Em visita à Guiana, Lula defende a paz na América do Sul
Lula se reunirá com Maduro, mas disputa territorial entre Venezuela e Guiana não estará na pauta
Cezar Xavier/Vermelho
Durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) prevista para esta sexta-feira (1) em São Vicente e Granadinas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que terá um encontro com o líder venezuelano, Nicolás Maduro. No entanto, adiantou que não abordará a disputa histórica entre a Venezuela e a Guiana pela região do Essequibo, um território de 160 mil quilômetros quadrados, rico em petróleo e minério sob jurisdição guianesa e que Caracas reivindica.
“A reunião não é para isso, é para discutir a Celac. Eu vou encontrar com o Maduro lá, e eu pretendo discutir a hora que eles quiserem marcar uma reunião, e o presidente (primeiro-ministro) Ralph (de São Vicente e Granadinas), que é o coordenador que vai marcar, o Brasil estará totalmente à disposição para participar”, afirmou Lula.
Durante sua visita à Georgetown, capital da Guiana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a importância de manter a América do Sul como uma zona de paz. Em declaração à imprensa após uma reunião com o presidente guianês, Irfaan Ali, Lula destacou a necessidade de evitar conflitos na região, ressaltando que a guerra traz destruição e sofrimento, enquanto a paz promove prosperidade e desenvolvimento.
O tema também não foi discutido durante reunião com o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, nesta quinta.
“Nós não discutimos a questão do Essequibo, não era o momento de discutir. Mas o presidente Ali sabe, como sabe o Maduro, que o Brasil está disposto a conversar com eles quando for necessário, a hora que for necessário, porque queremos convencer as pessoas de que é possível, através de diálogo, encontrar a manutenção da paz”, destacou Lula na Guiana, após encontro com o presidente do país.
Lula ainda afirmou que o tema também não estará na pauta do seu encontro com Nicolás Maduro durante a cúpula da Celac em São Vicente e Granadinas.
Ao falar sobre a disputa, Lula ressaltou sua confiança nos meios diplomáticos para a solução do conflito, mas afirmou que as tratativas ainda podem durar algumas décadas.
“O Brasil vai continuar empenhado para que as coisas aconteçam na maior tranquilidade possível. Se em 100 anos não foi possível resolver esse problema, é possível que a gente leve mais algumas décadas, a única coisa que eu tenho certeza é que a violência não resolverá esse problema, criará outros problemas”, enfatizou o presidente brasileiro.
Apesar de não abordar a questão de Essequibo com Maduro, Lula enfatizou que o tema não pode ser esquecido, considerando sua longa história. “O Brasil vai continuar empenhado para que as coisas aconteçam na maior tranquilidade possível”, destacou.
A Venezuela argumenta que esse território faz parte de seu domínio desde a época em que era colônia da Espanha, apelando para o acordo de Genebra de 1966. Por sua vez, a Guiana defende as fronteiras fixadas por um laudo de 1899, recorrendo à Corte Internacional de Justiça.
A disputa territorial remonta ao século XIX e ganhou novos capítulos com o referendo consultivo organizado por Maduro em dezembro do ano passado, sobre a anexação do território. Desde então, a Guiana considerou a consulta uma ameaça direta, levando a questão ao Conselho de Segurança da ONU. O Brasil, que defende uma solução pacífica, intensificou seus contatos diplomáticos para mediar a disputa pela região do Essequibo, tentando exercer um papel de liderança regional.
O encontro entre Lula e Maduro na reunião da Celac promete ser um momento importante para discutir questões regionais e fortalecer os laços diplomáticos entre os países latino-americanos e caribenhos.
O presidente brasileiro aproveitou a ocasião para agradecer ao primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, pelo papel de coordenação nas conversas entre Guiana e Venezuela. Essa mediação contribuiu para a assinatura de um acordo em dezembro de 2023, no qual os dois países concordaram em não usar a força para resolver a disputa pelo território de Essequibo.
Integração regional
Lula, que também participou do encerramento da 46ª Cúpula de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom), ressaltou os laços de integração e investimentos entre o Brasil e os países da região. Ele reafirmou o compromisso de ampliar parcerias e abrir rotas de conexão, como parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), visando a integração continental e a redução da distância do comércio com países asiáticos.
Além disso, o presidente brasileiro apresentou o plano Rotas da Integração Sul-Americana à Guiana, destacando a importância da cooperação em áreas como infraestrutura, segurança alimentar, transporte e mudança climática. Ele convidou o presidente guianês para participar de uma reunião climática do G20 no Brasil, a fim de discutir a preservação das florestas e os projetos de remuneração por serviços ambientais.
Durante sua estadia na Guiana, Lula também se encontrou com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e participou de um encontro trilateral com os presidentes da Guiana e do Suriname, Chan Santokhi.
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