04 maio 2014

Violência homofóbica

Homens sofrem mais agressões à medida que se declaram homossexuais


Na Carta Capital

Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo mostrou que a já tradicional Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que ocorre neste domingo 4, tem razão de escolher como tema a criminalização da homofobia e a lei de identidade de gênero. O levantamento aponta que 72% dos homens que se assumem publicamente como gays já sofreram agressões verbais no trabalho, na faculdade e em ambientes familiares, enquanto 16% dos não assumidos passaram por algo semelhante. A pesquisa também mostra que, entre os assumidos, 21% já foram agredidos, contra 4% dos que preferem não se revelar.

A pesquisa, feita pelo psicólogo Luiz Fabio Alves de Deus para um mestrado realizado na Faculdade de Saúde Pública da USP, mostrou, além disso, que, em um grupo de aproximadamente 1200 homens gays, 42% dos que assumem sua sexualidade em todos os contextos sociais (família, amigo, trabalho, escola/faculdade e também ambientes religiosos) já sofreram ameaças por conta da orientação sexual. Enquanto isso, dos que não se assumem, 8% passaram por algo semelhante. No ambiente de trabalho, um quarto dos que se assumem já sofreram constrangimentos, como piadas e discriminação velada. O número cai para zero quando se trata de um gay que não fez a revelação.

Segundo Alves, o aumento das agressões nesses grupos tem a ver a ruptura do padrão heteronormativo da sociedade. “Isso ocorre porque o homossexual que se expõe acaba reivindicando mais direito e espaço para expressar a sua sexualidade.” Alves explica que essa exposição acaba confrontando regras sociais e incomodando pessoas que pensam que o afeto gay não pode ter o mesmo espaço que o afeto hetero.

A pesquisa também apontou que, dentre os pesquisados, mais homens com menos de trinta anos fizeram a revelação pública. Alves acredita que, nestes casos, é mais fácil para quem nasceu nos anos 90 lidar com a sua sexualidade por conta do fortalecimento do movimento gay surgido a partir desta década. “O movimento gay comprou a briga e trouxe às pessoas discussões referentes à sexualidade. Os gays cobraram o espaço e facilitaram para os nascidos em 1990, que já cresceram com a ideia de que ser gay é um direito: eles sabem que devem sair do armário, a questão é como. Já os mais velhos pensam que não devem sair do armário.”

Alves percebeu, ainda, que menos negros tendem a se assumir, quando comparados aos brancos homossexuais. Alves explica que isto está relacionado ao acúmulo de preconceitos. Para ele, os homossexuais negros, por já sofrerem preconceitos por sua cor, podem ser impelidos a não admitir para os outros sua sexualidade. “Revelar-se gay é se expor à situação de violência e preconceito. Isso pode ser administrado, pois se o gay sabe que será vítima de preconceito, ele pode não se revelar. Como ser negro não é uma situação que possa ser administrada, pois está na cara, muitos preferem não revelar a sua sexualidade porque a carga de preconceito ficaria ainda maior.”

A discriminação aos homossexuais, ao longo da vida, pode refletir na saúde psicológica dessas pessoas, completa Alves. “São atos contínuos de violência, da infância até a pessoa morrer. Todos os ambientes frequentados por essa pessoa oferecem discriminação, os gays são discriminados em suas casas e até por profissionais da saúde", afirma. "Relacionei minha pesquisa com outros estudos e vi que na população LGBT tem aumentado as situações de depressão, ansiedade e suicídio.”

Alves não quis fazer um julgamento a respeito do que é melhor para o homem homossexual: se expor, e sofrer mais violência, ou se esconder. “Na pesquisa, percebi que alguns não se assumiam publicamente mas frequentavam lugares gays. É a melhor forma? Só a pessoa pode dizer, é uma escolha individual.” A intenção do estudo, segundo ele, não é fazer com que os gays permaneçam no armário, mas que lutem por políticas públicas que os protejam do assédio e das imposições sociais. “Quando a discriminação é velada, não se defende” lembra.

*A pesquisa desenvolvida por Alves contou com dados do projeto SampaCentro e foi realizada com a ajuda da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS e Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp). Os dados foram coletados em 2012.

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