Folha de S. Paulo:
Tucanos na parede
Fernando de Barros e Silva
SÃO PAULO - Há imagens que iluminam, numa espécie de síntese instantânea, determinado momento histórico. É o caso da que foi registrada pelo fotógrafo Apu Gomes durante o jantar comemorativo dos 21 anos do PSDB, na edição da Folha na última quarta (veja em www.folha.com.br/091571).
Em primeiro plano, separados por uma cadeira vazia na mesa de jantar, Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin estão alertas, como se fossem os guardas da cidadela em disputa: quem ocupará o Bandeirantes depois de 2010 -Alckmin ou Kassab/Aloysio Nunes Ferreira?
Mais atrás, em segundo plano, Andrea Matarazzo, o mordomo-geral dos governos tucanos, aparece em pose contemplativa: cotovelo sobre a mesa, cabeça levemente inclinada, a mão apoiando o queixo. Será esse um retrato da capacidade de reflexão que restou aos tucanos?
Há outros personagens, entre os quais um prosaico José Aníbal, líder do partido na Câmara, ao lado, mas em espírito a léguas de distância da estrela maior da festa, o governador José Serra.
Embora a mesa seja redonda, o ângulo da imagem projeta a figura de um chefe diminuto numa cabeceira imaginária. Serra está lá, mas não está -é o que diz a expressão de seu rosto. A mistura de tédio, constrangimento e desamparo fica acentuada pela sorridente senadora Marisa Serrano, à sua direita.
A noite era de festa, mas, conforme o relato da repórter Catia Seabra, a maioridade tucana deu ocasião para insatisfações e cobranças: do PSDB a Serra, pela indefinição da candidatura presidencial; e de Serra ao PSDB, pela desorganização e incapacidade de articulação do partido. Ambos, no caso, estão cheios de razão.
Serra a certa altura citou Lênin, recomendando "paciência e ironia" nessa hora política, como quem diz que muita água ainda vai rolar. Na verdade, nem ele nem os tucanos parecem saber formular a resposta: diante da onda Lula -"o que fazer?"
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