25 março 2007

DESTAQUE DO DIA

Corrente política sempre renovada

Que faz uma corrente de pensamento perdurar ao longo de décadas e permanecer influente, a despeito do tolhimento do direito de se expressar livremente e de restrições impostas pelo preconceito e pela repressão policial?

Provavelmente a capacidade que tem de combinar, a um só tempo, fidelidade a seus princípios fundantes e constante renovação, de acordo com as mutações da realidade concreta.

A pergunta se faz oportuna e a resposta se mostra pertinente quando se considera o 85º. aniversário da fundação do Partido Comunista do Brasil, celebrado neste domingo, dia 25.

Isto porque o fato em si é de certo modo inusitado. Esta não é a tradição brasileira, a de partidos longevos. Ao contrário, aqui os partidos sempre foram conjunturais e efêmeros, incapazes de subsistirem aos períodos de restrição à democracia.

Em pouco mais de cem anos de República, foram dezoito as intervenções militares sobre a vida política nacional, com sentido autoritário. A sociedade brasileira acumulou tradição de luta pela democracia, mas ainda é inexperiente na prática democrática – o que não contribui para a existência de partidos sólidos.

Assim, os partidos do período imperial mal se mantiveram na República Velha e pós-Revolução de 30. Os da Redemocratização, a partir de 1946, se exauriram com o golpe militar de 1964.

O Partido Comunista, diferentemente, manteve-se atuante por oito décadas e meia, embora por sessenta anos tenha sido condenado à ilegalidade e à perseguição policial.

Demais, sendo um partido de orientação marxista-leninista, poderia ter terminado com a crise teórica e ideológica desencadeada pelo fracasso das experiências socialistas na União Soviética e no Leste Europeu. Permaneceu, entretanto. Renovou-se, teórica e politicamente, combinando elaboração científica com acurado conhecimento da realidade brasileira.

Daí o velho partido fundado em 1922 comemorar seus 85 anos em pleno vigor juvenil: com feição moderna, atualizado no tempo histórico, partícipe influente da vida nacional. E detentor de um Programa Socialista que, examinado criticamente, há de ser reconhecido como brasileiro (não copia nenhum modelo de socialismo pré-existente), consentâneo com as peculiaridades do nosso país e do nosso povo; científico, pois assentado em bases marxistas; e factível, desde que criado um ambiente de avançada consciência social e amadurecimento das correntes populares e progressistas. (Artigo publicado hoje no Diário de Pernambuco).


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