Para que o Brasil deixe de ser cassino
A crise financeira dos EUA causada pelo rompimento da bolha que é o mercado especulativo imobiliário norte-americano ainda não acabou. Persistem a inadimplência dos chamados créditos de risco e o excesso de endividamento de empresas e consumidores norte-americanos. E talvez nem acabe – ou, melhor dizendo, acabe em mais confusão, seja controlada à custa de muitos prejuízos dos integrantes mais fracos da cadeia econômica mundial. A corda pode arrebentar contra os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Como já aconteceu em outras oportunidades.
Quer um exemplo? A diminuição da oferta de crédito, com conseqüências nocivas sobre a produção e também sobre o preço dos ativos. Os preços das principais commodities cá entre nós já sofrem a rebordosa. E tem mais: se o dólar se fixar num patamar, digamos, de R$ 2,5 e vier uma pressão inflacionária forte, o Banco Central recorrerá à elevação da taxa de juros ou, no mínimo, a uma interrupção na trajetória atual de queda e conseqüente diminuição do ritmo da retomada do crescimento econômico.
O Jornal do Commercio de hoje, aliás, já noticia que dados do Banco Central indicam que nos 15 primeiros dias de agosto, as taxas deixaram de cair, quebrando trajetória registrada desde fevereiro. A média praticada na quinzena foi de 35,9% ao ano, repetindo a de julho. E que na quinzena, a média dos empréstimos para empresas teve juro de 23% e para pessoas físicas, 47%. Os dois números são iguais aos praticados em julho.
Mas as conseqüências sobre o nosso país podem ser mais sérias ainda. Veja a questão do fluxo de capitais chamados voláteis. Investidores do mundo inteiro, atraídos pelas condições de rentabilidade aqui oferecidas, drenam parte importante de suas aplicações para o Brasil. Esse atrativo pode deixar de existir, ou não ser mais suficiente para manter aqui grandes volumes dessas aplicações. Nesse caso, os que aqui investem podem redirecionar seus investimentos para outros lugares, momentaneamente mais vantajosos, promovendo a tão temida fuga de capitais.
Sabe qual o mecanismo de que o governo dispõe para evitar isso? Nenhum. Não há, no Brasil, o controle do fluxo de capitais, o que nos constrange a uma situação semelhante à de um cassino. Nisso, estamos mais atrasados do que países como Chile e os chamados tigres asiáticos, por exemplo.
Esta é uma boa hora do governo dá um jeito nisso valendo-se do clima criado com a crise norte-americana.
Mas tem um porém. Essa não é uma medida que se tome avisando com antecedência. Tem que entrar no Diário Oficial da União de madrugada. Do contrário, os especuladores migrariam para outras praças em questão de segundos.
Resta conferir se esse é o propósito do governo federal.
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