura para a pregação extremada de Bolsonaro e seus apoiadores.

Agora não estamos mais em campanha eleitoral. E o que se espera, mesmo de um presidente assumidamente de extrema direita, é o mínimo de compostura no exercício do cargo.

As agressões verbais ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, e a tentativa de macular a memória do seu pai, Fernando Santa Cruz, que na ditadura militar foi sequestrado, preso e assassinado nos porões da tortura, expõem em toda a sua inteireza o caráter do cidadão que governa o país. 

O doloroso e lamentável incidente emerge como mais um alerta à população brasileira e à opinião pública internacional acerca do risco de ruptura institucional plena.

Nessas circunstâncias, partidos políticos do campo democrático e segmentos diversos da sociedade devem concentrar esforços na defesa da democracia e do Estado de Direito, pedra de toque da resistência.

Essa postura, para além dos pronunciamentos públicos e das manifestações conjuntas destinadas a repercutir a opinião pública, há que permear o cotidiano da população.

Esclarecer, unir e mobilizar é dever inarredável é urgente.

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29 julho 2019

Para quem falamos?

Tudo bem, estamos indignados e protestamos contra cada ato praticado contra a democracia e contra o nosso povo. E o vizinho aqui do lado, entendeu que dizemos? Pensa o quê do que estamos falando? 

Quem viver verá

Quem suja as mãos de lama, na lama afundará. É questão de tempo

Pressuposto

Respeitar os adversários é condição sine qua non para ser respeitado. 

Jogo duro

Mais um militar de alta patente — o general Jesus Corrêa, presidente do Incra — ameaçado de ser derrubado do governo Bolsonaro por pressão dos grandes fazendeiros. Você tem dúvida de quem ganhará essa quebra de braço?

Sem noção

O sujeito é deputado, vive a cena política em Brasília e diz que este “não é o momento de tensionamento político” em razão de declarações e atitudes meramente (sic) “inoportunas e infelizes” do presidente da República. Coisa de quem flutua no reino da fantasia. #aidetiRepública!

Paraíba sim, senhor!


A gente escuta uivos disfarçados de piada e fica difícil manter o espírito sereno. Eu queria ter apenas as palavras mais simples para falar a meus irmãos, pais, amigos, humanidade nordestina. Assim como os melhores poetas pediam inspiração às musas quando partiam para uma empreitada além das suas forças, a minha nulidade e pequena poesia pedem socorro aos músicos que tocam a meus ouvidos neste instante, escreve Urariano Mota. Leia e veja vídeos https://bit.ly/2OrQI2h

