Protesto justo e oportuno
Luciano Siqueira
Desde as lides estudantis dos anos sessenta, aprendemos que não basta uma proposta ser justa; é preciso sempre perguntar se é oportuna e factível. Tão desastrado quanto levantar uma bandeira incorreta é guerrear em momento impróprio e sob circunstâncias adversas: o fracasso inevitável torna as coisas muito mais difíceis na continuidade.
Não é caso da mobilização dos trabalhadores convocada para o dia de hoje pelas centrais sindicais contra a política de juros altos, em São Paulo. O ato acontece precisamente no momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará a decisão de sua reunião para definir a taxa básica de juros, a Selic.
Tudo indica que o Copom optará por novo aumento, ou seja, o governo seguirá contendo o crescimento da economia como modo de deter a ameaça inflacionária. Para prejuízo dos empreendedores que apostam na produção e dos trabalhadores que desejam manter e ampliar empregos.
Como se sabe, a Selic é a taxa de juros média que incide sobre os financiamentos diários com prazo de um dia útil (overnight), lastreados por títulos públicos registrados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic). Definida a taxa Selic, a mesa de operações do mercado aberto do Banco Central procura manter a taxa diária próxima à meta.
Na prática, ao aumento da taxa Selic combinado com superávits fiscais elevados e uma política cambial nociva às exportações significa obstáculo à possibilidade do país confirmar um ciclo de crescimento estável e duradouro. E tem um risco – o de voltarmos à perniciosa equação crescimento-contração e estagnação. Péssimo para todos, bom apenas para banqueiros e especuladores que aferem tremendos lucros.
Vale anotar que nessa matéria o governo trabalha com distintos conceitos e avaliações – o do presidente Lula, que prefere a cautela conservadora; e o do vice-presidente José Alencar, contrário à política de juros elevados, que sustenta a tese de que a ameaça inflacionária não é de demanda, mas decorrente de variáveis de natureza externa, como a queda do dólar, a alta dos preços do petróleo e dos alimentos.
Pela percepção de Alencar e analistas adeptos do desenvolvimentismo, melhor seria se apostássemos no incremento da produção, utilizando todo nosso potencial produtivo e de mercado.
Infelizmente, o protesto da centrais sindicais – justo e oportuno – ainda ecoa pouco na consciência da sociedade brasileira.
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