07 fevereiro 2007

Aldo: "Compromisso com o governo Lula, não com o PT"


No Vermelho: Derrotado por 261 a 243 votos na disputa pela reeleição à presidência da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) oferece ao governo Lula o apoio do bloco PSB-PCdoB-PDT-PAN-PMN, para "assegurar a governabilidade". Mas acena com um presidenciável do bloco em 2010, pois "o presidente Lula não é candidato à reeleição" e "nosso compromisso é com o governo Lula, não é com o PT". Veja a ínegra da entrevista de Aldo para a Valdo Cruz e Letícia Sander, da Folha de S. Paulo.

Folha - A quem o senhor atribui a sua derrota?


Aldo Rebelo - O vitorioso teve apoio da cúpula da maioria dos partidos da base do governo. Houve também algum nível de apoio de ministros ligados ao PT e de ao menos um governador de um Estado importante, como São Paulo.


Folha - Quais encantos desfilaram pelo Congresso nessa disputa?


Aldo - A perspectiva de participação no poder, a ocupação de postos, de mandos.


Folha - O sr. identifica a atuação de qual ministro, especificamente?


Aldo - O nome do santo não é o mais importante. Importante é que se operou um milagre. Eu diria que compreendo a manifestação de apoio de alguém do PT a uma candidatura do PT. Acho que isso teve influência nas eleições. Como não há forma de indicar exatamente como ocorreu, você mede a influência disso pelo resultado concreto da batalha.


Folha - Mas o sr. considera o oferecimento de benesses, cargos e emendas normal?


Aldo - Eu acho que, se realmente houve, o método, naturalmente, é condenável.


Folha - Na campanha, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) o visitou e sondou se o sr. poderia renunciar?


Aldo - Não, na visita da ministra não houve proposta de renúncia, nem a ministra insinuou qualquer tipo de atitude que não fosse a de respeitar as duas candidaturas. No final da eleição, eu não tenho a convicção se essa atitude foi mantida.


Folha - O sr. reclamou diretamente com o Executivo de interferência?


Aldo - Eu sempre tomava atitudes preventivas e defensivas. No dia da eleição, soube que um funcionário do palácio circulava pelo Congresso, e tomei a iniciativa de telefonar ao ministro Tarso Genro e manifestar a minha preocupação com a interpretação que pudesse ser dada à presença desse funcionário aqui [tratava-se de Marcos Lima, responsável por negociações com parlamentares].


Folha - Qual a interpretação que o sr. deu à presença dele aqui?


Aldo - Eu não dei interpretação nenhuma. Mas claro que pessoas que apoiavam a minha candidatura temiam que a presença dele pudesse influenciar na posição de parlamentares.


Folha - Aliados seus disseram que Dilma teria ligado para deputados pedindo votos para Chinaglia.


Aldo - Apenas os deputados que receberam essas ligações podem falar sobre esse assunto. Não acredito que ela tenha pedido voto.


Folha - Como analisa a participação dos governadores tucanos Aécio Neves e José Serra na disputa?


Aldo - Tenho uma relação pessoal muito boa com José Serra. Acho que ele teve suas razões, não diria pessoais, mas políticas, para ajudar a vitória de Arlindo Chinaglia. Respeito essas razões, mas só o governador poderá explicá-las. Quanto a Aécio, sei que alguns deputados da bancada de Minas votaram na minha candidatura, e creio que Aécio teve um papel nessa opção.


Folha - Como fica sua relação com o governo daqui para a frente?


Aldo - Minha relação é a do bloco parlamentar que apóia o governo. O que marca a nossa relação é uma maior independência de projetos e de atitudes em relação ao PT.

Folha - O sr. se sentiu abandonado pelo presidente?


Aldo - Não, porque, ao menos, o presidente manifestou publicamente a sua atitude de respeito às duas candidaturas.


Folha - Se ele o convidar para algum ministério, qual será o comportamento do senhor?


Aldo - Eu creio que não é conveniente discutir iniciativas que são próprias da esfera do presidente. Dizer que aceitaria pareceria a busca de uma compensação pela perda da Câmara. Dizer que não aceitaria teria o sentido de uma grosseria, algum tipo de ressentimento. Essas coisas também nunca são decisões pessoais. Eu integro um partido, um bloco de parlamentares que dispõe de quadros experientes.


Folha - Qual é o projeto do bloco?


Aldo - É integrar a base do governo, apoiar, procurando aperfeiçoar metas como a do crescimento econômico, dos direitos sociais do povo, e trabalhar para as batalhas políticas que se avizinham.


Folha - É um grupo que tem a disposição de participar da eleição de 2010 com candidato próprio?


Aldo - Claro. O presidente Lula não é candidato à reeleição. O nosso compromisso é com o governo Lula, não é com o PT.

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