28 julho 2019

Por onde a bola rola


Brasil produz meias e atacantes habilidosos, mas de pouca técnica e lucidez

Tostão, na Folha de S. Paulo

Desde os anos 1960, constato que há dezenas de histórias, conceitos e fatos inverídicos ou questionáveis, que são repetidos, como se fossem eternas verdades.
Na Copa de 1970, Zagallo, ao assumir a seleção, disse que havia excessos de armadores e nenhum centroavante, já que eu era um meia-atacante no Cruzeiro, e o centroavante Toninho Guerreiro tinha sido dispensado por contusão. 
Zagallo convocou o Roberto e Dario, que era artilheiro do campeonato nacional, e dispensou dois craques do meio-campo, Dirceu Lopes e Zé Carlos. 
Até hoje, insistem que Dario foi convocado por pedido ou ordem do ditador Médici.
Na Copa de 1994, Raí, excepcional meia-atacante, artilheiro, foi escalado por Parreira de meia-direita, com a função de marcar o lateral. Não podia dar certo. 
Raí é alto, pesado, forte e não conseguia marcar no próprio campo e chegar à área adversária. 
Por isso, atuou mal e foi barrado, diferentemente do que afirmam até hoje, que ele passava por maus momentos.
A seleção de 1994 foi o primeiro time ou seleção do Brasil que jogou no 4-4-2. Hoje, a maioria das equipes, independentemente do desenho tático, marca dessa maneira. O 4-4-2 não é sempre defensivo. Se as duas linhas de quatro marcam mais à frente, os quatro do meio campo estarão perto dos dois atacantes e do gol. 
Na Copa de 2006, Ronaldo e Adriano estavam muito acima do peso, e Parreira escalou Ronaldinho de um lado e Kaká de outro, para marcar os laterais adversários, como na Copa de 1994. 
Não podia dar certo. Os dois craques brilhavam em seus clubes jogando perto da área adversária. Mesmo assim, a culpa principal do fracasso foi para a concentração de Weggis, na Suíça, por causa do público presente aos treinos.
Na Copa de 2018, Gabriel Jesus, durante uns 20 minutos de um único jogo, atuou pela esquerda, marcando o lateral, para deixar Neymar livre, no ataque. 
Continuam dizendo que o Gabriel jogou mal e não fez gol porque foi sacrificado, por atuar fora de sua posição.
Sempre que Pato joga mal ou muito abaixo da expectativa criada sobre ele, falam que é disperso, apático, uma celebridade, desinteressado do jogo. Mesmo que tudo isso seja verdade e que tenha muita habilidade, Pato possui pouca técnica, erra demais e, com frequência, toma as decisões erradas. Ele não atende às expectativas porque tem pouco talento. De vez em quando, executa um belíssimo lance e ilude. 
Ele parece craque, mas não é. Quem é, é.
O Brasil produz, há muito tempo, um grande número de meias e atacantes habilidosos, rápidos, mas com pouca técnica, pouca lucidez e pouco amadurecimento emocional. A mente é que controla o corpo.
Na derrota do Flamengo para o Emelec, Jorge Jesus foi escolhido o único culpado, sem direito à defesa, por ter escalado Rafinha como meia-direita. Mesmo considerando que Rafinha é habilidoso, rápido e que já jogou nessa posição no Bayern e que o Flamengo tinha vários jogadores sem condições de atuar, havia outras opções, que poderiam ser melhores. 
Houve também inúmeros outros motivos para a derrota. Se o Flamengo for eliminado, dirão, para sempre, que foi por causa de Jorge Jesus.
O conformismo assola o futebol brasileiro. Alguém diz algo, outro repete, geralmente do mesmo grupo, e a falsa verdade se alastra, muitas vezes, para sempre. 
Muitas pessoas param de refletir, questionar, pensar e evoluir e perdem a gana e o prazer de fazer diferente e cada vez melhor.
[Ilustração: LS]
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Fotografia: O olhar de Pedro Caldas

