13 abril 2020

Para quem ele fala?


O presidente que acena para helicópteros
Pedro Caldas*

A pandemia e o isolamento social mudaram os nossos antigos hábitos e criaram uma porção de novos. Dentre as novidades tem um que gosto muito: ver a “nova de Bolsonaro”. Não entendeu? É porque não está aqui em casa.

Vez ou outra, geralmente nos momentos coletivos de preparação das refeições, alguém solta: viu a nova de Bolsonaro? Pode ser uma fala, um gesto, um discurso, um áudio ou uma postagem. Não importa o meio ou o formato, sempre tem uma “nova de Bolsonaro”.

A mais recente foi um vídeo que mostra ele cercado por sua equipe acenando. Você já imagina aquele grupo de apoiadores. Acontece que quem tá gravando muda de posição e mostra uma cena patética: Bolsonaro acena para o helicóptero que o espera. Não tem multidão, nem um minion sequer (além dos que trabalham para ele). Parece que ele enlouqueceu. Perdeu completamente a noção do que está fazendo?

Tenho certeza: não perdeu. Nesses tempos, o debate político passou de turvo para muito claro. Uma parte da sociedade defende Bolsonaro e os lucros de gigantes como o “Véio da Havan” (a troco do colapso do sistema de saúde) e a outra, bem maior, deseja superar a pandemia seguindo as recomendações da OMS e dos competentes infectologistas do SUS. Um bloco é a extrema-direita histérica e o outro é tão amplo que reúne gente como Ronaldo Caiado e Guilherme Boulos.

Quem como eu estuda marketing sabe que tão importante quanto pensar a mensagem que vai se passar é pensar no seu público. Por isso que eu afirmo que Bolsonaro não está louco, mas segue um plano de comunicação que deu certo em 2018 e segue dando até agora. Ele só fala para os seus apoiadores, cada dia mais cegos e confiantes na liderança do “mito”. Foi para esses que ele acenou, para o seu “gado” que receberá um vídeo no WhatsApp com a falsa ideia de que ele estava cercado por multidões quando embarcou no helicóptero.

E assim seguiremos recebendo “novas de Bolsonaro”. Na próxima vez que esbarrar em uma, pense que aquilo não é loucura, mas uma forma de deixar aquela vizinha ou aquele tio ainda mais distante da realidade.


*Pedro Caldas é Secretário de Comunicação da UJS Recife, estudante de Rádio, TV e Internet na UFPE e integrante do Coletivo Nacional de Comunicação da UJS

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