15 março 2011

Uma crônica minha no Jornal da Besta Fubana e no site da Revista Algomais

O ser artificial e a ciência da vida
Luciano Siqueira


Hoje em dia nada que se possa prever com alguma base concreta pode ser tomado como excesso de imaginação. O progresso da ciência em todos os campos é tal que se supõem artifícios tecnológicos capazes de tornar a vida sem graça – isso logo ali, em 2100.

Está num livro recém-resenhado pela Economist – porta-voz sofisticado do grande capital financeiro -, Physics of the future: how science Will shape (em tradução do jornal O Estado de São Paulo, Física do futuro: como a ciência orientará o destino humano e nossas vidas cotidianas até o ano 2100), do renomado pesquisador Michio Kaku, professor do City College de Nova York.

O livro foi composto a partir de entrevistas com cerca de 300 cientistas de grande prestígio, uma dúzia deles detentores do Prêmio Nobel.

O professor Kaku pega pesado: “A telecinesia será lugar-comum, com aparelhos controlados por scanners cerebrais; sensores microscópicos vão monitorar continuamente as células, a procura de sinais de perigo, aumentando a duração da vida humana; lentes de contato conectadas à internet vão oferecer informações sobre qualquer coisa e qualquer um à vista, permitindo onisciência sob demanda.”

Aliás, fale-se de passagem, outro futurista, Ray Kuezweil, autor do documentário Transcendent man (Homem transcendente), vai mais além e afirma que a inteligência artificial ultrapassará a humana em 2029.

Sinceramente, eu que me considero insuspeito porque sempre me deixei fascinar pelas fantásticas conquistas da ciência – sobretudo em minha área, a medicina -, sinto-me perturbado com tudo isso. E ponho água no chope: o risco é a universalização do uso dessas engenhocas, ou seja, se, por hipótese, todos os seres humanos vierem a se valer dessa parafernália destinada a aguçar nossos velhos cinco sentidos. Porque tenho cá minha desconfiança que seres humanos em vias de terem a intelgiência suplantada pela capacidade de discernimento de máquinas correm o risco de não mais prestarem atenção aos primeiros raios de luz da alvorada, ao canto de um pássaro, ao desabrochar de uma rosa, à imagem mística do arrebol.

Ora, a ciência da vida (com permissão do trocadilho) está justamente em perceber nas coisas mais simples o sentido universal de nossa existência.

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