Unidade e luta na coalizão
O sentido do governo de coalizão é claro: quanto maior a empreitada, mais ampla há de ser a conjugação de forças reunida em torno do objetivo comum. A empreitada do governo Lula - a transição do modelo de desenvolvimento herdado, dependente, concentrador da riqueza e da renda e socialmente excludente, a um projeto nacional e democrático - requer descortino e muita força. Assim, é um passo gigantesco a unificação de onze legendas partidárias em apoio ao governo Lula.
(A dimensão da conquista há que se medir duplamente: pela necessidade de um largo espectro de correntes políticas e sociais apta a lutar pela superação do neoliberalismo no Brasil, enfim alcançado; e pela alteração, pelo PT e especialmente pelo próprio presidente Lula, de uma concepção de frente estreita e sectária predominante entre ambos por longo tempo).
Porém, uma vez alargada a frente governista, impõe-se também a afirmação da base programática do governo, apresentada no pleito de outubro.
Quanto a isso, dois registros devem ser feitos.
Primeiro, o alcance limitado de hipotéticos resultados a esperar das conversas que Lula vem mantendo com próceres oposicionistas. Nada além de uma convivência civilizada na qual a oposição possa adotar uma atitude menos rasteira em suas investidas contra o governo. Mais do que isso seria imaginar a construção de uma vontade nacional una – própria de situações de guerra ou de calamidades naturais de grande envergadura, nas quais o Brasil de hoje não se enquadra.
O segundo registro: a importância da reunião ocorrida ontem, em Brasília, entre os presidentes dos partidos que formam o Bloco de Esquerda (PCdoB, PSB, PDT, PMN, PAN, PRB, PHS). Nela se abordou o propósito comum de defender uma plataforma própria (em sintonia com a proposta programática sustentada na campanha presidencial de outubro), marcando sua identidade política através das bandeiras da soberania nacional, da democracia, dos direitos sociais e da integração do subcontinente sul-americano; e uma postura a um só tempo solidariamente partícipe e altiva face o governo Lula.
O Bloco faz, assim, o contraponto necessário à manifesta tendência centrista para a qual tem evoluído o PT, desde que passou a priorizar as relações com o PMDB (mormente a ala “neo-lulista”) e a subestimar o valor das relações com os partidos à esquerda, PCdoB e PSB sobretudo.
A reunião de ontem pode, inclusive, concorrer para que se confirme a indicação constante na resolução da direção nacional do PT, ocorrida no último fim de semana, no sentido da “recomposição do campo democrático-popular, estabelecendo um diálogo permanente principalmente com o PSB e com o PCdoB”.
Combinar dialeticamente unidade e luta no seio da coalizão, assim, só tem a contribuir para o avanço do governo.
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