Luciano Siqueira Ao intervir no encontro do presidente Lula com intelectuais, técnicos, artistas e personalidades nordestinas, domingo último, em Olinda, o deputado Aldo Rebelo chamou a atenção para o que denominou “paradoxo”. Segundo ele, os nordestinos têm uma aguda consciência regional, entretanto abordam os problemas regionais a partir de uma visão de nação, destituída de qualquer sentido separatista ou algo semelhante. De fato, pelo menos naquela reunião, de Ariano Suassuna a Fred 04, do governador piauiense Wellington Dias à professora Tânia Bacelar, do ministro Sérgio Rezende ao presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, todos os que se pronunciaram deram às suas palavras esse sentido anotado por Aldo. O que não quer dizer, é óbvio, que essa postura seja unânime entre os nordestinos que têm voz, poder e influência. Os porta-vozes da elite dominante, com uma ou outra exceção, preservam a cantilena da Região carente de recursos, que exigem venham do governo federal para alimentar os projetos das velhas e novas oligarquias locais. Se possível, a fundo perdido. Ora, nem o Nordeste pode se comportar diante do País como “o coitadinho que precisa de ajuda”, para usar a expressão do presidente Lula, pois a sua realidade hoje é um misto de problemas e de potencialidades; nem cabe desconhecer a necessidade de enfrentar os desníveis da Região, junto com o Norte, em relação ao Sul-Sudeste, mediante uma política nacional de desenvolvimento regional. A dimensão regional do desenvolvimento econômico e social há que ser devidamente considerada num país como o nosso, marcado por desigualdades, distorções e diferenciações regionais e intra-regionais. A proposta de refundação da Sudene, que Lula espera tramita a bom terno no Congresso, está assentada nessa concepção. E teria que ser assim, uma vez que desde meados dos anos setenta se completou a integração de todas as regiões à economia do país, inclusive na esfera financeira, conforme estudos de Leonardo Guimarães e outros. O que há é uma única economia, que comporta e convive com desigualdades e diferenciações. Isto posto, ganha relevo a necessidade de um poder central forte, apoiado numa vontade política e social ampla e consistente, capaz de fazer valer o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e patrocinador de políticas específicas destinadas a corrigir desníveis e desigualdades regionais e intra-regionais. Nesse sentido, é muito o bom o paradoxo apontado por Aldo Rebelo, como expressão da postura adotada pelas forças sociais e políticas que apóiam o presidente Lula no Nordeste. * Coluna semanal no portal Vermelho (www.vermelho.org.br), publicada toda quinta-feira. |
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