22 dezembro 2008

Opinião pessoal de Sérgio Augusto

É hora de cautela em nome da análise científica
Sérgio Augusto Silveira*
sergioaugusto_s@yahoo.com.br

Está havendo uma tempestade de opiniões, afirmações convictas de que o sistema capitalista está passando, agora, pela sua crise maior da História. Mais aguda que a eclodida em 1929, ou seja, há 78 anos passados. Essa tempestade, envolvendo os nomes mais respeitados na área da economia e política, tem por base uma consideração importante: hoje, mundialmente, as cifras e nível de especulação financeira são muitíssimo maiores do que as que envolveram a crise de 1929. Hoje a árvore é muito maior do que em priscas eras e, portanto, a queda está sendo muito maior e mais barulhenta. Onde escrevi árvore, leia-se capitalismo.

Daí o alvoroço e as múltiplas afirmações de que o apocalipse chegou e que, desta vez, se confirmará a previsão de Marx quanto às crises cíclicas do sistema vigente. E que esta vai ser, mesmo, da bubônica.

Os mais cautelosos preferem lembrar, não de Marx, mas das idéias centrais de uma escola desenvolvida nos Estados Unidos, pela qual a ordem econômica e social não pode prescindir da intervenção do estado, aqui, ali, acolá para garantir a ordem econômica. Ou seja, o pensamento de Mainard Keynes, formulado naquele momento em que parecia que o mundo ia se acabar, há 78 anos.

Quanto às interpretações mais radicais, convém lançar sobre elas a seguinte questão: será que a “programação” das crises do sistema econômico capitalista deva ser tão automática assim? O que houve que esse sistema não foi varrido das economias depois de 1929, quando o sistema socialista se consolidava no leste europeu? Haja capacidade de se autotransformar!

É justamente por essa via interpretativa que imaginamos venha a ser, a atual crise, melhor avaliada, para não cairmos na armadilha do discurso meramente político nesse instante. A complexidade do quadro econômico e político em que vivemos, neste início de novo século e novo milênio, nos impede de simplificar o raciocínio e fugirmos de uma avaliação científica – portanto, de uma avaliação conseqüente do que se passa no mundo.

Diante das quedas espetaculares das bolsas, das perdas trilionárias dos gigantes da economia mundial e da mobilização de fortunas incalculáveis de governos em favor dos grupos poderosos e periclitantes, quem vem dando uma demonstração de serenidade e cuidado nas avaliações e atitudes é o governo brasileiro. Essa fase crítica não está sendo capaz de colocar em campos opostos o governo Lula e o empresariado brasileiro. O que aí impera é a cautela e não o confronto.

Estamos passando por uma fase de longa e acurada observação do que ocorre. O início do próximo ano fornecerá mais elementos para que se possa aferir o tamanho e a influência deste chilique mundial na ordem econômica e saber se o palácio capitalista – concentrador e especulativo – está mesmo indo para o abismo.
* Jornalista

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