Foto: Pedro Caldas

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Canal aberto

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Lava Jato & negócios


Barroso, um homem bom e seu teste de integridade
Luis Nassif, Jornal GGN

As revelações do The Intercept confirmam plenamente os interesses econômicos escondidos por trás da Lava Jato, de patrocinadores com interesses, temores ou meramente por alinhamento ideológico.
strip tease moral dos diálogos espalha suspeitas sobre todo o sistema judicial, pois a opinião pública aprendeu como se fazem as salsichas. E remete a discussão diretamente para o primeiro item das dez medidas anticorrupção elaboradas por Sérgio Moro e a turma da Lava Jato – e apresentadas como sendo de iniciativa da opinião pública: o teste de integridade.
Segundo a justificativa:
O objetivo central do teste de integridade é criar, preventivamente, a percepção de que todo o trabalho do agente público está sujeito a escrutínio e, a qualquer momento, a atividade pode estar sendo objeto de análise, inclusive sob o ponto de vista de honestidade. A realização do teste não parte da premissa da desconfiança sobre os servidores em geral, mas sim da noção de que todo agente público tem um dever de transparência e accountability, sendo natural o exame de sua atividade.”
O teste visa medir a elasticidade moral do agente público, claramente expresso na máxima de Dallagnol, conversando com o amigo Pozzobon sobre a palestra clandestina na XP:
– É um risco, sim, mas bem remunerado.
Até o vazamento das conversas, Dallagnol se escondia atrás da blindagem da mídia, da corregedoria do Ministério Público Federal e do Conselho Nacional do Ministério Público, que se conformavam com declarações sem provas, de que a maior parte das palestras era de graça e, óbvio, para o bem do Brasil.
O caso remete para um tema vizinho, o compliance, ou seja, as práticas que devem ser adotadas por organizações, para impedir abusos ou atos de corrupção. E, já que vigora o linguajar jurídico, há a necessidade de um full disclosure, ou seja, plena divulgação, para se avaliar o nível de integridade dos agentes públicos, em respeito ao accountability.
Vamos aplicar um teste de integridade na instância máxima, o Supremo Tribunal Federal, e no Ministro que mais defende os modelos de compliance, Luis Roberto Barroso.
Há duas atividades suas que merecem full disclosure, para saber se Barroso passa no teste de integridade.
A primeira, são as palestras.
Barroso se tornou um palestrante requisitado, depois de sua adesão à Lava Jato. Preparou um discurso padrão, bastante superficial, no qual falava dos novos tempos que viriam por aí, definia quatro fórmulas para salvar o Brasil e colocava a bandeira da anticorrupção como o anjo salvador da pátria.
Percebeu-se, de cara, que não se submetia a regras de compliance. Descobriu-se que faria uma palestra paga para o Tribunal de Contas da paupérrima Rondônia por um cachê de R$ 46 mil (aqui). Só depois que o caso vazou ele declarou não ter percebido que se tratava de cachê de um órgão público. Não passaria no teste de integridade, porque supostamente desobedeceu a uma norma básica: saber quem  está lhe pagando R$ 46 mil. Ou definir regras para os escritórios que o contratavam: não aceitar pagamentos de órgãos públicos, nem de patrocinadores onde pudesse haver conflitos de interesse.
Como não pode sequer haver dúvidas sobre a honradez da mulher de César, certamente o Ministro Barroso não se furtará a expor a relação de palestras, valores e patrocinadores. Afinal, como ele mesmo diz, é um homem bom, que só faz o bem.
Afinal, como discorreu em um discurso de formatura:
Creio no bem, na justiça, no amor e na tolerância. E creio na gentileza e no bom humor como uma boa forma de realizá-los” (aqui).
Deltan também dizia isso, mas deixa para lá.
A segunda frente de full disclosure é o escritório de advocacia de sua família. Antes de se tornar Ministro, mas já bebendo da vaca leiteira do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (o termo é utilizado por procuradores para caracterizar aqueles que se valem dos proventos do cargo como garantia de renda estável enquanto exercitam o empreendedorismo em outras atividade), Barroso se converteu em um dos juristas preferenciais dos grandes grupos, para preparar minutas projetos de lei que eram eram apresentadas no Congresso pelos deputados por eles financiados.
Nos últimos anos, o maior negócio da advocacia tem sido os trabalhos de compliance, diretamente estimulados pelo discurso da anticorrupção. Já falei várias vezes dessa indústria por aqui.
Barroso emprestou sua reputação de Ministro da Suprema Corte para um curso nos Estados Unidos – ao lado do inacreditável Marcelo Bretas – sobre compliance. Além das aulas de Barroso e, sabe-se lá com que conteúdo, de Bretas, o curso previa a visita a dois grandes escritórios de advocacia norte-americanos, de olho no Brasil.
A opinião pública merece ser informada, se um servidor público com poder de influir nos destinos da política e do país, que referendou a destruição de empresas e partidos, interferiu nas eleições presidenciais, estimulou os abusos da Lava Jato, segue rigorosamente princípios do compliance, da accountability e de full disclosure.Para afastar suspeitas, bastará que o Ministro exponha a relação de clientes do escritório de advocacia da sua família.Um homem bom não terá dificuldades de responder a esse desafio.
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Crônica do cotidiano


Babel
Luciano Siqueira

Reza a lenda que por vontade divina a Humanidade, que se comunicava por meio de um único e uniforme idioma, teve misturados palavras e sons — gerando tremenda mixórdia entre os que ocupavam uma torre (Babel) destinada a alcançar o céu.

Dai em diante entender o que se diz e o que se ouve e o que se lê virou uma empreitada desafiante.

Começa pela diversidade de idiomas. Tem sentido dizer que, quando duas pessoas não se entendem, uma fala grego e a outra japonês.

Mas, entre os que se pronunciam através da mesma língua, desencontros são muito mais frequentes do que o razoável. Por isso, Antoine de Saint-Exupèry, pela voz do Pequeno Príncipe, proclamou: a linguagem é uma fonte de mal-entendidos.

E ainda tem os dialetos próprios de cada esfera do conhecimento e de atividade profissional.

A turma da tecnologia da informação se comunica por siglas cujos significados se traduzem em inglês.

Médicos se referem a patologias e entidades clínicas também por siglas, e assim por diante.

E os “manos” e as “minas” emitem expressões quase incompreensíveis.

Mais: com o advento das redes sociais, se alastra um dialeto que para mim é definitivamente incompreensível. E feio.

Palavras truncadas e quase sempre reduzidas a três ou quatro letras terminam se incorporando à linguagem cotidiana – e haja paciência para ouvir, e tentar entender, o que é pronunciado entre os dentes!

Prefiro ignorar.

O que não é nada educado, diria minha mãe Oneide, para quem ouvir com atenção era dever sagrado.

