08 julho 2007

DESTAQUE DE DOMINGO

O destaque deste domingo é essa nossa crônica publicada no Vermelho em 15.04.2004 e incluída na coletânea “O Vermelho é Verde-Amarelo – 65 crônicas políticas”, Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2005.
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A militância nossa de cada época

Outro dia, como ocorre com certa freqüência, um grupo de estudantes entrevistou demoradamente o vice-prefeito do Recife acerca do período do regime militar. Perguntas várias, curiosidade comovente, misto de surpresa diante da descoberta de fatos dramáticos da vida brasileira (dos quais sequer suspeitavam — haviam lido alguma coisa, adiantam, mas não tinham ainda conversado com ninguém que os tivesse vivido diretamente) e de alumbramento, por chegarem "tão perto" (no dizer de um deles), através do nosso relato, de coisas "quentes" de nossa História recente.

(O bom dessas entrevistas com jovens estudantes é isso: o despertar para o conhecimento da história real e a descoberta do povo como protagonista dessa história).

Mas eis que, ao término da conversa, uma jovem do rosto sardento e jeito tímido, óculos de aros escuros, que nos chamara a atenção pelo quase mutismo e pelo olhar grave, pergunta:

- É muito mais fácil ser militante hoje do que naquele tempo, não é mesmo?

- Não. Hoje, sob certos aspectos, é até mais difícil.

Diante do ar surpreendido dela e dos seus colegas, esclarecemos:

É certo, sim, que a militância partidária, especialmente no Partido Comunista, naquela época, era muito difícil. Atuávamos clandestinamente, sujeitos a privações e a riscos, com a cabeça colocada a prêmio. A qualquer momento podíamos ser presos e torturados, como de fato fomos; ou a ter a vida sacrificados, como muitos companheiros tiveram, assassinados sob tortura ou em embate aberto com as forças da repressão policial.

Porém, como a militância é uma opção consciente, uma atitude subjetiva — era relativamente simples justificá-la: o regime de exceção, o povo sufocado, vilipendiado e submetido a um modelo de desenvolvimento excludente. Lutar era, assim, um imperativo de consciência.

Hoje já não temos nossas cabeças colocadas a prêmio. Não corremos o risco de agravos à integridade física. Mas, do ponto de vista subjetivo, a militância implica em encontrar respostas para uma gama enorme de problemas teóricos e políticos — da perspectiva socialista aos intricados assuntos relacionados com a situação política atual, o governo Lula, a transição do atual modelo ao projeto nacional-desenvolvimentista e assim por diante.

Antes sofríamos a pressão dos tanques e das baionetas, hoje, o torpedeamento da mídia, a complexidade do debate de idéias.

Nesse sentido, a militância comunista será sempre um desafio instigante. E também uma fonte de felicidade pessoal, quaisquer que sejam as circunstâncias — a qualquer época.

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