22 maio 2007

Stefan Zweig e o Brasil dos nossos dias

Momentos singulares
No Vermelho, por Eduardo Bomfim

Abstraindo o cotidiano das nossas vidas diárias, ao pensar nas mazelas que recaem sobre nós e nos revoltam, mas olhando o Brasil sob um ângulo maior, econômico e geopolítico, podemos concluir que Stefan Zweig, grande escritor austríaco que se exilou em nosso país fugindo das hordas nazistas, possuía inteira razão.

É da sua autoria a frase incorporada ao cotidiano nacional: Brasil, um país do futuro. Apesar das desgraças de um mundo conturbado pela Segunda Guerra Mundial, Zweig, pensador e observador arguto, percebeu as grandes potencialidades desta nação, apesar das distorções, impunidades e injustiças que sempre grassaram abundantemente em nosso país.

Observou o Brasil entre os anos trinta e quarenta, quando acometido pelo pavor incontrolável da possibilidade da vitória de Hitler em escala mundial, incluindo a América do Sul, suicidou-se juntamente com sua mulher, na cidade de Petrópolis em 1942. A frase, no entanto, permaneceu, tornou-se maior que o autor. Utilizada como referência positiva ou jocosa, ela continua sendo ouvida até hoje.

O que teria olhado, sentido, apurado em suas observações, Stefan Zweig para chegar à constatação sobre o itinerário da nação em um período onde éramos bem mais atrasados, desindustrializados? Creio que o olhar antropológico, potencialidades geográficas, dádivas naturais, em uma nação continental. O autor de “Momentos singulares da História” não se detinha no imediato, observava longe, navegava com as suas análises em águas profundas.

Detinha a capacidade de perceber as circunstâncias históricas que provocavam o que os filósofos da arte militar chamam de desequilíbrio estratégico, os grandes momentos que alteram o curso da História, quando corretamente aproveitados.

Ou a derrota penosa quando os povos, seus estadistas, deixam escapar pelas mãos o futuro, na ausência de uma estratégia que provoque um salto real no destino da nação.
Zweig, um olhar estrangeiro, vislumbrou o que Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Ignácio Rangel, Furtado, Sérgio Buarque, Josué de Castro, Anísio Teixeira, e outros, formularam para o Brasil.

Os horizontes, a singularidade do povo, mas também a visão colonizada de certas elites dominantes. Hoje vivemos em uma gangorra. Um momento possível de mudança incomum mas poderosas forças atrasadas buscam impedir o surgimento desse novo período. Esta, creio, é a luta da atualidade.

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