- Meu filho, escute com calma e paciência, mesmo aquelas pessoas que têm dificuldade de falar. Não ouvi-las é falta de caridade, sentenciava ela.

Mas, sinceramente, a essa altura da vida esforçando-me por fazer bom uso do tempo que me resta, aguentar aquele palavreado atravessado, dito como quem masca chiclete enquanto bebe, é de lascar!

E ainda tem os emotions, abusivamente (para mim) usados no WhatsApp. Entendo pouquíssimos, óbvios.

Tem uma carinha amarela com um ponto pequeno vermelho no canto esquerdo da boca, que eu interpretei a vida inteira como uma cereja – até que alguém me esclareceu tratar-se de um beijo de despedida!

Quantos beijos desses deixei de retribuir por pura ignorância!

E as mãos juntas elevadas como quem reza? Sempre as recebi com preconceito, sobretudo quando me pareciam nada terem a ver com o conteúdo do diálogo. Depois vim a saber que não se trata de oração, é um “highfive”, simboliza que dois amigos bateram as mãos num gesto de regozijo...

Claro que a turma de agora há que ter também suas queixas. Nosso pessoal, particularmente militantes e ativistas da luta social, tem cada uma que é difícil assimilar:

- Quero me inscrever para “defender contra”, é comum se ouvir em assembléias do movimento.

Vá entender essa dialética de mau gosto e depois me diga o que vem a ser mesmo “defender contra”, tudo bem?

[Ilustração: Composição a partir de detalhe de um desenho de Miguel Siqueira Ramos]


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27 julho 2019

Proletariado sob novos desafios


“Vive-se hoje a etapa do sistema do capitalismo financeirizado – sob a égide do capital a juros, do capita fictício e do rentismo. A financeirização impõe de forma sistêmica a subordinação do Estado, inclusive do seu orçamento e da sua dívida, aos desígnios da exclusiva valorização do capital (Como, por exemplo, a imposição de um Superávit primário, e do novo papel dos Bancos Centrais na atualidade, sistema previdenciário de capitalização privada). Como uma síntese, podemos dizer: As tecnologias da Quarta Revolução Industrial (QRI) não são neutras, mas estão sendo utilizadas para impulsionar a dinâmica do capitalismo financeirizado, analisa Renato Rabelo. Leia mais https://bit.ly/2Ol5I1P

Precarização


Trabalho: a uberização esconde os acidentes. Recente morte de entregador da Rappi reafirma hiper-insegurança do precariado: como notificar na ausência de registro? Segundo estudos, número de acidentes laborais não refletem realidade – e governo quer legislação ainda mais frouxa. Leia mais https://bit.ly/310WWrs

