17 março 2012

O divórcio entre o capitalismo e a democracia

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
O legado da dama de ferro
 
Um recente ensaio do sociólogo italiano Franco Cassano expõe a ideologia hegemônica da atual etapa da sociedade capitalista globalizada mesmo que algumas de suas conclusões possam ser questionadas.

Segundo ele as conquistas sociais dos anos sessenta (direitos trabalhistas, consumo de massa, expansão dos direitos sociais) teriam rachado o compromisso entre o capitalismo e a democracia clássica porque revelaram um Estado "perigosamente" exposto às pressões de baixo e a máxima "um indivíduo, um voto" mostrou-se incompatível com os imperativos da rentabilidade e do lucro.


Assim, o capital global numa intensa ofensiva iniciada nos idos de 1970 implementou uma estratégia de evitar o choque frontal, esvaziando a política, redimensionado drasticamente a sua esfera e o papel do Estado nação que já não seria o de dirigir mas garantir algum grau de coesão social, de não mais cultivar projetos ambiciosos, mas apenas remendar e tampar através das políticas compensatórias.

E aí acontece uma espécie de crime perfeito: a decadência da política é atribuída aos seus protagonistas enquanto o verdadeiro poder, o capital global, goza de total liberdade de movimento, impunidade e privilégios.

Com a débâcle da União Soviética e do chamado campo socialista ao leste da Europa, essa liderança unipolar fez-se mais contundente introduzindo um novo período de expansão colonial militar sob o tacão norte-americano e inglês apesar de óbvio declínio econômico, cultural.

Possibilitando que essa contra-ofensiva neoliberal permeasse uma capilar liderança ideológica conduzida principalmente através da grande mídia hegemônica mundial onde o imaginário social assume que o essencial da vida é o sucesso total, que você pode ser o que quiser, não importa de qual maneira, mas que a coletividade é o obstáculo à sua realização individual.

A ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, a "dama de ferro", cuja biografia filmada acabou de ganhar um Oscar, mãe das políticas neoliberais, dizia que "a sociedade não existe, existem apenas os indivíduos" em uma clara apologia à lei da selva, ao leviatã.

A emergência dos BRICS é um novo alento num mundo conduzido em galopante regressão à barbárie e ao desvario. Para tanto é decisiva a luta de ideias que galvanize os trabalhadores, povos e as nações em defesa de uma nova alternativa econômica, social, bem mais justa para a humanidade.

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