05 agosto 2007

Lixo irremovível


Na Revista da Folha, por Gustavo Fioratti :
Entulho eterno
Depósitos de organizações públicas e privadas empilham móveis e equipamentos velhos que não podem nem ser usados nem jogados fora
. Objetos que pertencem ao patrimônio de empresas, órgãos públicos ou qualquer outro gênero de organização civil são em geral catalogados, numerados e passam a existir também em papéis e arquivos informatizados. Uma vez atingido o fim de sua vida útil, tudo aquilo que no mundo real pode ser jogado fora deve ir para a lixeira também no mundo virtual. Se não for assim, toda essa tralha inutilizada não pode ser descartada. Particularidades do mundo moderno, dos labirintos kafkanianos que a civilização ainda não conseguiu suprimir. Alguns dos casos mais extremos estão relacionados às unidades das administrações públicas, onde quase nada pode ser jogado fora.
. Um funcionário de uma repartição que quiser se desfazer de uma cadeira quebrada, por exemplo, tem de seguir um protocolo. Essa cadeira tem um cadastro na Secretaria de Finanças, um número gravado em uma placa e, se alguém simplesmente a joga no lixo, além de esbarrar em leis de crime ambiental, vai condenar seu similar virtual a vagar por anos no limbo da burocracia. Ou seja, a cadeira, para todos os efeitos, continuará existindo. E alguém um dia ainda poderá reclamar por ela.
. Por essa razão, hospitais, escolas, centros culturais, repartições e outras instituições têm de estocar materiais sem serventia por meses -em alguns casos, por anos-, esperando um improvável novo uso para o objeto. Existem centenas de depósitos guardando materiais que não vão nem para o céu nem para o inferno: são os chamados materiais em desuso, lixo patrimonial, ou, ainda, na cartilha do governo, "materiais inservíveis".

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