No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
As Diretas Já
No dia 26 de abril comemora-se o momento decisivo de uma das mais importantes batalhas políticas travadas pela nação em toda a sua História, a memorável campanha pelas Diretas Já, que mobilizou, há 25 anos, dezenas de milhões de brasileiros em extraordinários comícios por todo o território nacional e iniciou a derrocada do regime ditatorial no país.
Bem mais que isso, unificou em torno da causa democrática a consciência nacional, que expressou a sua voz nas ruas, nas fábricas, nas redações dos jornais e de todas as mídias da época, nos sindicatos, nas igrejas, nas universidades, em todas as organizações representativas da sociedade.
Quando se fala desse embate do povo brasileiro, fica a imagem do seu resultado em termos de mobilização, mas em geral pouco se comenta sobre a luta de idéias que foi travada no interior dos mais diversos setores sociais e de classes, entre uma maioria sensível ao futuro do país, contra segmentos minoritários, porém atuantes em certas camadas dos trabalhadores e também nas áreas mais conservadoras do país.
O que havia em comum entre duas correntes aparentemente tão distintas e antípodas era o fato de que ambas possuíam, e ainda adotam, concepções estratégicas e táticas contrárias ao projeto de união geral em torno de caminhos de progresso efetivo para o Brasil.
Os conservadores radicais porque desejavam a permanência dos privilégios de todos os tipos, auferidos durante os vinte e um anos de regime de exceção, uma espécie de contrato unilateral, sem a presença do povo.
Os ultra-esquerdistas, através de uma miopia ideológica, um marxismo esquemático, abstraídos da realidade, defendiam uma linha cujo eixo principal não era a vontade da nação, mas escaramuças de classes que dividiriam a unidade da sociedade majoritariamente contra o arbítrio, comprometendo o movimento, e em conseqüência permaneceria a ditadura. Foram derrotados.
Essa grande luta de idéias entre a centralidade da “União do Povo brasileiro contra o arbítrio” ou a sua dispersão, justificada por uma pretensa e artificial hegemonia do proletariado, sem base na realidade, surgiu também em outros momentos decisivos, como na campanha da Anistia, e na Aliança Democrática, com Tancredo Neves à Presidência através do Colégio Eleitoral.
Os extremos opostos se atraíram e felizmente não lograram êxito. Mas a verdade é que essa contenda entre as lutas gerais que unificam a nação e a fragmentação das lutas sociais estará sempre presente na História do Brasil.
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