O joio, o trigo e o resgate da história
Em tudo na vida é necessário colocar as coisas nos seus devidos lugares, até porque, como se aprende no diálogo do Pequeno Príncipe com a Raposa (na obra de Saint-Exupèry), “a linguagem é uma fonte de mal-entendidos”. Daí se separar o joio do trigo para melhor compreender o que se passa.
Surgem na mídia insinuações de que estariam se verificando insatisfações no interior das Forças Armadas a propósito do lançamento, ontem, do livro Direito à Memória e à Verdade, pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, que relata 339 casos de tortura, morte e outras atrocidades cometidas por militares durante a ditadura entre 1964-1985.
A inquietação na caserna (e entre oficiais da reserva) repousaria numa suposta importunidade de se trazer à luz, sob a chancela do Estado e com o aval explícito do presidente da República, fatos que incriminam chefes militares e subordinados. E há quem indague: restabelecido o Estado de Direito, as instituições democráticas em funcionamento e os militares eqüidistantes da cena política, por que mexer em assunto tão delicado?
Há que se responder que numa fase como a atual em que o país se repensa e procura se reencontrar com o seu verdadeiro rumo, resgatar a História é imprescindível à formação de uma consciência social avançada e à consolidação da democracia. Demais, não são as Forças Armadas como instituição que são responsabilizadas; são os que as desviaram do seu papel constitucional e cometeram tão hediondos crimes.
A geração atual de chefes militares não pode nem deve se sentir atingida com as revelações constantes no livro. Até porque, como assinala o Vermelho em editorial, seu pensamento estratégico, suas preocupações e desafios, até sua origem e laços sociais são outros; seus compromissos, hoje, estão centrados na defesa da soberania do país.
As Forças Armadas têm um papel constitucional insubstituível, o de responsáveis pela manutenção da defesa e da integridade da Nação. Esse papel estratégico e a necessidade de fortalecê-las são reconhecidos e enfatizados pelos democratas conseqüentes. O PCdoB, por exemplo, provavelmente o partido político mais atingido pela ditadura militar, tem defendido desde a Constituinte a necessidade de prover o Exército, a Marinha e a Aeronáutica de condições financeiras, equipamentos e armamentos modernos e de efetivos suficientes para resguardar a integridade do nosso imenso território.
Nenhum comentário:
Postar um comentário