06 outubro 2019

Poesia sempre

Tenho fome de tua boca
Pablo Neruda

Tenho fome da tua boca, da tua voz, do teu cabelo,
e ando pelas ruas sem comer, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
busco no dia o som líquido dos teus pés.
Estou faminto do teu riso saltitante,
das tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra das tuas unhas,
quero comer a tua pele como uma intacta amêndoa.
Quero comer o raio queimado na tua formosura,
o nariz soberano do rosto altivo,
quero comer a sombra fugaz das tuas pestanas
e faminto venho e vou farejando o crepúsculo
à tua procura, procurando o teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratue.
[Ilustração: Farnese de Andrade]

Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2mMLpgP Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF

Nenhum comentário: