Blog de Jamildo:
Nem lama nem sangue
Luciano Siqueira
Próximo das convenções partidárias, que acontecerão em junho, tornam-se mais nítidos os contornos da disputa eleitoral que se avizinha. Candidaturas se afirmam, celebram-se coligações. E vem à tona a dúvida sobre o caráter amistoso ou bélico do relacionamento entre os candidatos, o que motiva a idéia, por parte de alguns, de um “pacto de não agressão” – uma redundância, pois a convivência democrática por si mesma pressupõe o respeito às diferenças e a boa e salutar polêmica em torno de idéias.
Provavelmente a expectativa de que desaforos possam obscurecer o debate e que a lama e o sangue venham a contaminar a peleja se deve a uma avaliação errônea que prosperou em certos círculos, cá na província, desde a campanha de 1985, no Recife. Nela ocorreu uma sensacional inversão de intenções de votos que deu a vitória ao candidato Jarbas Vasconcelos e derrotou o deputado Sérgio Murilo Santa Cruz, que faltando cerca de vinte dias para o pleito liderava a disputa.
Vale lembrar. O deputado Sérgio Murilo era acusado, através de panfletos apócrifos, de ser o autor material de um assassinato. O comando de sua campanha resolveu esclarecer o assunto através do rádio e da TV, dando-lhe a ressonância no eleitorado que os panfletos não alcançariam, um golpe decisivo na candidatura do peemedebista.
Como é comum acontecer, políticos e marqueteiros fizeram uma leitura equivocada do episódio, concluindo que para vencer quase sempre é necessário atingir o adversário com ataques de natureza pessoal. “Precisamos de um escândalo o de uma denúncia pesada”, dizem quando em dificuldade.
Recentemente vivemos experiências emblemáticas, nesse sentido. Na campanha de 2000, no Recife e em Olinda, João Paulo e Luciana Santos foram duramente atacados (pelas campanhas de Roberto Magalhães e Jacilda Urquiza, respectivamente), embora sobre ambos nada houvesse, como não há até hoje, que pudesse suscitar dúvidas. Também na última campanha para governador Humberto Costa foi impecavelmente atacado por causa de um inquérito policial tendencioso a propósito de sua passagem pelo ministério da Saúde.
Os que agrediram perderam as eleições. Mas a tese de que a lama e o sangue são armas poderosas continua em vigor. Questão de DNA de quem assim procede.
Na campanha que se iniciará em julho temos tudo para promover um debate esclarecedor e dar o bom exemplo do respeito às diferenças, propiciando que o eleitor julgue o perfil, a história de lutas e as propostas de cada candidato e assim faça a sua escolha livremente.
Nada justifica a agressão pessoal. Paulo Freire dizia: “Se tu diferes de mim, me enriqueces.” Que assim seja.
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