18 março 2007

DESTAQUE DO DIA

Medo e descrença

“Não podemos assistir a tudo de olhos secos e braços cruzados. A população não pode ficar inerte e indiferente”, afirmou ontem, diante das câmeras de TV, Antônio Carlos Costa, coordenador do Rio pela Paz, que organizou o protesto contra a violência, ontem, no Rio e Janeiro, fincando 700 cruzes na praia de Copacabana.

Com essas palavras, ele procurava incitar a população a reagir e ao mesmo tempo se dava conta de que a participação popular nas manifestações do gênero ainda é pequena, desproporcional à dimensão do problema.

Na verdade, há dois fatores que inibem uma maior presença nessas manifestações.

Um é o medo, especialmente em cidades ou áreas onde o banditismo adota ações audaciosamente agressivas, como o Rio de Janeiro. As pessoas temem represálias, se reconhecidas em fotos de jornais ou imagens de TV.

O outro é a descrença. A expectativa é de ações do Estado capazes de coibir o crime e de reduzir os índices de homicídios. As estatísticas revelam resultados precários, desanimadores.

Mas a questão de fundo é que a violência criminal é fruto de uma gama de fatores, uns de ordem estrutural - resultados sociais negativos do modelo de desenvolvimento concentrador da renda e da produção, por exemplo -; outros de ordem conjuntural, em geral relacionados com o modelo ou tática equivocada de enfrentar o chamado crime organizado priorizando a força bruta.

O governo federal caminha, porém a passos muito lentos, na implantação do SUSP – Sistema Único de Segurança Pública – apoiado em base conceitual inovadora, que combina prevenção com repressão; na repressão prioriza a inteligência; e procura envolver os três entes federativos e a sociedade. Os frutos, entretanto, tendem a ocorrer a médio e longo prazo e dependem do ritmo de sua implementação.

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