Postura republicana


Bolsonaro será bem tratado no Maranhão, garante Flávio Dino

Marina Barbosa, Congresso em Foco

Chamado de o “pior dos paraíbas” pelo presidente Jair Bolsonaro, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), acredita que o chefe do Executivo tem dado declarações polêmicas como essa apenas para ocupar a agenda pública com conflitos e, assim, esconder a falta de resultados do governo federal. Mesmo assim, disse estar pronto para o diálogo e para receber Bolsonaro no Maranhão.
“Se ele resolver visitar o Maranhão, se depender de mim, vai ser bem tratado e bem recebido”, garantiu Flávio Dino, dizendo que, ao contrário do governador da Bahia, Rui Costa (PT), também não hesitaria em cumprir uma agenda ao lado de Bolsonaro. “Se ele desejar e se houver condições de diálogo, eu vou. Não é porque ele não gosta de mim que vou deixar de cumprir o juramento que fiz de defender meu estado”, acrescentou.
O governador do Maranhão falou sobre a relação com o governo Bolsonaro durante passagem por Brasília, exatamente uma semana depois de o presidente dizer ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que “esses governadores de ‘paraíba”, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”. Na ocasião, porém, garantiu que a viagem não foi motivada por essa declaração e revelou que ficou surpreso com a opinião de Bolsonaro sobre ele porque nunca nem sequer conversou com o presidente. "Nunca nos falamos pessoalmente a não ser em reuniões de governadores. A sós nunca. Os assuntos que temos para tratar são tratados nos ministérios e em reuniões gerais de governadores. Mas, se ele chamar uma reunião na próxima semana, eu estarei presente", afirmou Dino.
Ao Congresso em Foco, Dino disse ainda que, a não ser sua filiação partidária e sua origem nordestina, não enxergava razões para o atrito com o presidente. Por isso, associou a fala de Bolsonaro à prática do governo de “criar conflitos” e “criar inimigos”. “Como o governo é muito fraco, tem poucos resultados a mostrar e não tem uma agenda própria de trabalho, acaba ocupando a agenda pública com esse tipo de conflito, perseguição e discriminação”, declarou Flávio Dino, afirmando que essa é uma atuação clássica das correntes de direita. “Procurar um inimigo é funcional para a manutenção do grupo social que apoia o governo. Como o judeu está para o nazismo e os imigrantes estão para Trump, os paraíbas estão para Bolsonaro”, atacou Dino, ressaltando, por sua vez, que os nordestinos não foram os únicos inimigos escolhidos por Bolsonaro.
 “Há um cenário de guerra de todos contra todos, que o próprio presidente da República estimula, inclusive com os seus. Basta olhar o Joaquim Levy e os generais que ele trata tão mal como exemplo”, alfinetou Dino, que também colocou na lista de alvos de Bolsonaro “o Carnaval, os artistas, os cientistas, o Inpe, o Bebbiano, o Santos Cruz e a imprensa”.
Por conta disso, o governador do Maranhão coloca os conflitos como principal característica dos seis primeiros meses do governo Bolsonaro. “O conjunto da obra até aqui do governo federal se restringe à confusão política e à reforma da Previdência que só foi aprovada em razão do Rodrigo Maia, apesar dos obstáculos que o próprio Bolsonaro colocou. Se eu fosse presidente da República ou mesmo governador do meu estado, ficaria muito constrangido de ter apenas isso em seis meses de governo: de um lado confusão e do outro a reforma que andou por causa do Maia, enquanto ele inaugura obra da Dilma e do Temer. É muito pouco”, criticou.
Ainda sobre a atuação do governo federal, Flávio Dino revelou que o Executivo não tem destravado pleitos dos estados, tem apenas dado seguimento ao que já estava encaminhado pelas gestões anteriores. “Nós temos em execução contratos e convênios que foram celebrados no tempo da presidente Dilma e do presidente Temer. Até o momento, não tivemos nenhuma dificuldade com os ministérios quanto a isso. Mas em relação às pautas novas, há muita lentidão do governo federal em atendê-las. E isso não se refere especialmente ao Maranhão, mas aos estados como um todo. Há um travamento geral”, criticou Dino, para quem “o governo está muito lento naquilo que o Brasil precisa e tem urgência, que é a pauta social e o desemprego”.
Apesar das críticas e da polêmica criada em torno dos ‘paraíbas’, o governador do Maranhão garante não ter medo de retaliações. “Não pedimos privilégios. As pautas que o Maranhão apresentou são comuns a todos os estados. Queremos o que é devido e é direito da população", argumentou, lembrando que o presidente tem o dever de cumprir o pacto federativo e zelar pela unidade nacional. “A Constituição diz que eventuais simpatias ou antipatias pessoais não devem determinar o conteúdo dos atos administrativos de um agente público”, afirmou, ressaltando que até na época da ditadura militar os presidentes respeitavam esse preceito. “Não posso acreditar que a essa altura o Brasil vá aceitar que o governo federal seja pior que no tempo da ditadura. Então, não tenho medo. Tenho espanto e indignação”, afirmou Dino.
