Editorial do Vermelho:
É razoàvel o acordo entre o governo e os controladores de vôo, que pôs fim neste sábado (31) ao último surto de caos nos aeroportos. Já veio tarde, depois de seis meses de crise, passageiros angustiados e bate-cabeças institucional.
O bloco oposicionista-midiático, recomposto no episódio, reclama da solução como reclamava do problema. Antes, batia o bumbo para vituperar o ''apagão'' aéreo – metáfora forçada para recordar o apagão energético do governo Fernando Henrique. Agora, traz de volta o espectro dos ''sargentos'', como se o país estivesse às vésperas de 1964.
Bem que eles gostariam. Mas, para a felicidade da democracia brasileira, a principal diferença entre a oposição de direita hoje, contra Lula, e a da UDN pré-1964, contra João Goulart, é que atualmente os quartéis não se prestam a fazer o seu jogo golpista.
A oficialidade da Força Aérea não gostou da solução, que implica em desmilitarizar o controle do tráfego aéreo. Mas, apesar da histeria midiática, soube manter a cabeça fria.
Algumas de ponderações da oficialidade são procedentes. Merecem exame na reengenharia do setor, que tem no acordo de sábado apenas o primeiro passo.
Há quem enxergue uma reengenharia que conduza à privatização dos nacos potencialmente lucrativos do controle do tráfego aéreo. Vade retro! Mas a desmilitarização, mantendo o setor no âmbito do Ministério da Defesa, não tem em si sentido privatizante. Não em um governo comprometido com a coisa pública. E compete a outra esfera, a do voto e da soberania populares, cortar o caminho para as tentativas de retorno dos privateiros.
Superada a emergência, é hora de atentar para as causas de fundo do problema.
A aviação é desde o século passado o segmento do transporte que mais cresce. No ano passado foram 46,3 milhões de passageiros desembarcados nos vôos domésticos, 7,4% a mais que os 43 milhões de 2005. Esta proeminência veio para ficar, em um país com as dimensões do Brasil, sem que isto exclua alternativas como a ferroviária. O sistema não estava preparado para essa expansão, como ficou tragicamente evidenciado desde o acidente de 29 de setembro. Precisará agora dar conta da que já houve e da que está por vir.
Uma boa parte das aflições e desconfortos da crise recai sobre as empresas aéreas. Mergulhadas numa concorrência canibalesca que teve na Varig sua última vítima, estas se mostraram despreparadas para uma situação de emergência. Isto quando não aproveitaram a barafunda para abusar da prática do overbooking. Cabe ao poder público, ao reestruturar o setor, cuidar para que tenham fim os abusos contra os passageiros, que vêm de bem antes da crise estourar.
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