14 setembro 2018

A Inquisição perdeu


Sem espaços para propostas
Jornal GGN

Foram quase 30 minutos de uma "entrevista" sem brecha para qualquer proposta. Fernando Haddad até recebeu de William Bonner um "obrigado" por "enfrentar" as perguntas da bancada ao final de sua participação no Jornal Nacional, nesta sexta (14). O presidenciável do PT, que colunistas da velha mídia tentam reduzir a "poste de Lula", passou bem longe de se deixar intimidar. Contornou todos os ataques que recebeu - e não foram poucos, como era previsível - e fez contrapontos às narrativas dos apresentadores. Expôs com clareza e fidelidade aos fatos a aliança do Golpe de 2016 em plena Rede Globo. 
Logo no início, os apresentadores passaram alguns minutos insistindo para que Haddad fizesse um pedido de desculpas público, em nome do PT, por causa de todos os escândalos de corrupção, principalmente o Mensalão e a Lava Jato. Haddad não cedeu.
"Eu divido a questão da seguinte maneira. Tem o governo que fortalece as instituições que combatem a corrupção, e governos que enfraquecem essas instituições. Na minha opinião, os governos do PT foram os que mais fortaleceram o combate à corrupção."
Haddad expôs que a corrupção revelada pela Lava Jato vem de "tempos remotos", embora a imprensa insista em atribuir o esquema exclusivamente ao PT. 

Pressionado pela pretensa delação de Renato Duque (tomada como verdade absoluta pelos apresentadores), na qual o ex-diretor da Petrobras diz que Lula tinha conhecimento de todos os esquemas de corrupção na estatal, Haddad respondeu que acha difícil que qualquer presidente tenha conhecimento de detalhes do cotidiano das empresas do Estado e admitiu que "as estatais ficaram desguarnecidas" em termos de fiscalização. Mas não deixou de fazer constar que delatores e empresários que enriqueceram com desvios na Petrobras já estão soltos, usufruindo de seus patrimônios e, em muitos casos, não apresentaram provas que corroboram as delações.

"INVESTIGADA A GLOBO TAMBÉM É" - O clima passou a ficar tenso quando Bonner começou a propagar o discurso da Lava Jato, dando a entender que o PT não tem "casos isolados" de corrupção, mas "sistematicamente" opera como uma organização criminosa que faz de tudo para se manter no poder. O jornalista nivelou petistas que foram delatados mas não acusados, acusados mas não condenados, réus condenados sem trânsito em julgado e outros, como Dilma Rousseff, que não são réus, mas investigados, como se fossem todos culpados.

Haddad não deixou por menos e disse que a Rede Globo também é investigada por problemas fiscais, e não recebe o mesmo tratamento que Bonner confere a petistas.

- A Rede Globo muitas vezes condena por antecipação, disse Haddad.

 - Eu faço jornalismo, defendeu Bonner.

 - Vocês não tratam os problemas da Rede Globo como tratam os problemas do PT. (...) Vocês são uma concessão pública e têm problemas na Receita. Mas não vou ficar aqui antecipando julgamento", devolveu o petista.

Haddad conseguiu, ainda, contornar os golpes desferidos com base em ações apresentadas pelo Ministério Público de São Paulo nas últimas semanas. O ex-prefeito expôs, inclusive, que a imprensa insiste em colocar em xeque um contrato da Prefeitura com a Constran (consórcio com 30% de participação da UTC), quando a licitação nunca foi questionada por nenhum órgão de controle ou fiscalização. Os próprios delatores negam superfaturamento.

Quando o presidenciável passou a expôr os resultados do combate à corrupção que sua gestão promoveu apostando na Controladoria-Geral do Município, Renata Vasconcellos interrompeu:

- Candidato, acho que o Bonner está satisfeito com sua resposta...

- Mas eu não estou satisfeito. Quando é sua honra que está em jogo, você decide [quando para]. 
Quando é a minha, eu decido, disparou Haddad.

Questionado sobre a derrota no Paço paulistano, em 2016, para João Doria (PSDB), Haddad deu uma aula sobre a conjuntura que levou o anti-petismo à vitória em inúmeras cidades antes administradas pelo PT. O papel da mídia, que alimentou o clima de ódio ao PT com a Lava Jato, foi novamente criticado.

"Aconteceu uma indução a erro. O eleitor foi induzido a erro. Ele votou de acordo com as informações que ele tinha. A informação que ele tinha era que o PSDB era de santos e o demônio do Brasil era o PT."

Veja vídeo: Fernando Haddad, candidato à Presidência, concede entrevista ao Jornal Nacional https://bit.ly/2xm7Zyi
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