Quem sabe o que quer ouve (pacientemente) o que não quer
No mundo globalizado tal como se apresenta na atualidade, nações isoladas ou que se comportem isoladamente estão fadadas a toda sorte de desvantagens no difícil, e via de regra conflitante, relacionamento com os grandes centros capitalistas, os EUA e a União Européia em especial. Daí a busca da integração dos países do subcontinente sul-americano – uma das pedras de toque da atual política externa brasileira. Nos organismos multilaterais, fala mais alto e obtém melhores resultados nas negociações quem age em grupo.
A constituição de blocos regionais não é novidade. Um exemplo é a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), que reúne Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia, desde 1967; Brunei, a partir de 1984; Vietnã desde 1985; Mianmar e Laos a partir de 1997 e Camboja desde 1999. Nessa mesma linha formam-se blocos na África, no Oriente Médio e assim por diante.
Pois bem. Se a integração de países de uma mesma região é necessária, simples não é. Envolve interesses ora convergentes, ora discrepantes; respeito às diferenças; reconhecimento do direito à autodeterminação; sinceridade de propósitos na promoção do progresso e da paz e de benefícios mútuos.
A responsabilidade é de todos, maior ainda daquele ou daqueles que têm vocação de liderança. Caso do Brasil na América do Sul, que tem enfrentado divergências com a Argentina e mais recentemente com a Bolívia, no rumoroso afair das refinarias instaladas ali pela Petrobrás e que foram nacionalizadas pelo governo do presidente Evo Morales, num ato de soberania que o Brasil acatou.
Agora se noticia que o Brasil está negociando com o governo boliviano a retomada de investimentos da Petrobras para exploração de gás – a se confirmarem numa próxima viagem do presidente Lula a La Paz, prevista para novembro. Por enquanto a Petrobras continua explorando os campos de San Antonio e San Alberto, mas tem se eximido da fazer novos investimentos até que as relações entre os dois países – momentaneamente embaraçadas – voltem à plena normalidade.
Nesse sentido, a iniciativa atual do governo brasileiro tem uma dupla intenção – econômica, porque o gás boliviano ainda é indispensável para satisfazer nossas demandas de energia; e política, na medida em que, assim, estreitará relações com um dos parceiros do bloco sul-americano em formação.
O presidente Lula e o Itamaraty agem segundo o adágio popular: quem sabe o que quer tem que ter a paciência para ouvir o que não quer. O Brasil, nesse caso, sabe muito bem o que quer – por isso não se deixou levar pelos arroubos verbais de Morales, nem pela grita interna da oposição à direita (que queria uma ruptura com a Bolívia), manteve a linha e se prepara para obter os frutos.
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