10 junho 2007

Estadão contra política externa soberana

No Vermelho:
Paulo Henrique Amorim denuncia a chanceler do "Estadão"
"O Estadão, invariavelmente, combateu a política externa brasileira, sempre que ela pretendeu ser independente", lembra o jornalista Paulo Henrique Amorim no site Conversa Afiada. Leia o texto, que chama Denise Crispim Marin de chanceler "na sombra" de O Estado de S. Paulo.
Chanceler do Estadão tem sua política externa
Por Paulo Henrique Amorim
. Como sabem os moradores de São Paulo, aqueles obrigados a ler o Estadão, o Estadão tem um chanceler, um Ministro das Relações Exteriores que conduz uma política externa própria e independente.
. É Denise Crispim Marin, a chanceler "na sombra".
. Por exemplo, ela prefere a política externa subserviente do Farol de Alexandria, aquela que se debruçava em obediência aos Estados Unidos, por causa da subordinação do Brasil, àquela época, ao Consenso de Washington.
. Crispim Marin, por exemplo, gosta de relações Norte-Norte, entre ricos e brancos.
. Tem certa dificuldade de aceitar que a política externa brasileira tenha retomado a tradição de independência que teve nos governos Vargas, JK, Quadros, Goulart, Geisel e expresse a ambição legítima de o Brasil ser tratado como é: uma potencia em consolidação.
. E o Estadão, invariavelmente, combateu a política externa brasileira, sempre que ela pretendeu ser independente.
. Crispim Marin considera que o Presidente Lula se irritou, porque não conseguiu impor suas idéias ao G-8, na reunião de cúpula da Alemanha.
. Nem o presidente Lula nem ninguém: nem a chanceler da Alemanha, nem o primeiro ministro Toni Blair, ou o presidente Putin - ninguém conseguiu dobrar os americanos.
. E muito menos fixar objetivos claros, com data marcada, para uma política contra o aquecimento global.
. A reunião do G-8 não decidiu nada - e era isso o que Bush queria.
. Agora, o Presidente Lula botou o pé na porta, vendeu o etanol, e disse que não gosta nada dessa história de chegar para o último dia da reunião.
. Ele quer, sim, senhor, fixar metas claras para uma política contra o aquecimento global.
. Até porque o Brasil, campeão de etanol e biodiesel, é um vencedor nessa batalha.
. O Presidente Lula e os outros presidentes do G-5 - China, Índia, México e África do Sul, quatro outros "paisecos" - não brancos - como diria a Chanceler do Estadão, os presidentes do G-5 - e não só o Presidente Lula - querem jogar na liga dos grandes e desde o primeiro turno.
. É tão certo que dois e dois são quatro quanto o G-5 vir a entrar no G-8.
. Sabe por que Crispim Marin?
. Não é porque o Presidente Lula seja o máximo.
. É porque o Brasil é muito maior do que o Estadão pensa.
*
Leia abaixo a matéria enviesada do Estadão

Diálogo entre ricos e emergentes fracassa; Lula se irrita
Lula ficou visivelmente contrariado com o fato de o G-8 ter ignorado as posições dos emergentes convidados e cravado compromisso sobre temas delicados

Por Denise Chrispim Marin e Jamil Chade

A proposta de diálogo aberto e franco entre o grupo dos países mais influentes no cenário internacional, o G-8, e as cinco principais economias emergentes - África do Sul, Brasil, China, Índia e México - converteu-se em engodo no balneário alemão de Heiligendamm, onde os grupos encontraram-se nesta sexta-feira, 7. Dessa reunião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu visivelmente contrariado com o fato de o G-8 ter ignorado as posições dos emergentes convidados e cravado compromisso sobre temas delicados ao mundo em desenvolvimento - a liberação dos investimentos diretos, a reabertura das discussões sobre a quebra de patentes em casos de emergência de saúde pública e o compromisso de redução de emissão de gases poluentes.

O presidente anunciou, em entrevista à imprensa, que propôs para o próximo encontro, que se dará no Japão, em 2008, o "cuidado" de adotar uma nova metodologia. A fórmula sugerida por Lula é tão simples quanto óbvia: promover a discussão entre o G-8 e os cinco emergentes antes do encontro reservado apenas aos oito grandes, para que possam refletir e analisar as posições de seus convidados.

"Eu fiz questão de dizer (durante a reunião) que não tinha havido essas discussões e que, portanto, tinha coisas no documento do G-8 com as quais nós não poderíamos concordar", relatou o presidente. "Eu propus que o G-5 (os cinco emergentes) e outros países fossem convidados se reúnam antes com o G-8, que disséssemos o que pensamos antes. Para que, quando eles forem fazer a reunião (reservada) do G-8, levem em conta a existência das nossas propostas."

Mais enfático, Lula declarou que o documento do G-8 "levou muito em conta" a proposta do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sobre a questão da mudança de clima - sem metas específicas e fora do sistema das Nações Unidas. Ainda teve um "agravante" - a decisão de ignorar a posição do G-5 sobre o assunto, que é totalmente oposta e que leva em consideração a responsabilidade maior das grandes economias na emissão de gases que provocam o efeito-estufa.

"Houve uma reunião, em Berlim, na qual não foram discutidas as questões que estão no documento do G-8. (O texto) passa essa idéia que houve uma discussão e que houve concordância", assinalou o presidente. "Fiz questão de começar a reunião dizendo que não tinha havido esta discussão e que tinha coisas no documento do G-8 com as quais não poderíamos concordar (com o texto)."

Lula deixou claro que o G-5 não aceitará que limites sejam impostos a suas economias, exatamente no momento em que começam a crescer. "Aceitamos que esses países (emergentes) terão responsabilidades diferenciadas", disse. Mas segundo ela, até 2012, quando vence parte do Protocolo de Kyoto, os países industrializados do G-8 representarão apenas 30% das emissões mundiais. "As emissões dos países emergentes serão significativas. Não podemos sozinhos combater o aquecimento global e deixar os demais países em um caminho doce", afirmou.

Irritação com documento
A irritação girou em torno das divergências entre o documento "Crescimento e Responsabilidade na Economia Mundial", redigido pelo G-8 em Heiligendamm, e o comunicado final do encontro do G-5, também concluído e divulgado na quinta-feira, 7, em Berlim. O texto do G-8 defende acirradamente a liberalização do ingresso de capitais produtivos, sobretudo nas economias em desenvolvimento, e a revisão de regras e mecanismos de maior controle sobre as patentes industriais e o combate à pirataria.

Tratam-se de temas caros para os países emergentes, sobretudo ao Brasil. O abrandamento de suas posições sobre essas temas significaria, do ponto de vista do Itamaraty, a diminuição da capacidade de o Estado adotar políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento econômico.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o fato curioso desse constrangimento foi de que a Alemanha assinou ambos os documentos - do G-8 e do G-5. Conforme explicou, a chanceler alemã, Ângela Merkel, explicara que o texto do G-8 era preliminar e seu conteúdo seria concluído apenas em 2008, na Cúpula do Japão. Ou seja, não haveria nenhum compromisso definitivo dos países do G-8 - versão que causa estranheza.

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