22 agosto 2007

Nosso artigo de toda quarta-feira no Blog de Jamildo (ex-Blog do JC)

No Blog de Jamildo:
Espirro em Nova York, risco de pneumonia no Brasil?
Por Luciano Siqueira
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Logo no começo da manhã de segunda-feira, somos abordados por um cidadão aflito em face da crise do mercado imobiliário dos EUA (e que repercute nas bolsas de valores do mundo inteiro). "É verdade que os pequenos poupadores serão atingidos aqui no Brasil?", pergunta com a ansiedade de quem espera uma resposta que o tranqüilize.
Com a necessária ressalva de que não somos especialistas no assunto, apenas prestamos atenção ao que escrevem e falam analistas de diversas tendências, temos cá nossa opinião - que não é nada tranqüilizadora. No mínimo reforça as apreensões de todos os que, pequenos investidores ou não, acompanham o evolver dos acontecimentos.

Primeiro, vale anotar que os fundos de renda fixa, que têm como clientes justamente pequenos investidores como o amigo aflito, sofreram perdas em suas cotas no dia 16, ocasião em que o índice Bovespa despencou 9% ao longo do dia, com a queda do valor dos títulos prefixados e dos papéis indexados à inflação.

Porém o mais importante é saber qual a dimensão dos efeitos da crise americana sobre a economia do Brasil. Ou seja, se vale, nesse caso, o velho adágio "quando a Bolsa de Nova York espirra, o Brasil pega uma pneumonia". Claro que o que acontece hoje nos EUA não é um mero "espirro", é algo mais grave - que espalha conseqüências pelo mundo afora. Mas é também evidente que já não estamos tão vulneráveis quanto até bem pouco tempo atrás.

Há uma significativa melhora, a julgar por alguns indicadores. Estima-se que o PIB possa crescer este ano além de 5%. Os investimentos estrangeiros diretos (IED) devem chegar a US$ 27 bilhões. A balança comercial provavelmente apresente superávit acima de US$ 40 bilhões. Com aproximadamente US$ 160 bilhões de reservas internacionais, já não dependemos tanto do crédito externo.

Entretanto, o vento internacional que soprava a favor deixa de existir, tanto mais quanto se reduz a liquidez geral, que era muito grande, e cresce a ameaça de recessão nos EUA.

Mas nossa economia é afetada, sim. Em que dimensão, ainda não se pode ter certeza. Já se verifica uma queda nos preços de importantes commodities, como os metais. E se prevêem outras conseqüências imediatas e de médio prazo.

As intervenções do Banco Central no mercado para conter a alta do dólar se fazem em prejuízo da capacidade de investimento público. O governo teme também uma desvalorização forte do real, com impacto sobre a inflação e as taxas de juros, cuja queda pode ser interrompida. E a chamada equipe econômica já acena com a necessidade de mais rigor no controle do crescimento da folha de salários dos servidores públicos e urgência no aumento da idade para aposentadoria.

São sinais de que o Brasil não está imune. Além disso, nunca é demais acentuar que o nosso país - ao contrário de muitos outros - carece de mecanismos de controle do fluxo de capitais - o que permite uma fuga de capitais especulativos.

Logo, podemos contrair mesmo uma pneumonia - tomara que seja só isso - por contágio de uma grave doença do capitalismo global que tem suas raízes na hipertrofia e no parasitismo do sistema financeiro em prejuízo da esfera produtiva.
*Vice-prefeito do Recife, escreve às quartas aqui no Blog.

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