Razão e emoção na reta final
Luciano Siqueira
Estamos chegando à reta derradeira da batalha eleitoral. Coincidem, agora, um maior interesse da população em relação à peleja e o acirramento do conflito entre as partes litigantes. Todas as cartas à mesa é a palavra de ordem dos que se encontram em inferioridade, assim como dos que desejam consolidar a possibilidade de êxito.
É nessa hora que entra em cena o dado emoção. Por mais morna que seja a campanha – e parece predominar, nas ruas, uma relativa apatia decorrente da transferência gradativa do palco da luta para os meios eletrônicos, a TV em especial -, cumpre alimentar o entusiasmo e a disposição de luta do “exército” de cada um. Sob qualquer argumento ou artifício.
Afinal, conhecida é a tese de Clausewitz, grande estudioso da guerra clássica, de que muitos exércitos naufragaram porque seus generais se descuidaram de proclamar a vitória numa batalha, permitindo que a moral da tropa arrefecesse tendo em vista a batalha seguinte. Portanto, sempre é necessário manter a fronte erguida – mesmo quando o desenrolar da disputa não parece favorável; mesmo quando a correlação de forças teima em permanecer adversa.
A pesquisa Ibope divulgada no sábado passado acerca das tendências do eleitorado nas principais capitais do país forneceu argumentos para a tentativa de manter a chama acesa entre as forças em desvantagem – no caso específico, coligações comandadas pelos principais partidos de oposição ao governo Lula, o PSDB e o DEM. Cá na província, então, a coisa ultrapassa os limites da racionalidade. Jornais locais apontam uma suposta “onda de entusiasmo” pelo simples fato de que, no Recife, o candidato João da Costa (PT e mais quinze partidos, inclusive o PCdoB) repetiu o mesmo índice da pesquisa anterior, embora os oposicionistas não tenham crescido. Entusiasmo de quem? Onde? Dos marqueteiros e dirigentes de campanha, em seus gabinetes e nas páginas dos jornais. Só.
Ora, se a tendência objetiva não se inverteu, ao contrário, se manteve, resta artificializar a leitura da pesquisa para tentar a tão aspirada e aparentemente impossível reviravolta. Mas o buraco é mais embaixo. Emoção não brota do nada, nem prospera tão somente por truques de mídia.
Senhores marqueteiros e manobreiros da mídia, as emoções dão cor à vida e se apóiam na realidade concreta. Fora disso, são passageiras e não mudam o curso dos acontecimentos. Inclusive na pugna eleitoral.
A luta por cada voto, até o último momento, se faz necessária. Desanimar e aceitar a derrota por antecipação não pode fazer parte de quem está no meio político, ou querendo entrar nele. Políticos devem ser sempre atuantes, independentemente dos resultados das urnas.
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