19 dezembro 2008

Bom dia, Carlos Drummond de Andrade

Lira romantiquinha

Por que me trancas
o rosto e o sorriso
e assim me arrancas
do paraíso?

Por que não queres
deixando o alarme
(ai, Deus: mulheres)
acarinhar-me?

Por que cultivas
as sem-perfume
e agressivas
flores do ciúme?

Acaso ignoras
que te amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?

Visto que em suma
é todo teu,
de mais nenhuma
o peito meu?

Anjo sem fé
nas minhas juras
porque é que é
que me angusturas?

Minh'alma chove
frio e tristinho
não te comove
este versinho?

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