12 julho 2006

Geraldo Alckmin precisa ouvir o Bussunda

Transcrevemos trechos de um artigo de Elio Gaspari na Folha de São Paulo de hoje. Confira.

Geraldo Alckmin dá a impressão de reencarnar do sujeito que decorou a letra R da enciclopédia. Com uma diferença: memoriza números. O Estado que governou por cinco anos teve cerca de 50 agentes da ordem assassinados em menos de 90 dias, 1.500 presos foram confinados como bichos num espaço onde caberiam 150 e ele tem o seguinte a dizer:

"A fuga no Estado de São Paulo no ano passado foi 0,13. Isso é número europeu".

Se o doutor estivesse no mundo do futebol, poderia anunciar que formará um time que faça muitas faltas, dê poucos passes e recue a bola sempre que possível. Um levantamento de 1.500 partidas feitos pelo Datafolha, mostra que essas são as características de 53% a 67% dos vencedores.

E daí?Quando os bandidos soltos matam policiais e agentes penitenciários na porta de suas casas, o índice de fugas é uma irrelevância. Quando os presos são tratados como bichos, transformando o poder coercitivo do Estado em selvageria, degrada-se o governo.

O índice europeu de fugas dos presídios paulistas tem pouco a ver com o que acontece no Brasil. Muito mais relevante é a indicação de que aqui morrem mais policiais do que em qualquer outro país. Isso numa cultura de segurança que mata mais cidadãos que todas as polícias da Europa somadas. Alckmin sabe que o eixo da discussão é esse. Seu secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu, a quem chamou de "servidor público número um", também sabe. A patuléia não está aí para ser ludibriada com números europeus em conserva.

O candidato do PSDB recitou o "0,13" antes de embarcar para Bruxelas e Lisboa. Na volta, poderá dizer se notou outra semelhança entre a segurança européia e a de São Paulo.

Alckmin deve uma caridade às platéias.Enquanto houver policiais espingardeados nas ruas de São Paulo, ao tratar de segurança, poderia atender ao pedido do Bussunda:"Fala sério".

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