Nem tanto o mar, nem tanto a terra
Luciano Siqueira
Imagine uma situação em que praticamente toda a mão de obra disponível, a capacidade de investimento e a matéria prima e insumos sejam totalmente utilizados. É o que os especialistas chamam de pleno emprego. Estamos perto disso? Tem gente que acha que sim, tem gente que não.
Os que avaliam que estamos próximos do estado de pleno emprego nutrem, obviamente, um otimismo incontido acerca da retomada do crescimento econômico ora em curso.
Os que pensam o contrário desconfiam da consistência dos índices atuais e da capacidade do país mantê-los.
Diz-se, por exemplo, que a nossa economia estaria num patamar superior ao seu potencial. Como assim? A utilização da capacidade instalada da indústria se aproxima do seu teto máximo, as atividades econômicas em geral se aceleram e cai rapidamente o desemprego – tudo sob o efeito direto dos investimentos estatais em serviços públicos essenciais e em infra-estrutura.
De fato, em maio, a taxa de desocupação ficou em 7,9%, o menor nível para esse mês desde 2002, desde quando houve alteração na metodologia na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Ou seja: estamos próximos de alcançar a chamada "taxa natural de desemprego", que varia entre 7,4% e 8,5%, compatível com índices inflacionários suportáveis.
Ponto para quem acha que estamos nos aproximando do pleno emprego.
Mas não é certo que esse ritmo se mantenha de agora em diante. Primeiro porque já se prevê uma desaceleração do crescimento da taxa de ocupação verificada em maio (4,6% em relação ao mesmo mês em 2007) nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Segundo, porque o governo Lula ainda não conseguiu adotar uma efetiva política de desenvolvimento acelerado. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) está longe disso, embora ajude.
É aí que têm voz os que discordam de que estejamos próximo ao pleno emprego. Seus argumentos são sérios. O governo ainda não tem o controle direto dos fluxos de capital de curto prazo e o câmbio flutuante torna temerária toda tentativa de redução drástica dos juros (poderia provocar uma fuga de capitais). Nem dá sinais de que vá agir sobre esses dois fatores agora. Ou, melhor dizendo, se mantém numa postura conservadora, prisioneira dos condicionantes macroeconômicos neoliberais que herdou de FHC.
Que os economistas polemizem, tudo bem. A nós outros, simples mortais, cabe acompanhar os fatos (e os índices) com atenção, sem economizar otimismo nem tampouco abrir mão da velha e sábia cautela. Nem tanto o mar, nem tanto a terra.
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