02 abril 2009

Opinião de Sérgio Augusto

Cena perfeita da tolerância democrática
Sérgio Augusto Silveira*
sergioaugusto_s@yahoo.com.br

A passagem dos 87 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil (PcdoB), no dia 25 último, produziu uma cena perfeita do que é a convivência democrática harmoniosa, fruto dos mais de 20 anos de restauração do Estado de Direito no Brasil. O local desta cena, que merece ser lembrada, não foi nenhum palácio brasiliense.

Aconteceu no plenário da Câmara Municipal do Recife, sob inspiração da frase do filósofo iluminista francês Jean Jacques Rousseau: “Posso até discordar do que você está dizendo, mas é meu dever lutar até o fim pelo direito de você se expressar”.

Quem protagonizou a dita cena democrática, em determinado momento da sessão solene que homenageou o PC do B no dia seguinte, não foi nenhum esquerdista, mas sim a líder oposicionista e presidente local do Partido Democratas (DEM), vereadora Priscila Krause; em seguida apoiada por outras da “bancada” feminina, Aline Mariano e Marília Arraes.

Inspirada naquela frase do iluminista, Priscila fez questão de fazer um aparte ao longo discurso do vereador e integrante da nacional comunista, Luciano Siqueira, para garantir que não há como não respeitar este partido, que contribuiu para a firmeza dos princípios e valores democráticos. “Isso nos dá, hoje a tranqüilidade para nos juntarmos ao PCdoB na celebração desta data, fazendo isso como amiga do partido, mesmo com nossas diferenças ideológicas”.

Vejam só o quanto foi superada neste país a intolerância política, passados 45 anos do golpe militar e completados 20 anos do fim da bipolarização ideológica no mundo. Sobraram somente os confrontos eleitorais sazonais com aquelas brigas manjadas.

Como se estivesse em dueto com a líder do ex-PFL, o comunista histórico Luciano Siqueira foi enfático e claríssimo: “Jamais nós, do PCdoB, temos a presunção de sermos superiores aos demais partidos. Nossa missão é cumprir o princípio marxista no sentido de que lutamos pelos direitos e pelo progresso, ao lado de outras agremiações com isso comprometidas”. E, em seguida, colocou a coroa de ouro no auge da cena de tolerância democrática ao lembrar que há décadas sua agremiação abandonou para sempre a idéia de que um modelo único devia ser imposto a países diversos, livrando-se dos dogmatismos.

Livrou-se dessas amarras e construiu seu pensamento próprio, brasileiro. É essa revolução um dos fatos novos menos comentados, menos analisados pelos que fazem a comunicação social no Brasil, injustamente. Ao completar seus 87 anos de vida, o PCdoB merece ser visto também por este ângulo, o da tolerância e pluralidade.
* Jornalista

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