Nossa coluna semanal no portal Vermelho, publicada toda quinta-feira. Eis o texto de hoje:
Nesta quinta-feira o presidente Lula deve conversar novamente com dirigentes do PCdoB e do PSB acerca do novo ministério. Às vésperas do carnaval, ouviu o PDT. E amanhã, sexta, deve dialogar novamente com o PT. Estes seriam, segundo o noticiário, os últimos lances de uma costura política destinada a concretizar o governo de coalizão.
PCdoB, PSB e PDT, como se sabe, juntamente com PAN e PHS, constituem um bloco parlamentar à esquerda que procura se diferenciar do PT reagindo ao viés “hegemonista” do partido do presidente e buscando um relativo equilíbrio de forças na composição governista. Qual a leitura que o próprio Lula faz desse movimento ninguém sabe. Talvez se venha a saber quando ele apresentar o novo ministério.
Gato escaldado tem medo de água fria, a gente escuta isso desde criança. E observa frequentemente na política, quando o “gato” é suficientemente maduro e experimentado para evitar cair em esparrela pela segunda vez.
Uma esparrela em que o presidente Lula se deixou enrolar foi justamente a montagem da estrutura de governo do primeiro mandato. Excessivamente petista, de cabo a rabo. Dos ministérios e empresas estatais aos cargos federais situados nos estados. Poder em demasia para um só partido num governo de frente nunca dá bom resultado. Mais ainda quando o partido em tela não tinha experiência acumulada no metier e quis transportar certas práticas sindicais equivocadas para o governo da República.
Amargou, o presidente, todo um cortejo de distorções e de expedientes “aloprados” que além de prejudicar a sua gestão, quase o faz perder o pleito de outubro.
Agora, entretanto, as circunstâncias são outras. Nem o PT pode contar mais com um alinhamento quase automático por parte do PCdoB e do PSB, nem pode dobrar facilmente o PMDB, agremiação centrista de larga experiência no poder. Terá que compartilhar o governo, sim, com estes e mais o PP, o PR e o PDT, pelo menos.
Nisso, o presidente inevitavelmente contrariará o seu próprio partido, que bem gostaria de repetir o desenho do governo anterior, concentrando em si mesmo as responsabilidades ditas estratégicas, e de quebra impondo limites ao bloco de esquerda. Tal como agiu o presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP), da Câmara dos Deputados, que ao distribuir cargos da comissão especial encarregada de examinar as matérias relacionadas com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), privilegiou o próprio PT e o PMDB, tentou atrair os bons préstimos do PFL e do PSDB e escanteou os três principais partidos do bloco de esquerda, PCdoB, PSB e PDT.
A sorte do bloco de esquerda, e do Brasil, é que Lula não é Chinaglia. Pelo menos é o que se espera.
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