15 dezembro 2022

Minha opinião

Vertente ensandecida e inconsequente do bolsonarismo

Luciano Siqueira



Talvez a rigor não se pode falar em vertente, no sentido de corrente politicamente diferenciada; e a expressão ensandecida também não sirva exatamente para distinguir parcelas do assim chamado bolsonarismo, uma vez que o futuro ex-presidente da República, a maior referência desse movimento, jamais se pautou pelo equilíbrio e pela racionalidade.

Como se sabe, brandindo pautas as mais retrógradas em ambiente de profundo desgaste das instituições e da prática política, eficiente ao despertar preconceitos e aspirações até então parcialmente inibidos em milhões de brasileiros e brasileiras — uma mescla de pequenos e médios empresários, de uma “classe média” de aspirações estritamente individualistas e do lumpesinato —, Jair Bolsonaro (e sua trupe, incluindo agentes estrangeiros) alcançou o governo da República, desorganizou o Estado nacional e esfacelou as políticas públicas.

Governou em conflito permanente com inimigos reais ou imaginários, fomentou o caos como estratégia golpista.


Quase conquista mais quatro anos de mandato, utilizando uma gama de instrumentos e práticas mistificadoras e antidemocráticas.


Foi à lona no pleito presidencial e, além de persistir no questionamento da lisura do sistema de urnas eletrônicas, vem encorajando hordas de apoiadores movidos por uma "realidade paralela" fomentada através de aplicativos e redes digitais.

O vandalismo recente ocorrido em Brasília, justo no dia em que o presidente eleito e seu vice foram diplomados pelo TSE, sinaliza para um patamar mais agressivo na ação desses grupos que se esgoelam e oram nas portas dos quartéis pelo Brasil afora e mesmo no gramado defronte ao palácio da Alvorada, em Brasília.

Entretanto sem apoio mais amplo no conjunto da sociedade, incluindo provavelmente uma maioria de eleitores do atual presidente.

Uma opção tática de todo inconsequente, uma vez que mantém a extrema direita nas cordas e desgasta mais ainda a figura do próprio Bolsonaro.


A partir de primeiro de janeiro, não faltarão ao novo governo vontade política e mecanismos jurídicos e institucionais para derrotar de verdade essas hordas extremistas aparentemente predispostas ao tudo ou nada; em combinação com medidas reais de enfrentamento dos problemas que afligem a maioria da população.

Como subproduto do confronto, ainda que o clima de acirramento permaneça por tempo indefinido, a força política do ex-presidente se esgarçará paulatinamente.

Os fatos em órbitas sucessivas https://bit.ly/3Ye45TD

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