03 fevereiro 2019

Quem quer dividir não sabe para onde ir


A oposição, para ser consequente, tem que ser ampla

A eleição na Câmara dos Deputados é a ponta do iceberg do estado da oposição. A posição da bancada comunista com o voto explícito em Rodrigo Maia faz parte de um debate de fundo de grande importância sobre a tática de que necessita a oposição. Considerou-se que a luta por espaços democráticos no Congresso, onde reside uma das principais linhas de tensão e fragilidade do novo governo, é fundamental. É uma forma de dar real consequência à oposição.

Por Walter Sorrentino, portal Vermelho

As eleições de outubro consolidaram o quadro desfavorável na correlação de forças em favor da agenda antinacional, antipopular e antidemocrática. Para o PCdoB o centro da tática nesta hora é a oposição vigorosa contra a agenda da extrema-direita, para acumular forças sociais, políticas e culturais e enfrentar a nova direita no país. É uma resistência ativa, com ações progressivas da luta popular por seus direitos sociais e pela soberania nacional. As forças populares serão sempre a força fundamental a mobilizar para isso; acumular forças exigirá, ainda, amplitude para ampliar o combate democrático e explorar com sagacidade as contradições presentes entre as forças dominantes que sustentam o atual governo. Isso se impõe num quadro de defensiva tática.

A eleição da Mesa da Câmara tem caráter que não é programático de eleições gerais e sim para ampliar espaços de ação efetiva da oposição, fazendo respeitar a institucionalidade democrática e autonomia. O presidente da Mesa precisa respeitar a toda a Casa. Assim que a posição do PT foi politicamente errada segundo esta perspectiva. Orientado por marcar posição, olhou para trás e não para a frente, ou seja, para os novos desafios da oposição no governo Bolsonaro.

Do que se tratava é de uma disputa política por nos unirmos em torno do justo voto a Maia, sem integrar o bloco governista que o apoiava. Curioso, por exemplo, o PT não relembrar seu voto na Assembleia Legislativa de São Paulo onde sempre deteve grande bancada durante os 24 anos de domínio tucano, até este momento. A eleição de tucanos à Presidência foi quase sempre uma rotina, com votos petistas. Dois pesos, duas medidas segundo as conveniências?

O que fragilizou o PT e o PSOL foi partir de uma orientação tática falsa, alegando haver “só um bloco oposicionista” na eleição, que estava “sendo isolado” pelo PCdoB que estaria “no bloco com Bolsonaro”, uma falsidade insana. Errou, assim, em duas vertentes: no exame da real correlação de forças em choque e nos intentos de hegemonia pelos caminhos falsos da imposição. E sua bancada federal se auto-felicita pelo insucesso!

As escaramuças tiveram semelhança com aquelas da eleição anterior de Rodrigo Maia presidente da Câmara em 2016, na vigência do governo golpista de Michel Temer, quando o PCdoB o apoiou no segundo turno, e o PT se engalfinhou até que Lula, posteriormente, declarou que era o caminho certo. Também naquela ocasião o PT deu votos a Rodrigo Maia desconhecendo a orientação partidária. Desta feita, asseverou que não houve votos do PT em Maia, contrariando a aritmética mais elementar. E a bancada se auto-felicitou pelo sucesso!

Mas no caso presente, os problemas foram mais graves. O pior foi a apelação vocalizada com penosa infelicidade pelo líder Ivan Valente, do PSOL, apoiada pelo PT por meio de Maria do Rosário – coisa que se registra nos anais da história política da esquerda brasileira. Intentaram bloquear a legítima representação parlamentar do PCdoB com a incorporação do PPL, em oposição à liberdade de organização partidária e do papel do partido nas lutas. Pretenderam retaliar, fazendo coro com a extrema-direita, arriscando comprometer as relações que se exigem entre partidos aliados! Francamente, é ainda maior insanidade política, felizmente contraditada pela medida democrática da Mesa da Câmara reconhecendo a incorporação do PPL ao PCdoB.

O PT não quer se confrontar com sua postura hegemonista, que falseia a verdadeira construção da hegemonia. Adota a conduta que aparenta radicalizar, sem capacidade de ampliar, o que na verdade dificulta o enfrentamento que precisa fazer a oposição. Isso não é consequente para formular uma política justa para unir a oposição. Quem se julga “grande” precisa se mostrar à altura de elaborar uma tática consequente, não apenas pensar em seus interesses.

A esquerda e centro-esquerda brasileira têm dificuldades para se unir. A campanha passada mais uma vez demonstrou isso, até mesmo face ao ineditismo de a extrema-direita chegar de fato ao governo. O PT atuou contra isso. Os comunistas, por sua vez, atuaram totalmente e até o último segundo por esse caminho. Talvez o resultado das eleições fosse outro.

Os comunistas ajudaram a construir a base política social que levaram às conquistas da nação e do povo desde seu nascimento, há quase um século. Apoiou incontestemente os governos 2003-2016, mesmo quando retaliado pelo PT como nas eleições à Presidência da Câmara em 2007 e seu alijamento quando optaram pela aliança preferencial com o PMDB – na ocasião o PCdoB formou o Bloco de Esquerda com PDT e PSB. Combateu nas primeiras filas contra o golpe do impeachment, junto com outras forças constrói a resistência popular na FBP e está – como esteve desde a primeira hora – no combate contra a prisão de Lula como bandeira de magna expressão democrática.

Resistência, amplitude e sagacidade são os temas do debate das forças aliadas na oposição contra o governo Bolsonaro, por uma vigorosa luta em defesa dos direitos do povo e da soberania nacional, unida a ampla frente que pugna pela democracia e Estado democrático de direito. A luta continua nas ruas e instituições. Maior unidade tática na ação vai se adensar, cedo ou tarde, sem prejuízo da luta legítima pelos interesses partidários. O PCdoB embasa tal tática numa estratégia de Unidade Popular como núcleo de uma Frente Ampla Democrática, portanto dá-lhe alcance estratégico.

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