A hora e a vez do sindicalismo classista
Um difícil e complexo aprendizado, para ambos, governo e movimento sindical, durante o primeiro mandato do presidente Lula e o início do segundo. É a tal coisa: de repente, por obra do voto popular, muitos dos que se encontravam nas ruas passaram a cumprir nova missão do outro lado do balcão, em instâncias do governo central. Uma situação inteiramente nova, que mexe com as pessoas. E com as correntes políticas a que pertencem.
Demais, a agenda inicialmente adotada pelo governo gerou inquietações mais do que procedentes entre seus apoiadores no chão das fábricas, nas áreas rurais, nas repartições públicas e assim por diante. Um misto de política macroeconômica ortodoxa com reformas previdenciária e trabalhista restritivas de direitos. Tanto que em alguns momentos o movimento sindical bradou nas praças e nas avenidas como se novas forças políticas, democráticas e progressistas, não houvessem substituído FHC e seu séqüito neoliberal.
De outro modo, em determinados momentos, alguns grupos pareciam arrefecer seu ímpeto combativo, transitando para uma espécie de apoio incondicional ao governo.
É provável que a demarcação de campos entre Lula e Alckmin, no segundo turno do pleito de outubro, quando o joio pôde se separar do trigo com certa nitidez, tenha ajudado a clarear os campos e os papéis – tanto na esfera do governo, como entre os sindicatos. E agora, no início do segundo governo, com o PAC e o PDE, enfeixados sob a consigna "desenvolvimento econômico com distribuição de renda, valorização do trabalho e defesa do meio ambiente", ambas as partes se sentiram à vontade para erguer as mesmas bandeiras e afirmar compromissos numa mesma direção, nos atos comemorativos do 1º de Maio.
Mas aí é que entra um elemento da maior importância tática e de valor estratégico inestimável: o sindicalismo de caráter classista, presente na cena política nacional, aguerrido na defesa dos interesses específicos dos trabalhadores, altivo e independente.
Isto porque a conjugação de intenções jamais poderá significar adesão e conseqüente perda da independência e da autonomia do movimento.
A História, aqui e em outras terras, é rica de exemplos de entrelaçamento promíscuo entre Estado e partido político e Estado e organizações sindicais e populares, resultando em fracasso – como na ex-União Soviética, levada ao retrocesso do maior progresso da vida material e espiritual até então alcançado por um povo no marco de apenas quatro décadas de socialismo.
O governo Lula, que nada tem de socialista - embora da coalizão que o sustenta façam parte partidos que lutam pelo socialismo -, e que busca instaurar um modelo de desenvolvimento nacional e democrático, não pode prescindir da legítima e salutar pressão de movimentos sociais, o sindical sobretudo, que tomem partido acerca das grandes questões nacionais e apóie o governo quando necessário, mas conserve sua capacidade de ação independente.
Para que avance, corrigindo equívocos e aprofundando acertos, em favor dos trabalhadores e do povo.
O movimento sindical deve apoiar o governo quando ele estiver certo e criticar quando estiver errado, nada de virar cordeirinho domado ou coisa parecida. Sua opinião é válida e devia ser escutada por muito sindicalista despolitizado que anda fazendo bobagem por aí.
ResponderExcluirGlauce