13 novembro 2013

Conteúdo de coalizões partidárias

O fio da meada de frentes amplas
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio online)

Quem se alia com quem em torno de que projeto e sob que liderança?  A questão toma corpo a cada episódio eleitoral, quando o jogo de forças se faz a um só tempo complexo e instável no ambiente político brasileiro. Muito diverso de países da Europa, por exemplo, de poucos partidos e matizes políticos e ideológicos estratificados e em certa medida imutáveis.

O Brasil é diferente. “Não é para principiantes”, já se disse. Aqui, além da imensidão do território e das acentuadas diversidades regionais – históricas, econômicas, sociais, culturais -, que se refletem no comportamento dos partidos, grupos e líderes proeminentes em cada lugar, o espectro partidário comporta nada menos que trinta e duas legendas. Verdade que há partidos constituídos de fato e de direito e legendas legalmente respaldadas, porém basicamente cartoriais. Agremiações programáticas, não muitas; e uma maioria de natureza circunstancial, digamos.

Mas o fato é que na hora da onça beber água, ou seja, quando se aproxima o embate eleitoral, constituem-se alianças nas quais não será pelas aparências que nelas se encontrarão a coerência e a legitimidade, mas sim pela sua essência. E esta há que se reconhecer no projeto político de cada coalizão partidária constituída.

Mais: seja porque a força do fator local, do regionalismo – como acentuou Afonso Arinos de Melo Franco em opúsculo sobre a teoria e história dos partidos políticos no Brasil -, seja pelas “facilidades” da legislação eleitoral, alianças concertadas em plano nacional obrigatoriamente não se confirmam em plano estadual. Assim, nas eleições gerais do ano vindouro, partidos podem estar juntos em torno de determinada candidatura presidencial, porém separados e em palanques opostos nos estados.

Nesse ambiente caleidoscópico, onde encontrar “coerência ideológica e política”, tão reclamada por analistas acadêmicos (em geral distantes da cena política concreta)? Certamente não será no desenho das siglas coligadas, e sim nas proposições que cada coligação sustenta.

Cá na província, por exemplo, Miguel Arraes elegeu-se três vezes governador, sempre liderando frentes políticas amplas e heterogêneas. Foi o meio de juntar forças reconhecíveis pelo eleitorado e produzir a maioria de votos necessária. Entretanto, nas três ocasiões, o ideário básico sustentado por sua candidatura pôde ser identificado no apego aos interesses fundamentais do povo e à defesa da soberania nacional. Se incoerência havia, esta esteve em correntes políticas pouco identificadas com esse ideário, mas conduzidas pela necessidade de compartilhar espaços institucionais conquistados pelo voto – que seriam inviáveis fora da frente ampla, isoladamente.

Lula governou oito anos à testa de frente nacional amplíssima; Dilma assim se elegeu; como também Eduardo Campos em Pernambuco. O fio da meada está no programa adotado.

Agora, mirando 2014, intenso é o movimento visando a concertação de alianças. Por enquanto, carente de nitidez programática. Adiante, contudo, quem defende o quê haverá de se explicitar – sobretudo no pleito nacional, onde estará em jogo a continuidade das mudanças realizadas na última década versus o risco de retrocesso.

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