22 março 2007

Nosso artigo semanal no portal Vermelho

As idéias e os votos

Quem tem melhores idéias conquista mais votos. Certo ou errado? Depende. No processo eleitoral brasileiro não há uma relação direta entre idéias fundamentadas e supostamente justas e adequadas às necessidade do povo e da nação e a quantidade de votos obtidos pelos partidos e candidatos que as defendem.

São muitas as variáveis que interferem no comportamento do eleitorado. Quase todas relacionadas com a fragilidade do sistema partidário e eleitoral, que exacerba o personalismo e a influência do poder econômico; e com o nível de compreensão política ainda limitado da maioria dos eleitores. E com métodos pouco politizados, predominantemente assistencialistas.

Nas campanhas pouco se debate programas e propostas. E muito se usa para seduzir o eleitor com expedientes quase sempre ao arrepio da ética.

Findo um pleito, as conseqüências disso se expressam com nitidez. E levam a distorções.

Caso agora da composição do ministério e da estruturação do modus operandi do governo Lula.

Não se deve subestimar nem desqualificar os votos que fizeram do PMDB o maior partido no Congresso. Mas ninguém desconhece que esse partido, dividido e pulverizado em grupos regionais, deixou muito a desejar em matéria de propostas apresentadas na campanha de outubro.

Já o PSB e o PCdoB, bem menos aquinhoados nas urnas, não só propugnaram soluções para o Brasil durante a campanha como são co-autores, ao lado do PT, da plataforma de sete pontos sustentada por Lula.

As afinidades entre o PT, o PSB e o PCdoB justificavam o propósito de apoiar o núcleo de coordenação da coalizão na unidade desses três partidos. Como o próprio Diretório Nacional do PT registrou em documento oficial.

Mas o PT mudou de idéia, e o governo idem. Na composição do novo ministério e na conformação do núcleo gestor da base parlamentar e extra-parlamentar de apoio ao governo, já não são mais o PCdoB e o PSB os principais parceiros do PT. É o PMDB, principalmente a ala liderada por Michel Temer e os chamados neolulistas (que apoiaram Alckmin no primeiro e no segundo turno).

Entre as idéias e o voto, prevalece o voto. Ou seja: a força de cada partido no Congresso.

Conseqüência natural da correlação de forças objetiva no âmbito da coalizão de onze partidos que apóia Lula? Pode ser. Mas não seria obrigatória. O PT e o governo deveriam ter mais cuidado com a preservação e o fortalecimento do pensamento norteador do segundo mandato. A influência excessiva do PMDB junto ao PT e a Lula pode arrastar ambos para uma postura centrista, inadequada a um governo que precisa ser mais audacioso na tentativa de impulsionar o desenvolvimento do país.

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