Mesmo assim, o governador do Maranhão não deve seguir o exemplo da Frente Parlamentar do Nordeste, que protocolou uma representação contra o presidente na Procuradoria-Geral da República por conta do preconceito demonstrado na fala dos ‘paraíbas’. “Temos improbidade administrativa por conta do descumprimento de deveres legais e há indícios do cometimento de crimes. Mas essa petição já me representa, pois permite que o Ministério Público Federal reflita e que o próprio presidente reflita sobre isso”, explicou Dino, que, mesmo sendo jurista, prefere que essa ação gere mais reflexões do que processos. “Se o presidente se acha legitimado a espalhar preconceito, ele acaba induzindo milhares de pessoas a também praticarem isso. E o presidente da República é o último que pode alimentar esse tipo de ódio, discriminação e violência”, explicou.
Eleições de 2022
A despeito das críticas a Bolsonaro, Flávio Dino prefere não se lançar candidato à presidência da República em 2022. Ele até admite a possibilidade, que já havia cogitado anteriormente e agora ganha força já que a polêmica com Bolsonaro deu mais visibilidade ao seu nome; mas diz que vai trabalhar, antes de tudo, para que a esquerda se una em torno de um novo projeto que possa desbancar a reeleição de Bolsonaro.
“Em razão dos eventos que implicaram derrotas da esquerda, nós que temos o papel de lideranças temos que estar presentes no debate nacional para ajudar a encontrar caminhos. Tenho feito debates, quando é compatível com minha agenda administrativa, para ajudar a refletir sobre o Brasil e a criar uma união no nosso campo político, para a que a gente possa vencer a eleição. Mas vencer com qual candidato? Nós vamos ver”, desconversou Dino, ressaltando que não teria problema em fazer campanha para outros companheiros da esquerda. “Posso fazer campanha para qualquer liderança do nosso campo que defende o Brasil e os brasileiros. E digo isso com toda sinceridade, porque já fiz para Lula, Dilma, Haddad e para o próprio Ciro Gomes”, afirmou.
Dino admitiu, por sua vez, que, além de se unir, a esquerda precisa apresentar um novo programa político para vencer as eleições. “Temos duas heranças poderosas que não devem ser negadas – o lulismo e o trabalhismo. Mas, por sobre essas tradições vitoriosas, temos que construir um novo programa. Novas ideias e propostas que impulsionem o país para a frente e mostrem que representamos a soberania nacional, o desenvolvimento econômico e a justiça social”, defendeu. Ele acredita, contudo, que não é preciso um novo nome, como o seu, para representar esse novo programa. “Se o presidente Lula saísse candidato, eu votaria nele. E acho que nomes já citados são excelentes, a exemplo do Ciro e do Haddad. O mais importante é que seja um nome que gere união, diminua arestas e consiga dialogar com a sociedade, inclusive com os setores sociais que não são necessariamente de esquerda”, disse o governador do Maranhão, que, mesmo assim, admitiu o desejo de se lançar à presidência.
“É uma possibilidade. Eu posso ser eventualmente candidato a presidente da República, mas também posso apoiar alguém, ser candidato ao Congresso ou até voltar a dar aula de direito constitucional, que também adoro e acho que mais do que nunca o Brasil precisa, porque esse direito que está sendo praticado não é o direito verdadeiro”, declarou. Lembrando que deixou de ser juiz para ser político, Dino ainda revelou sentir saudades de poder legislar na Câmara dos Deputados. “O Parlamento é muito bom e envolvente, pelos debates e pela possibilidade de mudar a realidade nacional mediante leis”, comentou.
Flávio Dino pontuou, contudo, que antes de pensar em 2022 é preciso pensar em 2019. “Devemos ver primeiro se haverá eleição em 2022, porque se depender de um ou outro que está por aí andando neste momento em Brasília, tem gente com a ideia de que esse negócio de eleição só atrapalha. Basta olhar a internet e as manifestações com faixas para fechar o Supremo e o Congresso e chamar uma intervenção militar para perceber. Não podemos banalizar isso, porque as grandes tragédias históricas surgiram da minimização”, declarou Dino, ressaltando que não cabe apenas à esquerda lutar contra essa situação.
“Fugir dessa armadilha não compete apenas à esquerda. O Brasil todo é vítima disso”, argumentou o maranhense, que aproveitou o ensejo para pedir ações mais enfáticas do Poder Judiciário em relação a ações que considera institucionais por parte do presidente Jair Bolsonaro e também do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Ele citou como errôneo, por exemplo, o envolvimento de Moro nos inquéritos que investigam a ação de hackers em seus celulares. “Por razões diferentes, Moro e Bolsonaro têm trilhado perigosos caminhos antidemocráticos. Por isso mesmo, é preciso manter a luz amarela e reivindicar que aqueles que estão omissos se movam, sobretudo o Ministério Público e o Poder Judiciário. Tenho absoluta certeza que a imensa maioria dos procuradores e juízes do Brasil não concorda com esse tipo de coisa, mas não basta discordar em casa. É preciso tomar providências”, provocou Dino.
Por fim, o governador do Maranhão admitiu que acha pouco provável uma ruptura antidemocrática no Brasil. Pensando em 2022, ele disse até achar possível que a esquerda conquiste novos votos na campanha eleitoral. “Os equívocos de Bolsonaro nos ajudam nesse sentido”, afirmou Dino, para quem um terço da população está à esquerda, um terço está com Bolsonaro e o outro terço está em posição de neutralidade, observando as coisas acontecerem, como um território a ser conquistado.
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