Sucessão de João Paulo observada de longe
Compreender com exatidão a realidade na qual se está inserido exige razoável capacidade de abstração. Vale para todas as situações – como na cena política, que mesmo quando aparenta clareza e calmaria, apenas esconde uma complexidade intrínseca e inevitável, fruto do natural entrechoque de interesses e intenções.
Quando estamos por algum tempo fisicamente distantes, tudo ajuda no esforço de abstração e de análise. Como agora em que estamos na China – “o outro lado do mundo” – e, terminada a missão empresarial organizada pela FECOMERCIO, que acompanhamos em Beijin, Shanghai e Ningbo, partimos para Guanghzou, onde por dois dias cumpriremos intensa agenda junto ao governo local e a instituições diversas, com o fito de consolidar o processo de irmanamento daquela cidade com o Recife.
Embora com a atenção voltada para as coisas daqui, acompanhamos o que se passa no Brasil e em Pernambuco. E é como se observássemos tudo do alto, identificando lá embaixo com razoável nitidez o jogo de forças que vai tomando corpo, por exemplo, em função das eleições municipais de 2008.
O caso do Recife, então, é emblemático. Há dois campos distintos e em posturas diametralmente opostas. De um lado, as forças que apóiam os governos Lula, Eduardo Campos e João Paulo, que pretendem consolidar posições; do outro, os perdedores dos pleitos de 2004 e 2006 – PMDB, DEM (ex-PFL) e PSDB – que desejam a todo custo recuperar o terreno perdido. O mais simples, pela menos na aparência, seria a disputa acontecer entre duas candidaturas representativas dos dois campos litigantes.
Mas, na política, nem sempre a aparência corresponde à essência. Duas candidaturas apenas seria simplificar em demasia, excluindo-se interesses dispares no interior dos dois campos opostos e também nuances táticas próprias de uma disputa dessa magnitude.
Ora, nada impede que DEM (ex-PFL), PMDB e PSDB apresentem candidaturas próprias; assim como do outro lado PT, PCdoB, PSB, PDT, PMN, PR e PTB, embora convergentes nos objetivos gerais, resolvam ir à pugna com mais de uma candidatura. Isto porque o pleito se dará em dois turnos, o que possibilita manobras táticas diversas, tendo em conta a necessidade de se explorar todas as potencialidades de lideranças e partidos em seus nichos próprios, ajuntando assim forças suficientes para, no turno seguinte, promoverem as aglutinações necessárias ao desenlace da disputa.
Esta seria, hoje, embora não pareça, a principal hipótese. Demais, como diria o amigo alagoano tido pelos mais íntimos como o Sábio da Jatiúca, “se tudo pode acontecer, é provável que muita coisa aconteça”.
Vejamos o evolver da situação até as convenções partidárias em junho do ano vindouro.
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