Vertente
ensandecida e inconsequente do bolsonarismo
Luciano
Siqueira
Talvez
a rigor não se pode falar em vertente, no sentido de corrente politicamente
diferenciada; e a expressão ensandecida também não sirva exatamente para
distinguir parcelas do assim chamado bolsonarismo, uma vez que o futuro
ex-presidente da República, a maior referência desse movimento, jamais se
pautou pelo equilíbrio e pela racionalidade.
Como
se sabe, brandindo pautas as mais retrógradas em ambiente de profundo desgaste
das instituições e da prática política, eficiente ao despertar preconceitos e
aspirações até então parcialmente inibidos em milhões de brasileiros e
brasileiras — uma mescla de pequenos e médios empresários, de uma “classe
média” de aspirações estritamente individualistas e do lumpesinato —, Jair
Bolsonaro (e sua trupe, incluindo agentes estrangeiros) alcançou o governo da
República, desorganizou o Estado nacional e esfacelou as políticas públicas.
Governou em conflito permanente com inimigos reais ou imaginários, fomentou o
caos como estratégia golpista.
Quase conquista mais quatro anos de mandato, utilizando uma gama de
instrumentos e práticas mistificadoras e antidemocráticas.
Foi à lona no pleito presidencial e, além de persistir no questionamento da
lisura do sistema de urnas eletrônicas, vem encorajando hordas de apoiadores
movidos por uma "realidade paralela" fomentada através de aplicativos
e redes digitais.
O
vandalismo recente ocorrido em Brasília, justo no dia em que o presidente
eleito e seu vice foram diplomados pelo TSE, sinaliza para um patamar mais
agressivo na ação desses grupos que se esgoelam e oram nas portas dos quartéis
pelo Brasil afora e mesmo no gramado defronte ao palácio da Alvorada, em
Brasília.
Entretanto
sem apoio mais amplo no conjunto da sociedade, incluindo provavelmente uma
maioria de eleitores do atual presidente.
Uma opção tática de todo inconsequente, uma vez que mantém a extrema direita
nas cordas e desgasta mais ainda a figura do próprio Bolsonaro.
A partir de primeiro de janeiro, não faltarão ao novo governo vontade política
e mecanismos jurídicos e institucionais para derrotar de verdade essas hordas
extremistas aparentemente predispostas ao tudo ou nada; em combinação com
medidas reais de enfrentamento dos problemas que afligem a maioria da
população.
Como
subproduto do confronto, ainda que o clima de acirramento permaneça por tempo
indefinido, a força política do ex-presidente se esgarçará paulatinamente.
Os fatos em órbitas sucessivas https://bit.ly/3Ye45TD
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