A persistência de um equívoco
Por Luciano Siqueira*
O equívoco é prosseguir enfrentando o chamado crime organizado através da força bruta, com confronto direto e - incrível! – desigual e desfavorável, do ponto de vista bélico e operacional, às forças policiais. É o que ocorre nas zonas conflagradas do Rio de Janeiro e se repete, guardadas as peculiaridades locais, em outras grandes e médias cidades do país.
De quem é o equívoco? Dos governos que insistem no falso caminho, da mídia que aborda os eventos criminais de maneira espetacularizada e de parcelas expressivas da opinião pública, que por conseqüência, assim pede.
Episódios dolorosos como o que vitimou o garoto João Roberto, de três anos, domingo, no Rio, quando o veículo em que trafegava com a mãe e um irmão de 9 meses, foi brutalmente alvejado por policiais militares que supostamente perseguiam criminosos, são decorrência natural desse equívoco.
O protesto do pai do garoto, em desespero, é por si mesmo revelador. “Eu sou taxista, saio aos domingos para juntar um dinheiro para fazer a festa do meu filho. Eu nunca ia imaginar que eles iam executar minha família. Um carro preto passou pela minha mulher a 'mil' quilômetros por hora, ela encostou o carro como qualquer um faria para dar a vez à policia, (mas) eles não seguiram o carro, eles pararam, fecharam a minha mulher e metralharam o carro, com uma mulher e duas crianças. Minha mulher jogou a bolsa da criança pela janela para sinalizar que havia criança no carro, mas não adiantou. Ela então saiu do carro, desesperada, se colocou entre os tiros e está cheia de estilhaços. Eu não pago os meus impostos para virem executar a minha família.”
Ninguém pode se opor à repressão ao crime. Mas a ações repressivas devem se apoiar na inteligência e dialogarem com a prevenção. Este é um dos pressupostos fundamentais do SUSP – Sistema Único de Segurança Pública – que a duras penas o governo federal vem tentando implantar desde 2003, e do qual o Pronaci - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – pretende ser a expressão atual.
O Pronaci busca justamente o enfrentamento à criminalidade no país articulando políticas de segurança com ações sociais; priorizando a prevenção e agindo sobre as causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de ordenamento social e segurança pública. O inverso do praticado domingo no Rio de Janeiro.
Nunca é demais repetir: as políticas públicas devem ser constantemente reavaliadas frente às experiências vividas e às necessidades e expectativas da sociedade. Em matéria de segurança, a distância entre a teoria e a prática ainda é imensa; e proporcional à força com que ainda prevalecem velhos e ultrapassados conceitos.
*Vice-prefeito do Recife, escreve para o Blog às quartas.
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