20 abril 2008

Crônica do domingo

O correio postal e o correio eletrônico
Waldir Pedrosa Amorim

E-mail é semelhante às cartas que se recebia e se enviava antigamente aos amigos. A Internet veio resgatar a saborosa, mágica e romântica prática da correspondência entre as pessoas.
Recomendo a quem gostar de cinema, um filme com os títulos: Nunca te vi, sempre te amei, ou 84 Charing Cross Road. Durante vinte anos Helene Hanff (Anne Bancroft), uma escritora americana, se corresponde com Frank Doel (Anthony Hopkins), gerente de uma livraria londrina. São cartas de papel. O filme, que considerei maravilhoso, data de 1987.

Com o atual correio eletrônico, a facilidade das correspondências se tornou quase ao alcance do desejo. Alguns alegam a perda do encanto; eu cá comigo, comemoro a monumental evolução e preocupo-me com o modo de utilizá-la educada e humanamente.

Algumas coisas mudaram entre o comportamento de quem recebe uma carta e dedica um tempo a respondê-la. Na modalidade eletrônica tudo se dá em tempo real e imediato. Alguns programas de correio eletrônico até já inseriram a modalidade bate-papo dentro do correio. Esta é uma primeira reflexão a ser feita.

Existem cartas ou mensagens, que carecem do tempo de releitura, de fantasia, de degustação. Eu chamaria do tempo das intermitências do pensamento. Elementos pulsantes dentro de nós, abastecedores de temperos, convicções, dúvidas e sutilezas que nos ocupam nos devaneios.

Para a preservação de tal deleite humano, há que se pensar no outro, colocar-se com a significância que se possui para este, individualizá-lo, posto que não se trate de mais um correspondente de uma lista infindável. Dar-se ao prazer da escuta e o da resposta ao que foi abordado. Eu diria, não há regras, vale o limite da emoção, do carinho, do amor, do bem querer. O jogo de paciência, como nas cartas, quem faz são os envolvidos. Embora o correio eletrônico te oferte o imediato, não exija que o outro seja prisioneiro da sua compulsão ou apenas do seu capricho. Enfim, cartas e emails podem e devem ser românticos, amistosos, envolventes, construtivos denunciantes de afetos.

Contudo às vezes a facilidade do clicar e se repassar algo que te enviaram, complica a utilização do correio eletrônico de modo sensato, educado e humano. Comparo à correspondência em papel, onde de panfletos de propaganda a periódicos importantes tudo é possível lhe atingir. Aí as coisas complicam. Teu amigo, ou a pessoa a quem você envia mensagens, não pode passar a vida na frente de um computador, dedicado a ler tudo o que lhe chega. Responder nem se fala. Isto vira para ele um motivo de irritação. Lá sai o coitado a remover ou deletar, tudo o que vem reproduzido, copiado ou encaminhado por milhares de pessoas que nem você.

Algumas vezes, sequer se lembraram de escrever uma palavra delicada, de caráter pessoal e já anexaram a bendita cópia sequer lida. E isto fica evidente demais!

Resultado 1: ele deleta todas as tuas mensagens, ou as assinala como Spam, ou filtra para um local onde as apagará oportunamente de uma vez.

Resultado 2: ele bloqueia tuas mensagens. E fica furioso diante daquelas com: En: FW: Enc: FW: (o que indica que uma cadeia de indivíduos agiu igualmente a você; não pensaram, não escreveram, não comentaram, só repassaram).

Resultado 3: ainda que sua mensagem seja importante, não será mais lida. Teu amigo educadamente não te dirá nada.

Atente-se para o significado das palavras. Verifique a conseqüência das palavras, urgente e urgentíssimo, que você tão levianamente banalizou. Mesmo que te encontres à beira de um precipício e de uma catástrofe, mesmo que estejas sendo assaltad@, doente ou pedindo socorro, ninguém acreditará no teu pedido de urgência.

Os anexos são como uma encomenda, ou um documento que envias e recebes. Não gastarias dinheiro à toa com os serviços postais. Não desperdice tempo, paciência ou encha a caixa postal de outros, sem se certificar de que o conteúdo lhe provocará contentamento.

Reflita um pouco! Use melhor esta ferramenta que resolve muitos problemas, diverte, instrui, encurta caminhos e aproxima as pessoas. Mas lembra... Tua palavra para um amig@, vale mais do que milhares de citações dos melhores pensadores, escritores e poetas do universo.

Como as cartas de antigamente, certamente serão guardadas num arquivo especial.

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