Coluna semanal no portal Vermelho www.vermelho.org.br:
Obra de engenharia política
Luciano Siqueira
A união faz a força – diz o adágio popular, que se revela verdadeiro quando se luta por um objetivo justo. Mesmo que a união se faça entre diferentes e contraditórios entre si; ou, melhor dizendo, principalmente quando assim acontece.
A História é rica de episódios que o comprovam. A Insurreição Pernambucana (1645-1648) é um belo e emblemático exemplo: senhores de engenho, negros e índios uniram-se para expulsar o invasor holandês. Segmentos sociais distintos que ultrapassaram seus conflitos em nome do objetivo maior.
Acontece aqui e em outras terras mundo afora. A dispersão leva à derrota, a convergência é meio caminho andado para a vitória.
Porém tortuosos são os caminhos da unidade. Dispensam fórmulas e não se enquadram em nenhum esquema rígido. Dependem de muitas variáveis e, sobretudo, do quadro de forças e das circunstâncias da luta em cada momento.
Há duas situações, na atualidade, por si mesmas instigantes e reveladoras. Uma é a busca da unidade do movimento sindical brasileiro a partir da multiplicidade de centrais sindicais. O outro se encontra nas eleições municipais vindouras.
Da CGT à CUT, da Força Sindical à recém-criada CTB há um complexo percurso palmilhado pela união e pela desunião, pela sintonia de idéias e propósitos e por divergências e divisões. Até alguns anos atrás predominava a compreensão de que a unidade do movimento deveria se concretizar numa única central. Hoje, cristalizada a pluralidade de centrais (constituídas a partir de diferentes matrizes conceituais e ideológicas), torna-se inequívoca a percepção de que a unidade há de se fazer a partir dessa pluralidade e se materializar em torno de objetivos comuns, de curto e de médio prazo. É o que indica a campanha pela redução da jornada de trabalho sem diminuição do salário lançada em São Paulo, segunda-feira última, por iniciativa das centrais CUT, CTB, Força Sindical, UGT, NCST e CGTB.
Já o pleito de outubro põe em causa a unidade das onze agremiações partidárias da coalizão que apóia o governo do presidente Lula. Todos num mesmo barco em todos os municípios do país? Nem pensar. A diversidade regional e intra-regional, a peculiaridade e o desenho político das forças em presença em cada município e a débil base programática da maioria dos partidos apontam para a dispersão, mesmo que parcial. Partidos da base governista, sintonizados com o projeto nacional, estarão em palanques diferentes e opostos. Onde o pleito se dará em dois turnos, há ainda a possibilidade de uma unificação no segundo turno. Nos demais, a grande maioria, resta a maturidade de ultrapassar o episódio eleitoral sem desagregações definitivas.
Moral da história: a unidade não depende tão somente de boas intenções, é uma obra de engenharia política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário