17 junho 2015

Postura primária e estéril

Indo à caça sem cão nem gato

Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Escreve-me um velho amigo observador da cena política comentando que, diferentemente de outros momentos, não se identificam hoje líderes com estatura correspondente à gravidade da situação.
Independentemente do juízo de valor que se fizesse sobre cada um dos atores, houve tempo em que se presenciavam démarches envolvendo Ulysses Guimarães, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Leonel Brizola e outros.
Daqueles líderes sempre havia algo a esperar. Hoje, a gente nem sabe quem dialoga em busca de alternativas, diz o amigo.
É verdade.                                                                       
Pois se é fato que a presidenta Dilma se mantém arredia e o governo carece de interlocutores capazes e hábeis – ou os tem, mas desviados de função, como o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, quase esquecido no Ministério da Defesa -, nas oposições predomina o primarismo estéril.
Ungido líder natural das forças contrárias ao governo, o senador mineiro Aécio Neves sucumbe gradativamente.
Oscila entre arroubos midiáticos (típicos de quem perdeu o pleito, mas não se conformou) e reincidentes manobras na esfera judicial, no propósito de fundamentar o sonhado pedido de impeachment da presidenta.
Enquanto isso, bem ou mal, ainda que distorcido e afetado pela parcialidade da mídia hegemônica, segue o debate acerca dos impasses da economia, o ajuste fiscal e o que pode vir em seguida.
Por que não propor alternativas ao invés de simplesmente torpedear as proposições do governo no Congresso?
Por que não expor uma opinião consistente, do ponto de vista do ideário neoliberal em que se baseia, acerca do conteúdo, das implicações imediatas e das consequências futuras do ajuste fiscal?
Por que não questionar, com argumentos minimamente respeitáveis, o conjunto dos investimentos anunciados recentemente pela presidenta Dilma nas áreas de infraestrutura, com o fito de retomar o crescimento no pós-ajuste?
Aécio e seus aliados dariam uma contribuição ao País se expusessem com clareza e responsabilidade seus pontos de vista sobre questões cruciais como estas.
Ao contrário, escolhem o “tapetão”, como se diz na gíria futebolística quando se perde em campo se apela aos tribunais.
Na última terça-feira, 16, foram ao Tribunal de Contas da União (TCU) para pressionar pela reprovação das contas do governo da presidenta Dilma Rousseff.
Teria havido crime de responsabilidade da presidenta Dilma em razão de empréstimos requeridos pelo governo junto aos bancos Caixa Econômica e Banco do Brasil, para honrar compromissos com programas sociais. Babaquice. Esse expediente se pratica desde 2001, portanto no governo FHC, sem que resulte em ilegalidade.
Quem não tem cão, caça com gato – ensina a sabedoria popular. Nesse caso, faltam o cão e o gato, tamanha inconsequência do tucanato e aliados.
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