06 setembro 2007

Nossa coluna de toda quinta-feira no portal Vermelho

A classe média também quer ir ao paraíso

Visão de classe, todo governo progressista deve ter. Em dois sentidos: o de se fazer expressão dos interesses de uma classe e dos seus aliados de confiança, se puder, se a sua composição permitir; e no sentido de uma visão estratégica, das forças sociais em movimento e do jogo político envolvendo essas forças.

O governo Lula – amplo, de coalizão, plural, heterogêneo social e politicamente – se não pode assumir uma posição de classe, limitado em seu perfil de centro-esquerda, há que prestar atenção aos conflitos objetivos e às motivações das classes que conformam a sociedade brasileira. No mínimo como uma consideração de ordem tática.

Vejamos. Os mapas do pleito de outubro do ano passado indicam claramente que a base social preponderante da reeleição do presidente se localiza nas camadas mais pobres da população, cujas condições de vida têm melhorado em conseqüência de programas sociais compensatórios e, em certa medida, pela expansão das oportunidades de trabalho. Aí se situam o proletariado fabril e rural e muitas categoriais assalariadas e aqueles que simplesmente não participam do processo produtivo, ou nunca participaram – e que agora começam a ter vez.

A chamada “classe média” – parcela da população assim denominada tendo como referência nível de renda familiar e condições materiais de sobrevivência, e não exatamente o papel que cumpre na divisão do trabalho (na visao marxista) – se mostrou muito vulnerável aos ataques sofridos pelo governo (e aos erros cometidos por líderes petistas de destaque), se retraiu, não se envolveu na luta e grande parte migrou para a candidatura tucana, de oposição.

Mas teria pesado também nesse comportamento arredio uma insatisfação crescente devido ao achatamento do padrão de vida. Esta semana, o pesquisador Waldir Quadros, do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) da Unicamp, divulgou dados do estudo intitulado "Brasil: estagnação e crise", que confirmam isso.

Há, sim, uma diminuição da chamada “classe média”, considerada no estudo a população que tem renda aproximada entre R$ 1.250 e R$ 2.500 (de R$ 500 a R$ 1.250, ‘baixa classe média’, de R$ 1.250 a R$ 2.500, ‘média classe média’, acima de dez salários mínimos, ‘alta classe média’”).

Segundo Quadros, o fenômeno pode ser explicado pela estagnação econômica do país, agravada pela elevação dos índices de desemprego, que atingiu quase três décadas.

Mas vale anotar também quem esse segmento, estimado em 10% da população, tradicionalmente influente, tende a transformar insatisfação em pressão política, forçando a porta em busca de um lugar no paraíso. Precisa ser atendido, para que seja conquistado.

Eis um problema tático que o governo deve encarar através de medidas de política econômica. Do contrário, terá muitas dificuldades daqui por diante, enfrentando uma correlação de forças sociais difícil.

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