No Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online):
A política levada a sério
Luciano Siqueira
A política é a face institucional da vida como ela é, costumamos comentar toda vez que diante de situações complexas as pessoas reclamam soluções simples e imediatas. No cotidiano de nossas vidas, tenhamos ou não consciência disso, a todo instante é preciso fazer escolhas ou tomar decisões levando em conta uma gama de variáveis - freqüentemente sob a tensão da dúvida ou sob a pressão de ambiente hostil. Mais ainda quando a decisão não é individual, é de responsabilidade coletiva.
É o que se passou na última sexta-feira, 20, quando o PCdoB anunciou a retirada da candidatura própria a prefeito do Recife. A decisão culminou exatos doze meses de debates nas esferas partidárias e na sociedade e foi precedida de intensos diálogos desde a última semana de maio. Sempre com muito critério e espírito público, jamais priorizando o interesse estritamente partidário.
Assim, em que pese reafirmar a justeza e a oportunidade do rumo tático que vinha defendendo – a opção de mais de uma candidatura do campo governista – o Partido reconheceu a inconveniência de seguir adiante devido ao ambiente político adverso consumado nas duas semanas antecedentes – aqui e em plano nacional.
Recife é uma das capitais mais importantes do país e é o centro político de Pernambuco. Passou a figurar como fato destoante tendo em vista os esforços das direções nacionais do PCdoB, PT, PSB e PDT, dentre outros, em conjunto com o presidente Lula, no sentido de convergir energias em favor dos candidatos que em cada cidade vinham reunindo mais força em torno de si – a exemplo de Edvaldo Nogueira (PCdoB), em Aracaju, Marta Suplicy (PT) em São Paulo e de muitas outras cidade importantes.
Também a permanência da candidatura do PCdoB no Recife passou a destoar da convergência alcançada na maioria dos municípios da Região Metropolitana e das cidades-pólo das microrregiões interioranas do nosso estado.
Na política, como na vida, não bastam boas e corretas intenções; é preciso que sejam reconhecidas como benéficas e aceitáveis. Daí a contradição entre a convicção e o desejo de permanecer com a candidatura e a impossibilidade de seguir em frente em ambiente desfavorável e propício a incompreensões que, prevalecendo, poderiam destruir toda uma construção feita de modo paciente, sincero e conseqüente durante doze meses.
Resta agora a esperança de sermos compreendidos pelos inúmeros círculos de amigos que por muitas formas vinham manifestando solidariedade e apoio ao nosso projeto, para que não nos dispersemos e, dentro das condições possíveis, possamos prosseguir na abordagem dos desafios e possibilidades de nossa cidade. Afinal, saímos da disputa, mas não arriamos nossas bandeiras.
Em que pese as razões do PCdoB, concluo que não haverá alternativa à hegemonia do PT no campo das esquerdas. Acreditava que havia chegado a hora do PCdoB se colocar como alternativa a esta hegemonia e que os militantes, temperados na luta durante os períodos adversos de sua história, não mediriam esforços para se posicionar como tal. Pensei que o PCdoB faria aquilo que o PT fez há vinte anos, entraria na disputa para forjar a imagem de partido viável e sem medo dos grandes e poderosos. Qualquer razão de força maior invocada agora pelo partido, não afasta essa sensação de que se abdicou de lutar por isso, mesmo diante das adversidades. Lamento que o partido não tenha tido a gana que achei que teria e percebo no discurso de agora, para fazer a analogia preferida do presidente, um não-sei-quê de Náutico, que nas horas de decisão se acovarda e perde jogos muitas vezes já ganhos. Resta-me desejar boa sorte, mas registro que a decisão tomada me afasta da posição de simpatizante que estava disposto a abraçar.
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