20 outubro 2015

Conflito social

Quando a realidade desautoriza o preconceito

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

No Brasil dos nossos dias crescente e acirrado é o confronto entre o preconceito e a realidade concreta. Em outras palavras: conquistas sociais não rimam com a ideologia do privilégio.
Conforme assinala o titular do Instituo Data Popular, Renato Meireles, expressão emblemática desse preconceito é o constrangimento que muita gente da chamada classe média alta experimenta ao se deparar, no salão de embarque dos aeroportos, com a sua faxineira que, em férias, viajará no mesmo voo.
“É o comunismo do PT”, acicata o cantor José Ramalho, dizendo-se incomodado com a presença de tanta gente pobre viajando de avião.
Nessa mesma linha, muitas vezes ouvimos críticas agressivas ao Bolsa Família, acusado por políticos de indeclinável matiz direitista – em Pernambuco, por exemplo – e gente “graúda”, que consideram o programa um estímulo à vadiagem (sic).
“Desinformação e preconceito”, rechaça a ministra a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.
Na verdade, desde 2003 o Bolsa Família atua como importante redutor da pobreza. Complementa a renda das famílias atendidas e oferece atenção à saúde e à educação a crianças, adolescentes e mulheres gestantes.
Uma importante contribuição para que o Brasil tenha sido excluído, pela ONU, do mapa mundial da fome.
Atualmente, são atendidas cerca de 14 milhões de famílias em todo o país.
Age também o programa com indutor da economia local. A cada R$ 1 investido, o retorno é R$ 1,78 para a economia.
Isto a custo proporcionalmente reduzido, pois o Bolsa Família consume apenas 0,5% do Produto Interno Bruto do país, conforme previsão orçamentária para 2016.
O fato é que as políticas públicas que proporcionaram a maior mobilidade social de que se tem notícias na História do Brasil, retirando da miséria e da pobreza extrema mais de quarenta milhões de pessoas em apenas doze anos, dão o pano de fundo à tremenda disputa pelo poder ora em curso.
A ansiedade com que as forças derrotadas no último pleito presidencial tentam, a todo custo, via tribunais e parlamento, a interrupção do mandato da presidenta Dilma reflete interesses de classe bem definidos. Daí economistas credenciados nas hostes oposicionistas terem antecipado, dias atrás, intentos regressivas em matéria de política econômica, antevendo um desejado retorno ao figurino neoliberal e, por conseguinte, à ultraconcentração da renda, da produção e da riqueza e a exclusão de milhões que, assim, retornariam à situação anterior.
O desafio agora é ultrapassar a crise política, concretizar o ajuste fiscal e retomar o crescimento socialmente inclusivo – para o País não perca o fio condutor das transformações sociais.
Assim, a vida seguirá derrotando o preconceito.
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